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Wilson Ramos Filho

Jurista, professor e escritor

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Bolsonaro apresenta níveis incompreensíveis de aprovação

Na terra seca do ministro, se encontram os maiores níveis de aprovação a Bolsonaro. Mais de dois terços dos paranaenses orgulhosamente seguem apoiando Bolsonaro, apesar de tudo, identificam-se com suas propostas. Nos demais Estados, à exceção do nordeste, não é muito diferente

Curitiba (Foto: Curitiba)
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Pesquisas recentes indicam que apesar de seu desastroso governo sob todos os aspectos Bolsonaro apresenta níveis surpreendes de aprovação. Teria inclusive crescido, se verdadeiro o que vem sendo divulgado. Seu mais destacado ministro, o ex-juiz, apesar das revelações de suas relações indecentes com o MPF, continua muito bem avaliado pela população. Em Curitiba não escassearam os adesivos apoiando a Lava-Jato apesar da obscenidade escancarada nas relações peculiares à Direita Concursada.

Na terra seca do ministro, se encontram os maiores níveis de aprovação a Bolsonaro. Mais de dois terços dos paranaenses orgulhosamente seguem apoiando Bolsonaro; apesar de tudo, identificam-se com suas propostas. Nos demais Estados, à exceção do nordeste, não é muito diferente.

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A imagem do Brasil no exterior, todavia, não pode ser pior. Os últimos episódios nas áreas da cultura e do meio-ambiente só pioraram a percepção estrangeira a nosso respeito. O capital internacional simplesmente abandonou a Bolsa de Valores, os fundos de investimento não se sentem seguros em trazer seus dólares para cá.

Ser brasileiro, em passado recente, era motivo de orgulho para quem viajava. Hoje causa vergonha e constrangimento. Do taxista ao garçom, é geral o desprestígio do Brasil no estrangeiro; basta saberem de onde somos, não tardam as apreciações negativas. A perseguição do aparato repressivo ao jornalista Greenwald e ao ex-presidente Lula só piora a imagem dos brasileiros no exterior. Para utilizar ferramentas capitalistas na análise, a marca Brasil está queimada. Dificilmente produtos ou serviços a ela associados obterão o sucesso de outrora para além de nossas fronteiras. Ser brasileiro constitui-se em motivo de profunda vergonha lá fora. Contraditoriamente, essa imagem negativa tem como causa atitudes e posicionamentos dos que se dizem nacionalistas e patriotas e de quem os apoia.

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Quando uma marca é deteriorada, abalada por algum desastre ou pela revelação de escândalos, os publicitários e profissionais do marketing geralmente aconselham a abandoná-la. Recuperar a credibilidade de uma marca “queimada” custa muito mais caro que a criação de outra. No caso de um país isso seria mais difícil, não pode mudar de nome sem piorar ainda mais sua credibilidade. Essa desmoralização internacional, para nosso desalento, está ainda no começo; restam ainda três anos de disparates, pelo menos, se a maluquice não for interrompida. Nossa vergonha só aumentará.

Há alguns anos, sabendo de onde somos, era comum ouvirmos referências positivas, do futebol à erradicação da pobreza, muitas vezes comparando Lula a Mandela. Hoje nos provocam mencionando as babaquices de Neymar, lamentam o governo miliciano qualificado como sendo de “extrema-direita” e raramente escondem sua repulsa a Bolsonaro, comparando-o a Hitler, a Mussolini, a Franco ou a Salazar.

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Do ponto de vista institucional as coisas não estão melhores. O judiciário brasileiro tanto fez que conseguiu se desmoralizar internacionalmente, seja pela utilização da Lawfare contra os inimigos ideológicos de seus integrantes, seja pela seletividade com que estes exercem suas competências e suas soberbas injustificáveis, seja pelas sinecuras que muitos deles ostentam. Mesmo pessoas sem grande formação política e nenhuma formação jurídica dedicam pouco elogiosas referências ao sistema judicial brasileiro. Um fiasco total. Quando conto que parei de advogar e que abandonei o magistério é unânime a reação; todos compreendem perfeitamente minhas decisões, e se solidarizam comigo.

