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Guilherme Coutinho

Jornalista, publicitário e especialista em Direito Público. Autor do blog Nitroglicerina Política

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Black Blocs Clowns – A política por trás do filme O Coringa

O roteiro é primoroso e não esqueceu o conceito mais difundido por Marx e trouxe à tona, em segundo plano, a luta de classes tão presente em nossa história. De Moore a Marx, história e ficção se misturam de forma genial no filme. Realmente imperdível

(Foto: Divulgação)
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Logo no início, do primeiro capítulo, do Manifesto do Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848, consta um dos mais célebres conceitos sobre o comunismo: “ Até hoje, a história de todas as sociedades é a história das lutas de classes“.

Depois do Manifesto, certamente, o mundo não seria o mesmo, ainda que outras obras, como O Capital, também da dupla de filósofos, tenham contribuído de forma contundente nas revoluções socialistas que ocorreram décadas depois, transformando, de forma irreversível, a relação entre meios de produção e da burguesia com o proletariado.

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No filme O Coringa, de Todd Philips, com Joaquin Phoenix, no papel do protagonista, talvez Arthur Fleck fosse mais um anônimo, um excluído da sociedade, em meio `a luta de classes, que aparece como pano de fundo em toda obra. Como milhares de outros menos afortunados, o personagem tem uma precária condição social e uma conjuntura psiquiátrica, que o coloca, diretamente, no lado menos favorecido das classes sociais.

Joaquin Phoenix conduz, de forma genial, diga-se de passagem, o derrotado palhaço, que sonha em ser comediante, em um dos mais enigmáticos, cultuados e psicologicamente complexos personagens da história do cinema. Afinal, pode ser a primeira vez que dois atores são premiados com o Oscar pela interpretação do mesmo personagem (Heath Ledger, levou o prêmio máximo da academia em 2009, interpretando o Coringa em The Dark Knight).  Certamente, o palhaço, muito mais que seu arqui-inimigo Batman, tenha extrapolado o mundo dos quadrinhos para permear, de vez, o mundo da sétima arte.

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O filme se ambienta na cidade fictícia de Gothan City, no início dos anos 1980. Na ocasião, os lixeiros estão em greve, por viverem na miséria, e a população, sobretudo os “menos afortunados”, para usar um termo da própria película, em estado de revolta, não apenas contra o governo, mas, sobretudo, contra a burguesia, em um local com um visível abismo econômico e social.

Para entender a estética do filme, do que não pretendo tratar diretamente nesse texto, é extremamente aconselhável que o expectador tenha lido Alan Moore, o mago dos quadrinhos que, até o momento, criou a história canônica do personagem, no clássico A Piada Mortal -  e visto os filmes dirigidos por Martin Scorsese, que têm o estilo de direção assumidamente tido como referência para O Coringa.  Sobretudo, a direção de Todd Philips, nos remete imediatamente ao filme Taxi Driver, de 1976, estrelado por Robert De Niro, que, com um papel menor, mas com seu habitual brilhantismo, atua como alusão  viva a Scorsese.

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O maior antagonista do Homem-Morcego não é um comunista que pretende liderar uma luta de classes. Aliás, talvez o protagonista seja a mais clara expressão do anarquismo. Mas, ao assassinar 3 milionários no sombrio metrô de Gothan, o palhaço passa a ser considerado, por parte da população, como um vigilante. Um vilão que se transforma em um anti-herói no decorrer do filme. A população, em estado de revolta, começa a ter como referência o palhaço sociopata em seus ideais revolucionários.

“Matem os ricos”, estampa a capa de um jornal no dia subsequente aos assassinatos. E logo a população toma as ruas, com os lemas de “somos todos palhaços” e “morte à burguesia”. A população, que admira o cruel ato do protagonista, não deixa de lembrar, novamente, Alan Moore em uma de suas mais célebres obras, “V de vingança”. O povo mascarado, mas dessa vez com máscaras de palhaço, tomam as ruas, saqueando lojas e enfrentando a polícia, com um ideal por trás de seus atos.

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Impossível não lembrar também da recente história brasileira protagonizada pelos chamados “black blocs”. A população mais pobre, literalmente, pede a cabeça da burguesia, iniciando, talvez sem perceber, uma luta real de classes, com o proletariado à frente das ações. Atos de vandalismo e confrontos com a polícia, nos lembram em muito das cenas que vimos nos jornais, em 2012, no Brasil. Mas em Gothan, o movimento segue até seu final, sem ser capitaneado pela direita ou qualquer movimento político, que não seja a luta contra a burguesia.

O Coringa passa a ser uma referência ainda maior para os palhaços mascarados, que tomam as ruas,  ao assassinar, ao vivo, um famoso apresentador de televisão, que o havia convidado para ser uma bizarra atração de seu programa.  

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Claro que estamos tratando de uma obra de ficção, mas a luta de classes, por trás da história principal, é clara e nítida. Como no Brasil tivemos os mascarados black blocs, Gothan tem uma legião de mascarados, que, sem o maniqueísmo clássico de bem e mal dos filmes baseados em quadrinhos, promove uma violenta revolução social. Naturalmente, o filme recebeu diversas críticas negativas, pela ousadia do roteiro.

O filme, com uma semana após seu lançamento, se tornou sério candidato a ser o melhor filme baseado em HQ da história. Em sua estreia, bateu recorde de bilheteria nos EUA, atingindo US$ 93,5 milhões, segundo a revista Variety. A atuação de Phoenix, uma unanimidade entre os críticos, também entra para história e muda, para sempre, um dos mais complexos personagens do cinema. Por fim, o roteiro  é  primoroso e não esqueceu o conceito mais difundido por Marx e trouxe à tona, em segundo plano, a luta de classes tão presente em nossa história. De Moore a Marx, história e ficção se misturam de forma genial no filme. Realmente imperdível.

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