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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Bolsonaro imita Trump e briga com todo mundo

"Com essa mania de imitar o seu ídolo Donald Trump, que briga com todo mundo e já sofre a ameaça de impeachment, Bolsonaro está solapando o seu próprio governo, que pode terminar antes do prazo legal. Tudo é só uma questão de tempo", afirma o jornalista Ribamar Fonseca.

O que é bom para Bolsonaro não é bom para o Brasil (Foto: REUTERS/Carlos Barria)
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Quando se intensificou o massacre à presidenta Dilma Roussef, liderado pelosenador Aécio Neves, logo no primeiro ano do seu segundo mandato, o ministro Ricardo Lewandowski, então presidente do Supremo Tribunal Federal, declarou: “Vamos ter de aguentar mais três anos”. Não foi preciso aguentar tanto tempo, porque no segundo ano, em 2016, destituíram a Presidenta com uma justificativa forjada, na verdade um golpe, numa sessão do Senado presidida pelo próprio Lewandowski. E agora? Vamos ter de aguentar mais três anos e meio do governo Bolsonaro, um governo comandado por um homem sem nenhum preparo, enlouquecido pelo poder, que está destruindo o país a olhos vistos? Cadê a oposição, que tem se limitado a discursos isolados, sem uma ação concreta para salvar a nação desse caos? A oposição precisa se reunir, inclusive com representantes da sociedade civil organizada, para buscar uma solução a curto prazo para essa situação que ameaça riscar o Brasil do mapa de países independentes e civilizados. O impeachment, já aventado pelo deputado Marcio Jerry do PCdoB, do Maranhão, seria o remédio legal, mas com Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados, o mesmo que arquivou os pedidos de impeachment contra Temer e comandou as sessões da Casa que negaram autorização para que ele fosse processado, além de viabilizar a aprovação da reforma da Previdência, essa solução dificilmente seria adotada. Diante disso, pergunta-se: até quando os brasileiros vão conviver com essa dolorosa situação?

Além de homofóbico, misógino e racista, o presidente Bolsonaro também se revelou preconceituoso em relação aos nordestinos, o que evidencía o seu total despreparo para gerir uma nação continental como o Brasil. Ele parece não saber que foi eleito para governar o país inteiro e não apenas o Sul e Sudeste, que lhe deram o maior volume de votos. Sua recomendação ao ministro-chefe da Casa Civil, Onix Lorenzony, para “não dar nada para esse cara” – esse cara é o governador Flavio Dino, do Maranhão – revela não apenas a personalidade de um sujeito odiento e vingativo mas, também, seu completo desconhecimento do dever do Presidente da República. O governador maranhense reagiu de imediato à inoportuna e gratuita agressão dizendo, entre outras coisas, que “não tem medo de ditador, subditador ou projeto de ditador”, reafirmando a sua disposição de trabalhar pelo seu Estado, mantendo ao mesmo  tempo um relacionamento formal com a União, independente da hostilidade do Presidente. Dino, como se sabe, foi avaliado pela população como o melhor governador do país e já está sendo cogitado, inclusive, como candidato à sucessão de Bolsonaro. E tem o apoio do povo maranhense.

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 Diante da repercussão da agressão de Bolsonaro não apenas ao governador do Maranhão mas ao Nordeste inteiro, chamando todos os governadores da região de “paraiba” e os nordestinos de “cabeça-chata” e “pau-de-arara”, o ministro da Justiça, Sergio Moro, saiu em defesa do chefe, lembrando que ele mandou policiais da Força Nacional para solucionar um problema de segurança no Ceará, “apesar do governador ser do PT”, como se o capitão-presidente tivesse feito um grande favor aos cearenses. Moro provavelmente não sabe – ou se faz de besta para agradar o chefe – que é obrigação do Presidente atuar em todos os Estados quando se faz necessária a presença da União, além de compromissos estabelecidos pela Constituição, independente do partido ao qual o governador esteja filiado. Com essa atitude absurda, desrespeitosa e impatriótica, como disse general Rocha Paiva, Bolsonaro, que acredita ter se tornado dono do Brasil ao ser eleito, deverá pagar um preço alto: a reprovação da proposta de reforma da Previdência no segundo turno. O povo nordestino, através dos seus representantes no Congresso Nacional, poderá reagir às suas agressões, votando contra a reforma e outros projetos do seu interesse, independente de partido. Portanto, por mais que ele tente agora se desculpar, dizendo inclusive ter casado com uma filha de cearense, o estrago já foi feito.

