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Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

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Bolsonaro despreza cultura e debocha de todos

"Não bastasse a tragédia anunciada da queima, na quinta-feira (29/07), de parte do acervo da Cinemateca Brasileira, no sábado (31/07) Jair Bolsonaro desprezou completamente a reinauguração do Museu da Língua Portuguesa", escreve Marcelo Auler

01/06/2021 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Já não há sequer simulação. O próprio capitão/presidente nem se preocupa em tentar esconder o seu desprezo – e, a roldão, também do seu governo – à cultura brasileira. Não bastasse a tragédia anunciada da queima, na quinta-feira (29/07), de parte do acervo da Cinemateca Brasileira, no sábado (31/07) Jair Bolsonaro desprezou completamente a reinauguração do Museu da Língua Portuguesa. Agiu sem qualquer preocupação com questões protocolares/cerimoniais do cargo, na medida em que o evento contou com presença de dois presidentes de nações com a mesma língua: Marcelo Rebelo de Souza, de Portugal e Jorge Carlos Fonseca, de Cabo Verde. Sem falar na presença de ex-presidentes brasileiros, como Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (PMDB).

O despreparado presidente brasileiro – tanto em termos culturais como em termos diplomático – trocou a reinauguração de um templo da nossa língua, destruído em 2015 por um incêndio, por um passeio de motocicleta com algumas dezenas de seguidores fanáticos, em Presidente Prudente, cidade distante 500 quilômetros da capital paulista. Muito provavelmente não foram só as questiúnculas políticas, tais como a presença do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que o afastaram da cerimônia. Talvez seu desprezo decorra da própria falta de preparo cultural que o faz, inclusive, não dominar o idioma pátrio ali reverenciado.

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Um desprezo que, de forma diplomática, foi insinuado, com fina ironia, pelo chefe de estado português, como noticiado pelo O Estado de S. Paulo. Questionado sobre a ausência do presidente brasileiro, Rebelo de Souza alegou poder responder apenas por seu país, mas alfinetou:

Se diz no Minho, que é uma região portuguesa: ‘dança quem está na roda’. Quem está na roda dança. Eu estou nesta roda. Eu estou feliz por estar nesta roda, e por estar nesta dança, porque é uma dança que pensa no futuro, no futuro da língua portuguesa, no futuro de 260 milhões de pessoas. Isso, para mim, é o mais importante.”

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A “roda” que Bolsonaro escolheu não foi a da cultura, mas do fanatismo. Ao convívio com os dois chefes de nações, preferiu a bajulação dos seguidores fanáticos que os reverenciam diante de suas fake news e bravatas em torno do tema preferido no momento: supostas fraudes no sistema eleitoral brasileiro.

Sabia que entre os seus teria o aplauso desejado. Algo que, certamente, não alcançaria se optasse, como Rebelo de Souza e Fonseca, pela “roda” onde dançavam quem “pensa no futuro”.

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Junto aos seus, o capitão/presidente deixou claro que as críticas – até mesmo de aliados – que recebeu a partir de seu falacioso pronunciamento da quinta-feira à noite não foram suficientes para afastá-lo das suas teses fantasiosas de fraude nas eleições. Demonstrou, inclusive, que se enganaram os aliados que previram que o discurso passaria a ser moderado.

Bolsonaro continuará sua catilinária

A desnutrida manifestação bolsonarista na Avenida Paulista neste domingo (01/08)

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Não o fará. Tal como voltou a demonstrar no domingo ao falar a algumas dezenas de manifestantes bolsonaristas que foram às ruas defender as bandeiras do capitão/presidente. Manifestações que, vale registrar, ficaram muito aquém do que estes mesmos grupos já reuniram nos mesmos locais em outros tempos. Ou seja, o próprio público do capitão/presidente parece definhar.

Mas ele prosseguirá com a catilinária. Afinal, com esse discurso, na verdade, Bolsonaro municia-se, antecipadamente, de bandeiras que no futuro poderá usar para justificar a provável rejeição que terá nas urnas. Caso consiga chegar até elas como candidato.

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O risco, porém, será uma possível mobilização de bolsonaristas radicais e armados, oriundos de forças policiais, membros de clubes de tiros, fazendeiros beneficiados por seus decretos ou, simplesmente, os marginais milicianos, com os quais ele e seus filhos sempre tiveram aproximação.

Como bem pontuou Tereza Cruvinel em seu artigo no Brasil247 – Chega de respostas frouxas. Quem pode defenestrar Bolsonaro é o TSE – com esse discurso, Bolsonaro “vai cavando apoio ou simpatia ao golpe que planeja para quando for derrotado, apresentando-se como o coitado que foi vítima da fraude e de um STF que não o deixou governar.”

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Ao trocar uma cerimônia oficial, de interesse da coletividade, por uma indisfarçável campanha eleitoral antecipada com seus seguidores fanáticos, Bolsonaro não apenas demonstrou desprezo à cultura, à diplomacia e aquilo que chamam de “liturgia do cargo”. Como a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) registrou em seu Twitter, a opção pelo “rolezinho de moto no interior paulista” deve ser interpretada como um “deboche do país, da sua gente e da sua cultura”.

Deboche que ele continuará praticando, junto com as fakes news e os ataques às instituições, enquanto estas não o detiverem. E ele jamais será detido apenas e tão somente com discursos e oratórias, por melhores e mais “bólidos” que sejam. Como noticiou Luís Nassif em Amanhã, o discurso de Luiz Fux será um bólido contra Bolsonaro, que acontecerá no pronunciamento do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, na reabertura dos trabalhos do Judiciário, nesta segunda-feira. É preciso mais. Sem fugir à Constituição e ao Estado Democrático de Direito.

O enfrentamento a Bolsonaro e suas ameaças agora está no colo dos outros dois poderes: Judiciário e Legislativo. No Judiciário, como disse Cruvinel, seria suficiente o Tribunal Superior Eleitoral enfrentar os processos abertos – desde 2018 – questionando ilegalidades cometidas pela chapa de Bolsonaro e do general Hamilton Mourão (PRTB). Como s comprovadas fake news, Um processo no qual o tribunal se omite há três anos.

Outra solução é a pressão junto a Arthur Lira (PP-AL) para que ele abra um dos mais de cem pedidos de processos de impeachment protocolados junto à mesa da Câmara. Lira precisa tomar posição, não pode continuar fazendo ouvido mouco ao reclame que hoje é defendido por ampla maioria dos brasileiros. Antes que seja tarde.

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