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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Bolsonaro exaltou médicos que usaram mulheres pobres como cobaias em experimento com cloroquina em Manaus

O Estado tem o dever de aprofundar a investigação para que a verdade venha à tona e verifique se há elos entre esse experimento e a gestão do governo federal para combater a pandemia, escreve Joaquim de Carvalho

Michelle e o marido, médicos, e Jucicleia (reprodução) (Foto: Michelle e o marido, médicos, e Jucicleia (reprodução))
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A médica de São Paulo investigada por homicídio no Amazonas por fazer experiência com cloroquina não vê relação entre a morte da sua paciente paciente e a técnica aplicada.

A posição dela está expressa no habeas corpus que seus advogados estão tentando obter para impedir a investigação da polícia.

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No dia 18 de maio, o desembargador João Mauro Bessa negou o pedido da médica, por entender que o Estado tem o dever de aprofundar a investigação.

Uma juíza da Central de Inquéritos há havia negado o habeas corpus.

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Procurada pelo 247, a Secretaria de Saúde do Amazonas condenou o experimento no Estado. 

“A SES-AM ressalta que o procedimento não é padrão das unidades de saúde do Estado e não compactua com a prática de qualquer terapêutica experimental sem comprovação científica”, afirmou.

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A Secretaria ainda não concluiu a sindicância depois que o caso veio a público, por meio de uma reportagem da Folha de S. Paulo.

A técnica em radiologia Jucicleia de Sousa Lira morreu em 2 de março depois de ser submetida a sessões de nebulização com cloroquina na Maternidade Dona Lindu, onde havia sido internada para dar à luz um bebê e permaneceu por conta da covid-19.

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A Secretaria de Saúde confirmou a morte de outra pessoa no Estado em razão da terapia com cloroquina nebulizada: uma mulher que ficou internada no Hospital Regional José Mendes, administrado pela prefeitura do município de Itacoatiara.

A técnica com cloroquina nebulizada teria sido desenvolvida em Nova York pelo médico ucraniano Vladimir Zelenko, a quem se atribui a criação do kit-covid. 

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Lá, no entanto, o FDA (equivalente à Anvisa) proíbe o uso de cloroquina no tratamento da covid-19 desde junho do ano passado, quando estudos científicos de credibilidade revelaram a ineficácia do medicamento para combater o coronavírus e o risco de morte.

Zelenko ficou famoso em março do ano passado, depois que enviou a Donald Trump um vídeo em que anunciava a cura da covid-19 e foi entrevistado pelo ex-prefeito de Nova York, Rudolf Giuliani.

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O médico foi alvo posteriormente de investigação nos Estados Unidos por mentir publicamente que a FDA havia autorizado ensaio clínico com cloroquina.

Recentemente, as redes bolsonaristas espalharam no Brasil a fake news de que Zelenko teria sido indicado ao Prêmio Nobel da Paz por conta do kit-covid.

Ainda não está claro sobre como a médica Michelle Chechter conseguiu autorização para testar a técnica em seres humanos nos hospitais de Manaus, no auge da segunda onda da covid-19.

Depois de introduzir a técnica no Estado, ela anunciou que iria para Chapecó, em Santa Catarina, para também disseminar a terapia com cloroquina.

A técnica foi usada em Camaquã, no Rio Grande do Sul. Acompanhado do ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, Jair Bolsonaro deu entrevista em 19 de março a uma rádio da cidade em que enalteceu o uso da cloroquina nebulizada.

“É uma novidade que parece que nasceu em Manaus”, afirmou.

No dia seguinte, Onyx Lorenzoni publicou o vídeo no Twitter em que Jucicleia aparece induzida por Michelle Chechter a falar que estava se recuperando da covid-19.

“Decisão da médica em conjunto com a paciente: de 0 a 10 melhorou 8”, escreveu.

Jucicleia já estava morta fazia dezoito dias quando o vídeo gravado por Michelle Chechter foi postado pelo ministro.

Ainda não está claro sobre como a médica de São Paulo foi parar em Manaus para fazer uma experiência não autorizada por um comitê de ética.

Mas é possível estabelecer uma relação entre os passos dela e de outros médicos voluntários com manifestações de Jair Bolsonaro.

No dia 1º de fevereiro, a médica posta na rede social a mensagem de que viajaria para Manaus. No post, ela aparece em uma foto com caixas de cloroquina e a hashtag offlabel, que significa “fora da bula”.

Em 3 de fevereiro, ele começa a trabalhar na Maternidade Dona Lindu, juntamente com o marido, Gustavo Maximiliano Dutra, também médico.

Também faz parte da equipe voluntária o professor de neurologia da Universidade Federal de Campina Grande, Alexandre Marinho.

Em 9 de fevereiro, Michelle Chechter grava o vídeo com Jucicleia. E no dia 11, em sua live semanal, Jair Bolsonaro elogia o trabalho.

“Os relatos são que, em poucas horas, uma pessoa que receba nebulização de hidroxicloroquina se sentiria aliviada e partiria para a cura. É apenas uma pessoa, uma informação, mas é sinal de que tem gente que realmente está preocupado com isso, médico que tem coragem”, afirmou.

O trabalho dos médicos em Manaus levanta a suspeita de que a cidade tenha sido usada como laboratório para experimentos que o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) comparou, indiretamente, à prática da Alemanha nazista.

O Conep é o órgão vinculado ao Ministério da Saúde que autoriza estudos de medicina.

Ao que tido indica, mulheres pobres de Manaus foram usadas como cobaias.

Esta é uma das respostas que o inquérito conduzido pela delegada Deborah Souza, da 15ª Delegacia de Polícia Integrada da cidade, procura responder.

Por essa razão, acertou a Justiça ao negar habeas corpus à médica de Michelle Chechter, investigada por suspeita de homicídio. Espera-se que o STJ não derrube essa decisão.

A verdade precisa vir à tona e verificar se há elo entre a atuação desses médicos e a gestão do governo federal diante da pandemia.


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