CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Ricardo Nêggo Tom avatar

Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

191 artigos

blog

Bolsonaro está quase morto, mas ainda não morreu

Lula está na liderança nas pesquisas, mas nada está ganho

(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

As últimas pesquisas apontam uma queda percentual na diferença entre Lula e Bolsonaro. A mais recente, feita pela empresa Paraná Pesquisas no início do mês de março, mostra o petista com 38,9% das intenções de voto, contra 30,9% para o atual presidente. Em fevereiro, uma pesquisa realizada pela Quaest/Genial apontava Lula com 45% e Bolsonaro com 23%. Esses números precisam servir de alerta, não apenas para Lula e o PT, mas, principalmente, para o povo pobre brasileiro. O principal prejudicado pelo neoliberalismo fascista que o atual governo representa.

Não me disponho a fazer aqui uma análise política desse novo cenário eleitoral, pois não é a minha especialidade. Porém, esse mesmo cenário mostra a resistência da estrutura racista e elitizada sob a qual a nossa sociedade está alicerçada desde 1500, apesar da luta progressista para desconstrui-la. Evocando Simone de Beauvoir e Napoleão Bonaparte, ambos franceses, proponho uma reflexão sobre dois aspectos sociais que ajudaram a colocar Bolsonaro no poder e que podem ajudá-lo a permanecer nele por mais quatro anos. O que seria uma tragédia sem precedentes no país. Bate na madeira aí!

A filósofa e ativista política francesa dizia que “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”, o que explica em boa parte a resistência da atual estrutura e a reação de Jair Bolsonaro nas pesquisas, mesmo sendo o seu governo o pior, o mais cruel, o mais covarde e o mais nefasto de toda a história política do Brasil. Já o controverso Imperador francês do século dezenove, nos deixou um pensamento que, ao meu ver, é o que melhor explica esse fenômeno político neomedieval que tomou conta do país nos últimos anos. O bolsonarismo.

Ao dizer que “a religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos”, Napoleão, certamente, estava se referindo diretamente ao cristianismo e a tríade empregada através dele para manter os pobres passivos e conformados, mesmo estes estando sendo oprimidos e violentados. Dividir, controlar e iludir, eis a questão. E os governantes, ao perceberem que a religião cristã lhes favorecia em seu projeto de poder, logo trataram de implementá-la como uma espécie braço “desarmado” do Estado. Nos dias de hoje, ninguém aplica melhor essa tríade como método de alienação social do que a Igreja Evangélica. Com raras exceções.

Nessa linha, a pauta moral e de costumes é apresentada como mais importante do que as pautas sociais e progressistas, que, de fato, podem promover alguma mudança na vida das pessoas. Sob a égide da moral cristã, milhões de pessoas são instadas a defender a honra de Deus, como se Deus precisasse de pobres mortais para defender a sua dignidade. Preservar a ideia de uma família tradicional criada por Deus, é mais importante do que lutar para que essa mesma família tenha como se manter dignamente na sociedade. É um “Deus dará” literal, que determina a fé e o comportamento moral do indivíduo, como responsáveis pelo progresso da nação. Mas, e se Deus não dá?

Enquanto líderes evangélicos e católicos mantém os seus pobres fiéis preocupados em combater as mulheres que pretendem abortar, as feministas que lutam contra o patriarcado ou as pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo, o Estado do qual eles são aliados vai passando com a boiada e levando tudo que eles teriam direito. Mantê-los acreditando que Deus está com eles e lhes dará a recompensa de um céu eterno e salvador por estarem seguindo tais princípios, faz com que esses fiéis abram mão de seus direitos e se tornem cúmplices de quem os oprimem, sob a ilusão de um pertencimento social.

Devidamente doutrinados e obedientes a esses líderes religiosos malafentos e infelicianos, essas ovelhas com direito a voto não conseguem enxergar a hipocrisia que permeia e pontua esse discurso de moralidade e patriotismo. Mesmo com o arroz e o feijão começando a ficar escasso na mesa, o preço dos combustíveis e do gás de cozinha aumentando absurdamente, o custo de vida ficando cada vez mais alto, a sensação de estarem combatendo os “inimigos” de Deus com o próprio sofrimento, os mantêm fortes e cada vez mais alienados. E muitos deles ainda pagam um imposto a mais por isso. O dízimo. Que, teoricamente, deveria ser destinado a Deus, mas, na prática, serve para promover o enriquecimento de tais líderes.

Devo concordar que Bolsonaro é um enviado de deus. O deus que o Estado instituiu usando o cristianismo como escudo, para impedir os pobres de se rebelarem e matarem aqueles que os oprimem e os subjugam a existência. É aí que mora o perigo. Apresentado como um messias e salvador da pátria, ele representa a distopia cristã sob a qual, infelizmente, boa parte daqueles que se julgam cristãos está submetida. E esse mal não pode ser subestimado. Por mais desgastante que seja dialogar com esse segmento, é preciso ter em mente que a maioria que o compõe não entende de verdade o fundamentalismo que defende e pratica. Portanto, muitos deles ainda podem serem salvos ao conhecerem a verdade política e social que liberta.

É urgente fazê-los entender que Deus não tem candidato. Nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Obviamente, existem candidatos mais comprometidos com a inclusão social dos mais pobres, o que, naturalmente, os associam à justiça e à igualdade que Jesus Cristo sempre defendeu. E Jair Bolsonaro não é um deles. Longe disso. O seu governo representa a tortura, a opressão social dos mais pobres, a perda de direitos para os trabalhadores, a injustiça, a morte. E não falo ideologicamente. Estamos todos nós, pelos aqueles que não ricos, sentindo isso na pele, no dia a dia, na mesa, no prato, de fato. Ou todos estão conseguindo comprar e consumir, tudo o que compravam e consumiam antes, principalmente, durante os governos do PT?

Lula está na liderança nas pesquisas, mas nada está ganho. Bolsonaro, que estava quase morto politicamente, começa a dar sinais de vida. É preciso avaliar essa estranha recuperação e evitar um dos principais erros que a esquerda vem cometendo nos últimos anos. O distanciamento da base e da sua raiz.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO