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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Bolsonaro sabe a hora de entregar a arma

"Quem espera que o processo se complete com um golpe, antes ou depois da eleição, pode se confrontar apenas com uma esculhambação, como no Capitólio"

(Foto: ABr)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Bolsonaro teria de reinventar os golpes, se pretende mesmo levar adiante o blefe que o mantém próximo da sua base de tios e sobrinhos do zap e da classe média que desistiu da terceira via.

Não há exemplo recente que possa ser copiado como um golpe bem aplicado e mantido sob controle. Não temos um modelo de golpe próximo, porque é difícil avaliar um levante distante, na Armênia ou em Mianmar.

Os golpes aqui de perto não deram certo. Não há mais elites, mas apenas coadjuvantes golpistas civis e militares. A atual geração militar da América Latina é considerada funcional e intelectualmente medíocre.

As engrenagens de um golpe do século 20 talvez não funcionem hoje, e falta prova de coesão e comando entre os militares.

Bolsonaro sabe muito bem. Por isso o que importa a ele é testar o blefe do golpe como um meio a ser esgarçado, porque o fim é o imponderável.

Bolsonaro quer conduzir a política dentro do modelo consagrado pelos republicanos, como guerra interna permanente, que seja eterna enquanto dure.

O tutorial básico a seguir (até porque a extrema direita não consegue entender algo mais complexo) é o do caos em moto contínuo, que já vem sendo testado com a erosão das estruturas institucionais do Estado e da democracia.

Quem espera que o processo se complete com um golpe, antes ou depois da eleição, pode se confrontar mais adiante apenas com uma esculhambação, como a que aconteceu no Capitólio.

Bolsonaro aposta na bagunça, para que a partir daí saia alguma coisa, que pode ser apenas mais desordem, com todo o teatro possível, incluindo a participação de um homem com guampas e, se preciso, com mortes.

Bolsonaro precisa provar, como os republicanos malucos de Trump depois da derrota para Joe Biden, que lidera pancadarias, desde que os outros distribuam e suportem pancadas, como fez a turba do Capitólio.

É só continuar sabotando a eleição e atacando a urna eletrônica. E esperar que em algum momento, quando se sentir eleitoralmente derrotado, a incitação surta efeitos.

Não há como imaginar, como cenário de um golpe, que os militares de Bolsonaro ordenarão o fechamento do Congresso, uma intervenção no Supremo e a caçada aos líderes que não conseguirem fugir.

Não imaginem Bolsonaro liderando coisa alguma além de atos de sabotagem da eleição. Não há como supor que os generais se submeterão à liderança desatinada de Bolsonaro num golpe.

Não há como vislumbrar que o país venha a ser controlado por Bolsonaro numa situação em que a imposição será exercida pela força. Bolsonaro não tem tanta força.

Não há como achar que possa se viabilizar um golpe liderado por Bolsonaro e por Daniel Silveira.

Bolsonaro enviou o seu ministro da Defesa a um encontro com Luiz Fux, para que alguém assopre e ele possa continuar mordendo, até porque o general não assoprou tanto como se presumia que poderia ter assoprado.

E assim o blefe vai em frente. A dúvida que persiste sempre em circunstâncias semelhantes é a que precede uma tentativa de golpe: que estrago a bagunça que está sendo armada poderá causar antes e depois da eleição?

Outubro finalmente irá testar os limites de Bolsonaro, e esses limites não têm relação alguma com o que possa ter restado de sensatez ou racionalidade política. A relação é com medo e acovardamento.

Bolsonaro poderá, aqui a pouco, intuir que os riscos são muito maiores do que os possíveis ganhos e fazer então o que fez em 1995, quando decidiu que o melhor era se render, entregar a arma e fugir.

Poderá descobrir, muito antes da eleição, que a democracia pode ser mais aterrorizante para um fascista do que os dois assaltantes imprevisíveis que lá em 1995 levaram sua pistola e sua moto.

Bolsonaro, que não sabe nem destravar uma arma e que tampouco sabe criar um partido, pode descobrir, quando o medo afrouxar suas pernas, que também não sabe aplicar golpes.

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