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Valério Arcary

Valério Arcary é historiador e membro da Coordenação Nacional do Resistência/PSOL.

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Bolsonaro pareceu um maluco. Mas há um método na loucura

(Foto: Isac Nóbrega/PR)
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A posição de Bolsonaro contra estratégia de distanciamento social parece uma loucura, mas obedece a um método. É a expressão de uma visão de mundo. Responde à assustadora mistura de estratégia neofascista e ideologia ultraliberal. Naturalizava uma visão assombrosa de eugenia social. Há um debate na esquerda sobre a sanidade mental de Bolsonaro. É plausível discutir, seriamente, o problema, porque é indispensável saber contra quem lutamos. É claro que há que considerar, em alguma medida, o papel do indivíduo na história O comportamento de Bolsonaro sugere uma mente paranoica. Mas a constante subestimação de Bolsonaro e de sua corrente neofascista, desde 2016, tem sido um grave erro. Bolsonaro ambiciona a subversão do regime democrático. Avança e recua, testa os limites, provoca e negocia, porém, apesar de manobras táticas, mantém a estratégia.
       Bolsonaro é um monstro, portanto, não importa se ele é doido. Não será com um atestado médico de insanidade que será derrotado. Não é um bom critério de luta política priorizar a acusação dos inimigos de classe como dementes, maníacos, psicopatas. Socialistas não consideram que a sociedade se divide entre os saudáveis e os malucos. Não reduzimos nossa luta a uma avaliação clínica, psicológica. O bolsonarismo é uma corrente política neofascista que tem apoio de um terço da população. Mas, também, porque respeitamos aqueles que, entre nós, têm sofrimento psíquico.
         Mudou a conjuntura, e ela exige lucidez e coragem. Abriu-se uma brecha para a oposição, portanto, para a esquerda. Só que a luta para que a esquerda ocupe um lugar central na oposição a Bolsonaro não é simples. O Brasil contemporâneo nunca viveu as sequelas de uma guerra. O impacto de um cataclismo em poucas semanas, infelizmente, com a possibilidade de dezenas de milhares de mortes, é imprevisível. Será, provavelmente, um terremoto na consciência de dezenas de milhões.
     Não há razão, contudo, para alimentar ilusões “facilistas” de que o processo de desgaste de Bolsonaro será gradual e constante, menos ainda que resulte, necessariamente. no aumento da confiança na esquerda. Tudo estará em disputa. Bolsonaro irá reagir, e tem ambições bonapartistas. Dória e Witzel, que foram garantia da governabilidade de Bolsonaro, já se reposicionaram pela necessidade de uma unidade nacional de emergência contra Bolsonaro. Haverá ação e reação, e uma luta implacável.
       Bolsonaro enfraqueceu, mas mantém apoio. Há uma oportunidade. A burguesia está dividida em torno de um tema central, o que é uma novidade. Não acontece desde 2017, quando do escândalo da gravação de Michel Temer com Joesley Batista na garagem do Palácio do Jaburu. Uma maioria da classe dominante apoia a tática de mitigação defendida pelos governadores, e até por uma ala do próprio governo Bolsonaro, liderada por Mandetta.
       Salvar vidas é um programa humanitário. Unidade na ação é legítima contra Bolsonaro. Mas não há um programa comum possível. A tática da Frente Ampla com Maia ou Doria prepara uma derrota que será fatal. A esquerda deve se diferenciar com um programa próprio. Esse programa deve ser ordenado pela defesa da quarentena total e nenhuma demissão, porque todas as vidas importam. Deve exigir que, diante da crise, os mais ricos devem pagar pelo preço da crise e, portanto, diante da tragédia, as grandes fortunas e as grandes corporações têm que ser taxadas. Por último, deve dizer que Bolsonaro tem que ser deslocado.  
       No início de março, a posição negacionista de Bolsonaro diante do perigo de uma pandemia catastrófica não era excepcional. Não era somente Bolsonaro que defendia a continuidade da atividade econômica, a facilitação do contágio em massa para uma rápida imunidade de grupo, e o isolamento social dos idosos. Era compartilhada pelos governos dos EUA, do Reino Unido, e até da Itália e da França, e só o colapso do sistema hospitalar na Lombardia levou a um reposicionamento.
     Bolsonaro parecia ter recuado no discurso de TV da semana passada. Imediatamente, surgiu a especulação de que estaria sob tutela dos generais. A política da classe dominante, diante das próximas semanas de agravamento exponencial da crise, tem sido de tentar enquadrar Bolsonaro. Mas o capitão é incontrolável.

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