 Na verdade, a crise que ele criou com os nordestinos se agravou com a sua presença na inauguração do novo aeroporto de Vitória da Conquista, no interior da Bahia. Bolsonaro acusou o governador Rui Costa de impedir a Policia Militar de estar presente para não lhe dar segurança, mas o chefe do Executivo baiano reagiu dizendo que não iria colocar a PM para espancar o povo, até porque a segurança do Presidente já estava garantida pelo Exército, que ocupou o local onde, segundo noticiado, foram colocados inclusive atiradores de elite. A ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, por outro lado, teria proibido o avião do governador de pousar no novo aeroporto, alegando insegurança. O fato é que a briga entre Bolsonaro e os governadores nordestinos ficou feia, com inevitáveis desdobramentos no futuro, considerando a indignação de parlamentares e de outras figuras, nativas da região, de projeção nacional, inclusive formadores de opinião. A inabilidade do capitão-presidente, que não aceita opiniões contrárias às suas e classifica de “petistas” ou “comunistas” todos que o criticam, além de provocar uma crise desnecessária e inoportuna que dividiu o país, pode produzir graves conflitos de consequências imprevisíveis, considerando-se o ódio que move os seus seguidores, especialmente na região Sul.  

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O governador Flavio Dino, o primeiro a ser agredido diretamente por Bolsonaro por ter assumido uma posição firme de oposição ao seu governo, já começa a enfrentar não apenas o cerco da estrutura da União mas, também, o bombardeio à sua possível candidatura à Presidência da República nas próximas eleições. Tão logo o seu nome foi aventado como potencial concorrente ao Planalto, a Globo começou a  divulgar noticias negativas sobre a sua administração, as quais são, também, disseminadas nas redes sociais, de modo a minar a sua pretensão. A estratégia é a mesma usada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso quando a governadora Roseana Sarney cresceu nas pesquisas como aspirante à Presidência da República: a Globo divulgou que no escritório do seu marido, em São Luis, a Policia Federal havia encontrado uma fortuna em espécie. Foi o suficiente para enterrar a candidatura de Roseana. Agora não se sabe se a iniciativa de inviabilizar a candidatura de Dino, através dos noticiosos da Globo, partiu de Bolsonaro ou do ex-presidente Sarney, que é o adversário político do governador no Maranhão e proprietário da afiliada da emissora no Estado. A briga de Bolsonaro com os nordestinos é apenas uma das crises que grassam no seu governo, porque ele não sabe segurar a língua e fala o que não deve, atingindo adversários e aliados. O deputado Alexandre Frota, do seu partido, aliás, já disse que quando ele fica calado a situação do país fica tranquila. 

Há um velho dito popular segundo o qual “o mal por si se destrói”. É o que está acontecendo com Bolsonaro. Além da crise com o Nordeste ele também alimenta uma crise com os militares, que lhe dão sustentação, usando como instrumento o seu filho Carlos, que ele mesmo considera como o seu “pitbull”. Depois da exoneração de Gustavo Bebiano e do general Santos Cruz, provocada pelo vereador, a bola da vez agora é o general Rego Barros, porta-voz do seu governo, que tem sido alvo de críticas do rapaz. A ação desagregadora de Carluxo, que conta com o apoio do guru Olavo de Carvalho e do deputado Marcos Feliciano, começa a provocar inquietação entre os militares. O general Paulo Chagas, candidato derrotado ao governo do Distrito Federal, defendeu o seu colega de farda Rêgo Barros e disse que Carlos Bolsonaro provavelmente está querendo ocupar o cargo dele, de porta-voz da Presidência. A suspeita não é de todo destituída de fundamento, pois o Presidente quer fazer de outro filho, Eduardo, embaixador do Brasil em Washington. Se alguém não por um freio nessa loucura, ninguém se surpreenda se ele colocar toda a família em cargos federais, o que para ele não é nepotismo. Com essa mania de imitar o seu ídolo Donald Trump, que briga com todo mundo e já sofre a ameaça de impeachment, Bolsonaro está solapando o seu próprio governo, que pode terminar antes do prazo legal. Tudo é só uma questão de tempo.

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