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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Bolsonaro infla ego nos EUA e espera resultado das ruas no dia 15

Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, considera que "Bolsonaro é um barco à deriva que depende 'das ruas' ou dos seus 30% (ainda?) de fanáticos para se agarrar ao cargo onde chegou no susto". Segundo ela, a convocação do ato do dia 15 servirá de termômetro para Bolsonaro

Donald Trump e Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia - Faltou combinar com os russos. No momento em que o príncipe saudita Mohammad bin Salman - decidiu de forma autoritária, como o ditador que é -, reduzir a produção de petróleo e puxar os preços para baixo, (manobra rechaçada pela Rússia, país membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo -OPEP), ele jogou as bolsas do mundo inteiro no abismo, provocando um solavanco que há 20 anos não era sentido nas economias do planeta.

No Brasil o tombo foi de 12%, num cenário de PIB a 1,1% e zero de perspectivas de crescimento. Como resposta ao tombo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, receitou “reformas”. À noite, no programa de entrevistas da TV Cultura, Roda Viva, a senadora Simone Tebet, presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, apregoava, para quem quisesse ouvir, que a tarefa da estruturação dessas “reformas” receitadas pelo ministro – sem iniciativa -, Paulo Guedes, é do Executivo, que nem sequer as esboçou.

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Acresça-se a todo este cenário, uma fala (mais uma) transgressora, do presidente Jair Bolsonaro, na Flórida, sobre uma suposta fraude nas eleições que o conduziu à cadeira de chefe de governo, em 2018. Vale lembrar que as eleições transcorreram sob o governo de Michel Temer, a quem Jair já teceu elogios e foi quem deu o pontapé inicial para a sua trajetória até o posto que hoje ocupa. Prevaricou o TSE? Temer traiu o projeto do PSDB, que o patrocinou no golpe? Ou estamos diante de uma excelente oportunidade para pedirmos nas ruas “anulação já”? Ou, se quisermos dar um tom de prova do Enem, “todas as opções acima” ...

Isolado, sem a estrutura de um partido que compre as suas brigas, Bolsonaro é um barco à deriva que depende “das ruas” ou dos seus 30% (ainda?) de fanáticos para se agarrar ao cargo onde chegou no susto. A convocação que tem feito ao arrepio da Lei, para as manifestações do dia 15, lhe servirá de termômetro. Bolsonaro é a namorada carente, de baixa autoestima, que a todo momento precisa ouvir um elogio ou um “eu te amo”, para se sentir segura. Em inúmeras vezes já revelou que não esperava este resultado. (Daí talvez apontar “fraudes” nas eleições, sem que elas tenham origem no motivo que apontou). 

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Há analistas e cientistas políticos esperando que, de acordo com o resultado das manifestações, Bolsonaro pire na batatinha e decrete um autogolpe, sob o argumento de que o general Luiz Eduardo Ramos se aliou ao Congresso para colocar a faca em seu pescoço contra os interesses do Brasil. (Foi o general, o responsável pelas negociações do orçamento impositivo e quem fechou o acordo que o presidente autorizou, assinou, mas nega). Ramos tem tropas.

Desprovido de quadros políticos, Jair acercou-se de militares. Parte da ativa e outro tanto de integrantes da turma do pijama. Sabe-se lá quantos fiéis à sua sanha autoritária. Hoje, a Casa Civil, um dos postos de maior relevância do governo, está nas mãos do chefe do Estado Maior do Exército, general Walter Souza Braga Neto. Ele também tem tropas.  (E, nas mãos, toda a investigação do caso Marielle e Anderson). 

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Como será que esses generais da ativa vão se posicionar, no dia 15?

Inábil, para dizer o mínimo, o presidente se indispõe com o Congresso e quebra a regra de ouro vigente no meio político: palavra empenhada é palavra dada. Não por acaso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o chamou às falas, exigindo publicamente que ele cumpra o que assinou, resultado da costura entre Ramos, Executivo e Congresso. 

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Na base do vamos que vamos, Bolsonaro embaça as suas deficiências intelectuais afirmando o que não disse e desmentindo o que falou. O expediente funciona para a claque do chiqueirinho, mas tanto Alcolumbre quanto Rodrigo Maia já se mostraram dispostos a colocar água na fervura, desde que o Executivo cumpra a sua parte no acerto e converse com bons modos. Doce ilusão.

Ao retornar dos EUA, certamente a bordo do deslumbramento e dos “afagos” trumpistas, Bolsonaro - que deve ter topado emprestar o nosso quintal como passagem para investidas americanas contra a Venezuela -, estará com o ego inflado. O que é sempre um perigo. Apostará que, se num arroubo resolver fechar o Congresso e mandar Rodrigo e Alcolumbre para casa, terá respaldo de Trump. É pagar para ver. 

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Aqui, no Brasil, porém, terá de avaliar alguns fatores. A esquerda está imóvel, mas não está morta. A Câmara tem a turma do baixo clero, despreparada, mas em compensação conta com comitês articulados, prontos para agir em defesa, por exemplo, da educação e da democracia. O MDB, esta “craca” que ao longo dos anos serve como fiel da balança do poder, pode acorrer a um aceno do presidente Davi Alcolumbre, da senadora Simone Tebet e algumas raposas que por lá ainda estão. As Forças Armadas entrarão em cena para o lado que pender a maioria (dentro dos princípios constitucionais, espera-se), e não apenas na aventura bolsonarista de “poder pelo poder”.  A mídia hegemônica, na hora do pega pra capar, se alinhará às FA e ao “povo” – audiência acima de tudo. 

Bolsonaro chamou para o seu colo a incerteza. Aguardemos as águas de março fecharem o verão. 

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