Essa má reputação tem consequências econômicas; já que os fundos capitalistas não gostam de perder credibilidade perante seus investidores preferem aplicar seus recursos onde haja segurança jurídica e previsibilidade nos marcos normativos. Por esta razão principal é que o capital estrangeiro desapareceu da bolsa de São Paulo, não nos iludamos. Com essa equipe econômica e com o judiciário que temos o capital especulativo não retornará tão cedo. Ou seja, nem nas bolsas há razões para otimismo apesar do esforço dos meios de comunicação para gerar expectativas alvissareiras. Quando começar a previsível quebradeira em série o cenário piorará. Esse modelo de gestão econômica que nos flagela é insustentável, todos sabem, embora poucos admitam.

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No plano interno, por outro lado, depois de passados três anos do Golpe e do primeiro ano deste desastroso governo, muitos pequenos e médios negócios fecharam ou estão em vias de encerramento de atividades. Em cada quarteirão central nas cidades com mais de cem mil habitantes a quantidade de locais comerciais para alugar surpreende. A capacidade ociosa das indústrias, com máquinas paradas e se tornando obsoletas, nunca foi tão preocupante. A economia real está derretendo, o comércio não compra da indústria, os consumidores finais desapareceram. Na prestação de serviços o cenário é ainda maior. O desemprego só não está aumentando porque às demissões de quem ainda tinha contratos formais correspondem contratações precárias com salários e direitos reduzidos, acarretando nova compressão da capacidade de consumo.

Pensadores liberais sempre correlacionam sucesso eleitoral e desempenho econômico. A aprovação dos governos seria maior quando a economia prospera. A realidade brasileira atual, contudo, põe em questão esta pré-compreensão, comprovando a importância da dimensão ideológica nos humores eleitorais. As pesquisas continuam atestando aprovação de Bolsonaro e de seus histriônicos ministros mesmo entre os que estão sendo prejudicados pelas políticas governamentais. Há inúmeras propostas de explicação para esta irracionalidade delirante, é verdade, mas o diagnóstico caminha para o consenso de que a vida das pessoas tende a piorar.

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Como sou ignorante não consigo entender como a diminuição planejada da massa salarial, com consequente ampliação da concentração de renda, poderá aquecer a economia. Como sou burro me escapa a compreensão de como o prometido aumento do PIB para majestosos 2% neste ano diminuirá a miséria, a quantidade de pessoas que esmolam, o número dos que vivem nas ruas, sem casa, sem trabalho, sem comida. A reforma trabalhista, diziam, combateria o desemprego e ele aumentou. A reforma previdenciária geraria investimentos, não gerou. Agora apostam nas privatizações. Sabe-se, por experiência da era tucana, que se trata de grossa mistificação. O Estado usará o dinheiro obtido pela venda das estatais e dos recursos naturais para adular a rapinagem internacional.

Onde vivo, as contradições são ainda mais evidentes. Repito: em Curitiba dois em cada três adultos aprovam o governo e defendem a maneira de existir que o bolsonarismo/morismo propõe.

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Uma foto me veio à memória. Justamente em Curitiba, no ano de 1937, milhares de cidadãos saudaram o ideário nazista na praça Tiradentes, em frente à catedral metropolitana. Ao contemplar esta imagem resultou inevitável recordar da Guerra Civil espanhola, das falanges cristãs, e do Generalíssimo Franco, “caudillo de España por la gracia de Dios”. Curitiba talvez não tenha mudado tanto assim, o que não chegaria a surpreender.

Como ando meio azedo essa imagem me remete a indesejados territórios da memória e a uma ligeira impaciência quando me deparo com otimismos irracionais que me parecem injustificados. Sinto vontade de reler García Lorca pensando na árida realidade brasileira atual:

“Terra seca

Terra seca
terra quieta
de noites
imensas.
(Vento na oliveira,
vento na serra.)

Terra
velha
do candil
e da pena.
Terra
das fundas cisternas.

Terra
da morte sem olhos
e as flechas.
(Vento dos caminhos.
Brisa nas alamedas.)”

A imensa noite do franquismo demorou quarenta anos. As trevas da ditadura militar brasileira tardaram a metade. Das fundas cisternas da resistência teremos que engendrar a reconstrução, me convenço, apesar do azedume que insiste em nos convidar ao teimoso realismo. E assim vou ficando cada vez mais esquisito, acalantado por raras brisas e chacoalhado pelos furiosos e incontroláveis ventos da insuportável cotidianidade bolsonara.

Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em direito, presidente do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.

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