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Paulo Moreira Leite

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Banalidade do mal no Senado

"Nula no mérito e abusiva no procedimento, a acusação contra Dilma, aprovada na Comissão Especial do Impeachment, não reflete as explicações de testemunhas nem os dados apresentados pelos peritos", escreve Paulo Moreira Leite; "O crime cometido esta manhã no Senado representa um ataque – burocrático e irresponsável – à democracia brasileira. Em nome do respeito à verdade, os senadores aliados de Michel Temer só precisariam recordar as palavras inesquecíveis de sua líder Rose de Freitas (“é tudo política”) para reconhecer que pronunciavam fantasias, fabulações e invenções para aparentar que nada mais faziam do que encaminhar um golpe de Estado", completa o jornalista; para ele, os votos de hoje pelo impeachment "contribuíram para apequenar as instituições democráticas"

Banalidade do mal no Senado (Foto: Edilson Rodrigues)
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É preciso retornar a um dos períodos mais deprimentes da história humana, o julgamento do carrasco nazista Otto Adolf Eichmann, em Jerusalém, em 1960, para entender a decisão da Comissão Especial do Impeachment que deu sequência ao julgamento de Dilma Rousseff no Senado.

A acusação contra Dilma é nula no mérito e abusiva como procedimento. Se a única base para a denúncia eram crimes de responsabilidade, essa acusação nunca foi demonstrada. A votação, definida desde o início, não expressa fatos nem provas. Tampouco traduz o conteúdo dos debates, os argumentos das partes, a opinião dos peritos. Foi uma demonstração de truculência e força bruta. Expressa a relação de forças entre partidos no Congresso. E só. É política, e não jurídica, quando deveria ser o contrário.   

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Ao longo dos trabalhos da Comissão, testemunhas deixaram claro que o governo realizou não só operações contábeis banais e corriqueiras, efetuadas por todos os antecessores porque não representam prejuízo aos cofres públicos nem envolviam qualquer tipo de ilegalidade. Apenas alteravam a distribuição interna de recursos, sem modificar os números finais, aqueles que registram o déficit fiscal. Estavam inteiramente de acordo com a legislação em vigor, no momento em que ocorreram.

A incapacidade de caracterizar um crime explica o uso frequente de uma expressão criada por jornalistas, “pedaladas”, destinada a sugerir aquilo que não se consegue demonstrar.

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A fragilidade é tão grande que, no momento máximo de vexame, o Ministério Público Federal reconheceu que não constituíam crime.    

Construído por Hanna Arendt, a filósofa que estudou o nascimento das piores tiranias do século passado, a ideia da banalidade do mal ajuda a entender que crimes políticos podem ser cometidos num ritual burocrático, imperceptível, automático, de olhos fechados.

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Principal responsável pela máquina de morte de Auschwitz, Eichmann disse em seu julgamento que não tinha nada de “pessoal” contra os judeus que pereciam sob seu comando -- aos milhões. Apenas queria – sem assumir qualquer responsabilidade -- fazer seu serviço profissional, burocrático. Não há remorso nem culpa.

O crime cometido esta manhã no Senado representa um ataque – burocrático e irresponsável – à democracia brasileira. Em nome do respeito à verdade, os senadores aliados de Michel Temer só precisariam recordar as palavras inesquecíveis de sua líder Rose de Freitas (“é tudo política”) para reconhecer que pronunciavam fantasias, fabulações e invenções para esconder que nada mais faziam do que encaminhar um golpe de Estado.

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Não é uma decisão definitiva nem é uma surpresa. Mas os votos pelo impeachment contribuíram para apequenar as instituições democráticas, condenando, sem prova, o mandato de uma presidente eleita por mais de 54 milhões de brasileiras. 

Cedo ou tarde, serão chamados a explicar-se por isso. É a condenação inevitável daqueles que traem a democracia. Até por uma questão de respeito, contudo, recomenda-se que não exagerem em explicações nem desculpas lacrimosas.

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