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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Brasil começa o novo ano em clima de incertezas

Jornalista Ribamar Fonseca destaca, em artigo, a insegurança de Jair Bolsonaro diante das investigações do caso Queiroz, que envolvem o filho Flávio Bolsonaro, além de enfrentar "enormes dificuldades de avaliação" em pesquisas recentes

(Foto: Reuters | Reprodução)
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“Fogo no fiofó dos outros é refresco”. Esse velho dito popular do Nordeste retrata bem a situação do presidente Bolsonaro que, antes da explosão do caso Flavio-Queiroz, comemorava a prisão de Lula e as investigações sobre o filho Lulinha e hoje está sentindo na pele o mesmo problema. A diferença é que no caso do Lulinha a própria Lava-Jato admite não ter nenhuma prova contra o filho do ex-presidente, enquanto no caso de Flavio as investigações já avançaram ao ponto de ameaçarem de prisão o filho do atual presidente. Abatido e nervoso, Bolsonaro descarrega a sua bílis nos jornalistas que tentam entrevistá-lo e, ao mesmo tempo, busca intimidar o Ministério Público do Rio de Janeiro, o juiz que autorizou a busca e apreensão nos endereços de Flavio e de Fabricio Queiroz e o próprio governador Witzel. Na verdade, parece que ele tem informações privilegiadas sobre todos os que considera desafetos, o que sugere a possibilidade de que estejam sendo espionados por organismos do governo, inclusive com possíveis grampos. De outro modo, como é que ele soube que a filha do magistrado que autorizou as investigações contra o seu filho trabalha no gabinete civil do governo do Rio de Janeiro? Como é, também, que ele soube com antecedência sobre o avanço das investigações, quando antecipou que “vem mais coisas por aí”? Como ficou sabendo que estão armando uma operação de busca na casa de um dos seus filhos?

Enquanto o capitão se esforça para demonstrar tranquilidade, embora seja visível o seu desequilíbrio diante dos acontecimentos envolvendo um dos seus filhos, os outros dois rebentos falastrões, Eduardo e Carlos, simplesmente silenciaram, sumiram de cena. Ao que parece estão se fingindo de mortos esperando a onda passar, o que não deve acontecer tão cedo diante da disposição do MP carioca de colocar em pratos limpos a suspeita de rachadinha. Há um visível temor de que as investigações acabem desaguando na morte da vereadora Marielle Franco, o que seria fatal para o governo Bolsonaro. Por sua vez, o antes todo poderoso ministro Sergio Moro, considerado paladino do combate à corrupção, virou um quadro na parede do governo: não fala, não escreve, não se manifesta sobre as investigações do MP do Rio. A exemplo dos filhos do presidente, preferiu mergulhar num silêncio sepulcral, porque está naquela conhecida situação: se ficar o bicho come e se correr o bicho pega. Ou seja, qualquer coisa que diga o deixará mal perante o chefe ou perante a opinião pública. Além disso, ele deve estar preocupado com a própria sobrevivência política, pois se o Supremo Tribunal Federal aprovar a sua suspeição na condução do processo que culminou com a condenação de Lula tudo poderá ser anulado. E ele ficará insustentável no comando da pasta da Justiça. 

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Moro, na realidade, está desmoronando a olhos vistos. Apesar da sua posição de papagaio de pirata do Presidente, sempre posando ao lado dele para sugerir prestígio e intimidade com o chefe, foi ignorado por ele na sanção ao pacote anticrime aprovado em parte pelo Congresso Nacional. Bolsonaro, além de desprezar a maioria dos seus pedidos de veto, manteve a figura do Juiz de Garantia, cuja criação o ex-juiz se empenhou para  impedir. Por conta disso, o atual ministro da Justiça criticou veladamente o capitão, o que deve contribuir para a sua breve saída do cargo. Independente disso a sua exoneração é considerada como certa no ano que se inicia, porque ele hoje se constitui uma ameaça ao projeto de reeleição de Bolsonaro. Conclui-se, daí, que a sua popularidade que, em princípio, seria positiva para as suas pretensões políticas, acabou se tornando o grande obstáculo para a sua permanência  no Ministério da Justiça. Como já foi dito nesta coluna, o ex-juiz está com seus dias contados na pasta, de nada adiantando a sua visível subserviência ao Presidente, que não poupou sequer aliados da primeira hora, como Gustavo Bebianno. Na verdade, Moro já não tem a mesma utilidade observada no início do governo e, portanto, pode ser descartado a qualquer momento, até porque não deu sinais de vida no caso Flavio-Queiroz, cujas investigações avançam. 

