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Paulo Moreira Leite

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Aylan, 3 anos, afogou-se num oceano de hipocrisia

"A guerra civil da Síria – de onde a família de Aylan tentava escapar, numa fuga aonde também pereceram a mãe e um irmão do menino – é resultado direto de uma ação militar iniciada em 2011, pelo governo dos Estados Unidos. A operação fez parte do esforço de Washington para derrubar a ditadura de Bashar Al Assad, derrotar seus aliados russos e chineses, e tomar posse, entre outras coisas,  de reservas estimadas em trilhões de barris de gás e petróleo", diz Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; "A imagem de um menino morto, de pernas brancas, magras e finas, sendo transportado por um policial, comove e dói. Mas vamos combinar que a hipocrisia também machuca", afirma; leia a íntegra

"A guerra civil da Síria – de onde a família de Aylan tentava escapar, numa fuga aonde também pereceram a mãe e um irmão do menino – é resultado direto de uma ação militar iniciada em 2011, pelo governo dos Estados Unidos. A operação fez parte do esforço de Washington para derrubar a ditadura de Bashar Al Assad, derrotar seus aliados russos e chineses, e tomar posse, entre outras coisas,  de reservas estimadas em trilhões de barris de gás e petróleo", diz Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; "A imagem de um menino morto, de pernas brancas, magras e finas, sendo transportado por um policial, comove e dói. Mas vamos combinar que a hipocrisia também machuca", afirma; leia a íntegra (Foto: Paulo Moreira Leite)
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    Pessoas honestamente comovidas com a imagem de Aylan Shenu, 3 anos, o menino  que morreu afogado quando sua família tentava fugir da guerra civil da Síria para chegar a costa da Turquia,  devem precaver-se contra a torrente de explicações místicas, fatalismos históricos e outras falsificações típicas dessas horas.

    Quando as responsabilidades por uma tragédia vergonhosa e colossal estão aí, à vista de todos, nada mais conveniente do que procurar argumentos irracionais e obscuros para aquilo que se define com o maior colapso humanitário depois da Segunda Guerra Mundial.  

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   A guerra civil da Síria – de onde a família de Aylan tentava escapar, numa fuga aonde também pereceram a mãe e um irmão do menino – é resultado direto de uma ação militar iniciada em 2011, pelo governo dos Estados Unidos. A operação fez parte do esforço de Washington para derrubar a ditadura de Bashar Al Assad, derrotar seus aliados russos e chineses, e tomar posse, entre outras coisas,  de reservas estimadas em trilhões de barris de gás e petróleo. 

  Escrevendo numa conjuntura anterior aos acordos entre Teerã e Washington sobre o programa nucelar do Irã, o diplomata Luiz Alberto Moniz Bandeira explicou  que "a  queda do regime sírio permitiria suprimir a presença da Rússia, onde ela mantém duas bases navais, cortar as vias de suprimento de armas para as organizações pró-xiitas  Hisbollah, no Líbano, e Hamas, na Palestina, conter o avanço da China sobre as fontes de petróleo, isolar completamente e estrangular o Irã."  Para Moniz Bandeira, o resultado dessa intervenção seria o estabelecimento de uma situação de controle, por parte dos Estados Unidos e de seus aliados europeus, de toda área do Mediterrâneo, revertendo uma situação que se modificou com as revoltas coloniais do século XX.

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    Sustentando uma unidade de adversários de Assad que incluem mercenários e terroristas, até hoje os EUA Unidos mantém uma guerra que dificilmente poderá ser vencida, mas da qual não podem se retirar sob o risco de um vexame . Isso explica o morticínio gradual, que aos poucos inviabiliza o país, do qual a família Shenu procurava escapar de qualquer maneira.  

   Motivo de indignação internacional dias depois de uma tragédia igualmente vergonhosa -- a morte por sufocamento de 71 imigrantes eslovacos no interior de um caminhão frigorífico no interior da Áustria -- a imagem de Aylan Shenu provocou uma reação de Ângela Merkel, a chanceler alemã. "Se a Europa falhar na questão dos refugiados, essa não será a Europa que sonhamos," disse ela.

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    Para sair do sonho para a realidade, no entanto, não bastam medidas de caráter humanitário, por mais que sejam inteiramente justificáveis diante da situação. Não se vislumbra o que a União Europeia possa fazer a caminho de uma solução ampla e duradoura – sem colocar em questão sua política econômica de austeridade, crescimento baixo, desemprego alto.

    Hoje, 26,5 milhões de europeus estão desempregados, numa taxa média que bateu em 9,6% em abril, contra 5,4% nos Estados Unidos. Na Espanha, o desemprego é de 22,5% e passou de 10% na França. Localizado na região geográfica que abriga o maior PIB e o maior mercado consumidor do planeta, o colapso europeu explica a dificuldade política para se tomar, de uma hora para outra, qualquer medida que possa ser interpretada como excessivamente generosa em relação a estrangeiros – a menos que venham a ser  acompanhadas de medidas de estímulo ao crescimento capazes de responder também às necessidades dos próprios europeus.

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    É uma hipótese tão remota que sequer se especula a respeito – como se comprovou com o castigo imposto ao primeiro-ministro Alexis Tsripas (25% de desemprego) forçado a abandonar qualquer Europa com a qual havia sonhado diante da intransigência de Angela Merkel.

   A imagem de um menino morto, de pernas brancas, magras e finas, sendo transportado por um policial, comove e dói.

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   Mas vamos combinar que a hipocrisia também machuca.

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