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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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Brasil: baixa reputação e renúncia ao papel regional

"Na soma de todos os comportamentos recentes do Brasil em relação ao continente, o que fica é a constatação de que o país abdicou de sua influência regional e de seu papel de mediador", escreve a jornalista Tereza Cruvinel ao comentar o papel do Brasil na invasãoà Embaixada da Venezuela em Brasília

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A vergonhosa invasão da embaixada da Venezuela em Brasília aconteceu por razões bastante óbvias:  os apoiadores neofascistas do autoproclamado presidente Juan Guaidó sentiram-se com as costas quentes, contaram com o beneplácito do governo Bolsonaro, que horas antes apressara em ser o primeiro país a reconhecer a também autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, depois de ter apoiado o golpe civil-militar contra o presidente constitucional Evo Morales.  Não reconhece Nicolás Maduro como presidente e acolhe representantes ilegítimos de Guaidó.

Em verdade, Bolsonaro e seu chanceler Ernesto Araújo criaram as condições ideais para o episódio. Só não esperavam que ocorresse na véspera da cúpula dos Brics, criando um dos maiores constrangimentos diplomáticos já vividos pelo Itamaraty.

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Tendo anunciado que veio para destruir, Bolsonaro tem tido particular êxito na desmoralização da diplomacia brasileira, uma das mais respeitadas do mundo por seu profissionalismo. Ao longo de dois séculos, o Itamaraty conferiu ao Brasil o conceito de país negociador, respeitador do direito internacional e dos fóruns multilaterais,  buscando resolver pacificamente os conflitos e mantendo relações com praticamente toda a comunidade internacional.

Os diferentes governos sempre elegeram suas prioridades mas preservando princípios essenciais norteadores de uma política externa coerente, uma política de Estado. Sob Bolsonaro, tudo isso ruiu, e nesta quarta-feira o mundo precisou cobrar algo elementar do governo brasileiro, a observância dos princípios da Convenção de Viena, que rege  relações diplomáticas. Entre eles, a garantia da integridade das representações estrangeiras e do corpo credenciado.  Este vexame, juntamente com o início da cúpula dos Brics, é que forçou o governo a condenar a invasão que durou doze horas. Finalmente, a turba pró-Guaidó saiu pela porta dos fundos, sob escolta policial. Deviam ter sido presos, pois não são representantes diplomáticos de governo algum.

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China e Rússia e demais Brics reconhecem Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela, ao passo que o Brasil reconhece Guaidó,  que não foi mencionado na nota palaciana, como presidente interino.  Não há salamaleques para a China, como os que ontem fez Bolsonaro, esquecido de tudo o que disse contra o maior parceiro comercial do Brasil durante a campanha, que dissipe o mal estar criado. Que país este, devem dizer os visitantes, onde uma embaixada é violada por extremistas? Por maiores que sejam as convergências econômicas e comerciais, as diferenças políticas dentro dos Brics aumentaram.

Na soma de todos os comportamentos recentes do Brasil em relação ao continente, o que fica é a constatação de que o país abdicou de sua influência regional e de seu papel de mediador, pois tornou-se parte de um lado dos conflitos que pipocam na região. Bolsonaro e seu chanceler Ernesto Araújo são aliados decididos das forças golpistas e reacionárias que buscam impor o neoliberalismo autoritário, seja no Equador, na Venezuela ou na Bolívia. A aliança estratégica com a Argentina foi esgarçada por seu alinhamento eleitoral com Macri e as hostilidades ao presidente eleito Alberto Fernandez.  Se amanhã estourar uma crise em qualquer outro país, a posição brasileira é previsível sem risco de erro.

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Quando Bolsonaro e Araújo passarem, o trabalho de reconstrução será duro em várias frentes mas o Itamaraty terá uma das mais desafiadoras tarefas, a de resgatar o que foi construído em 200 anos e destruído em poucos meses.

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