O fato é que o ex-juiz, apesar de ter hoje o comando da Polícia Federal, não parece tão seguro como antes e, por isso, faz tudo para agradar o chefe, encontrando sempre um meio de defendê-lo, justificando suas decisões, mesmo que o contrariem. Por conta disso vem perdendo seguidores, embora mantenha ainda um índice de popularidade maior do que o de Bolsonaro. Parece, contudo, que não conseguirá manter-se no cargo por muito tempo, por estar se transformando no principal adversário do Presidente em seu projeto de reeleição. Segundo rumores que crescem nos círculos políticos, a Globo já o teria escolhido como seu candidato às eleições presidenciais de 2022, uma forma inteligente de reagir às agressões do capitão, esvaziando a sua candidatura. Moro que, no comando da Lava-Jato,  foi transformado em celebridade pela própria Globo, certamente está animado com o projeto dos irmãos Marinho, já que sua ambição não tem limites. E, enquanto puder iludir o chefe, vai continuar posando de humilde, subserviente, para dar o bote na hora certa. Ele sabe, afinal, que precisa do cargo para manter-se sob a luz dos holofotes, pois fatalmente desaparecerá do noticiário no momento em que deixar o Ministério, a exemplo do ministro aposentado Joaquim Barbosa, o que implicará naturalmente na perda dos seus seguidores. E sabe, também, que já não tem chance de ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, que estaria sendo reservada para um nome indicado pelos evangélicos. 

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Bolsonaro, por sua vez, enfrenta enormes dificuldades de avaliação. Recente pesquisa da Veja e FSB concluiu que se a eleição fosse hoje ele seria reeleito, considerando que  a sua rejeição parou de crescer após as notícias da Globo sobre a suposta recuperação da economia, mas essa pesquisa não casa com a do Datafolha, segundo a qual o capitão está derretendo e as perspectivas não são nada animadoras, embora ele insista em dizer que “o Brasil está mudando” e o ministro Paulo Guedes afirmando que existem “trilhões de dólares” querendo entrar no país. Há um velho ditado segundo o qual “o pior cego é aquele que não quer ver”. E tem muita gente que não quer ver, preferindo acreditar nas falácias do capitão e seus  ministros, talvez porque ainda não estejam sentindo na pele os efeitos das medidas desastrosas do governo. Apesar do esforço da Globo, no entanto, e das fakenews, dificilmente o capitão conseguirá manter por muito tempo as mentiras que pretendem mostrar um Brasil melhor, até porque, segundo Confúcio, ninguém consegue “enganar todo o povo durante todo o tempo”. Segundo recente nota divulgada por uma associação de lojistas, até o suposto aumento das vendas neste Natal, alardeado como resultado positivo das ações do governo,  foi desmentido por ela. Ou seja, Bolsonaro não conseguirá manter nem seus índices atuais, sobretudo depois que o Ministério Público do Rio concluir as investigações sobre Queiroz e as “rachadinhas”, que já chegaram aos parentes. 

Diante do quadro visível, não é difícil concluir que o Brasil ingressará no  ano novo sob um clima de incertezas, com muitas decisões pendentes e movimentos confusos. Além disso, o ódio, disseminado pela mídia tradicional, pelas redes sociais e pelos discursos do Presidente,  continuará envenenando muita gente, que dará vazão aos piores instintos despertados com a atuação da Lava-Jato e a posse do capitão. É surpreendente o número de pessoas que, contaminadas pelo ódio, defendem hoje a prática de injustiças quando clamam pela prisão de condenados em segunda instância e a derrubada do juiz de garantias. Quando o constituinte colocou na Carta Magna o dispositivo que assegura a presunção de inocência, permitindo a prisão só depois da sentença transitada em julgado, não pensou em proteger corruptos ou assassinos  mas em evitar injustiças. Com o mesmo objetivo foi criado o juiz de garantias, pois desde o mensalão e Lava-Jato o juiz que orienta as investigações, em muitos casos, é o mesmo que julga. Felizmente a parcela da população envenenada pelo ódio é minoria, o que permite a esperança de que o povo brasileiro vai recuperar em breve o seu sentimento fraterno, onde o amor proporcionará a implantação de um novo clima no país. Afinal, se Deus é brasileiro essa situação desconfortável não deverá perdurar por muito tempo. 

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