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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

202 artigos

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Barbas de molho

A alternância do poder, norma do sistema democrático, traz sem dúvida, às vezes, forte alívio – e tensões, quando o que sai, resiste e não quer deixar as funções. É o caso de Donald Trump na Casa Branca.

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A alternância do poder, norma do sistema democrático, traz sem dúvida, às vezes, forte alívio – e tensões, quando o que sai, resiste e não quer deixar as funções. É o caso de Donald Trump na Casa Branca. Ele gostou de morar ali e se envaideceu, sempre sob os holofotes, apesar de, com frequência, encenando um papel lamentável. Parece, neste ponto, com o similar brasileiro, o Jair Bolsonaro. A despeito da disputa voto a voto, por força dos métodos adotados nos Estados Unidos, a vitória de John Biden revelou-se incontestável. Este ainda lhe fez um aceno no sentido de, terminadas as divisões, unirem-se todos, como norte-americanos, numa causa comum. Não adiantou. O outro insistiu em fraude, tese afinal não confirmada por ninguém, e dá mostras de não ceder. Não aceita mudar de residência. 

O restante do mundo viveu o resultado com alívio. Há quem afirme que Trump ou Biden não passam da mesma fórmula, nada se antecipando, na verdade, como perspectiva de mudança. É uma tese discutível, nem sempre aceita. Afinal, na sua campanha, mobilizando um amplo arco de alianças, da esquerda progressista ao conservadorismo tradicional, alguns compromissos terão de ser respeitados, ao contrário do antecessor, perfeitamente coerente no direitismo atrasado. Ali ninguém disse que a terra era plana. No entanto, como o daqui, afirmou-se que a epidemia de coronavírus se reduzia a um mal menor. Ele se contaminou, igualzinho ao nacional. O país, não demorou muito, surgiu como o campeão mundial da enfermidade e das mortes, quase pau a pau com o que se verifica no Brasil. Isso para não mencionar as manifestações de racismo e as vítimas da polícia, jovens negros, levando multidões às ruas em forma de protesto. O Presidente não se moveu, desejando, visivelmente, fortalecer as repressões. Cresceram comícios diante da sede do governo, em Washington DC. Foi assim que, no melancólico fim de mandato, estampou-se nos lábios de centenas de pessoas, lá, como cá, o “Goodbye, Donald!” – como se já fosse tarde. Alguns políticos abaixo da linha do Equador puseram as barbas de molho. A equipe de Jair Bolsonaro depositara suas fichas na aliança servil ao norte-americano e assiste, com perplexidade e temor, ao desastre de sua derrota. Teme pelas repercussões. No Ministério das Relações Exteriores, onde só se pensava no hemisfério norte, com o sacrifício da China, nosso principal parceiro comercial, fala-se em substituir Ernesto Araújo, o pária dos párias e o credor da estratégia que aos poucos afunda. Eles nunca deram ouvidos aos conselhos de prudência. Uma nação digna, tem de permanecer de cabeça erguida. Não deve dobrar a espinha diante de ninguém, nem do irmão mais próximo, justo o oposto do que aconteceu. A população que não entendia os motivos da reviravolta, de acordo com as tradições da nossa diplomacia, interroga em tom cada vez mais alto, sobre o que realmente haverá. Contudo, não nos iludamos. Abaixar a espinha, uma vez transformado em hábito, se repetirá com este ou com aquele, não obstante o anterior se encaixasse melhor (mesmo com perfeição) na figura. Nossos aduladores deverão afinar as cordas, por via diplomática, e logo se sairão desmoralizados, mas bem. Mesmo assim, antecipam-se dificuldades. Há a causa ambiental que preocupa a Vice Kamala Harris, por força de sua trajetória e sua plataforma sempre presente. Por aqui, no Sul, destruir florestas e transformá-las em pastos gerarão problemas. É bem possível que o nosso Presidente deixe crescer bigode, cavanhaque ou barba. De outro modo, como colocá-los de molho?

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