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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Brasil de Jair parece um barco à deriva, confuso e sem rumo

"Quantos votos o general Heleno recebeu nas últimas eleições? Alguém sabe? Com que legitimidade afronta o Congresso Nacional? Embora abrigue todo tipo de gente, inclusive fascistas, o Congresso foi eleito pelo povo, de onde o poder emana segundo a Constituição, e, portanto, certo ou errado cumpre a sua missão constitucional", diz o colunista Ribamar Fonseca, sobre os ataques do general Heleno ao Congresso

Jair Bolsonaro e General Augusto Heleno (Foto: Carolina Antunes/PR)
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Quantos votos o general Heleno recebeu nas últimas eleições? Alguém sabe? Com que legitimidade afronta o Congresso Nacional? Embora abrigue todo tipo de gente, inclusive fascistas, o Congresso foi eleito pelo povo, de onde o poder emana segundo a Constituição, e, portanto, certo ou errado cumpre a sua missão constitucional. Ele é o símbolo da democracia e só ao povo compete muda-lo, extirpando o tecido necrosado que, volta e meia, fede e atenta contra os interesses dos seus representados. Desse modo, pretender fechá-lo por não se dobrar sempre à vontade do Chefe do Executivo é um claro sinal de que o germe da ditadura está se desenvolvendo no Palácio do Planalto, hoje ocupado por generais. O chefe do GSI, general Heleno, cujo poder efêmero parece ter-lhe subido à cabeça, precisa convencer-se de que não possui mandato popular e, portanto, é demissível ad nutum. Quem tem mandato concedido pelo povo é o capitão Bolsonaro que, aliás, pode perdê-lo por falta de decoro. Os seus eleitores, hoje visivelmente decepcionados,  certamente desconheciam, quando votaram nele,  o seu despreparo e falta de compostura para ocupar o mais alto cargo da Nação. 

O general Heleno deve ter se empolgado porque os militares, aparentemente, assumiram o controle do governo. Com o Palácio do Planalto ocupado por generais conclui-se que os militares, puxados pelo capitão, voltaram ao poder no Brasil sem precisar usar tanques e baionetas. E parece que vivemos hoje sob um regime de exceção mascarado pelo funcionamento do Congresso e do judiciário, os quais, via de regra,  endossam decisões autoritárias do governo, ao mesmo tempo em que a imprensa, mesmo achincalhada e acuada pelo presidente, faz um tipo de bajulação e auto-censura, com lampejos de independência,  que confunde o eleitorado quanto a sua posição. Na verdade, já não se sabe exatamente que regime vigora hoje no Brasil, onde o ódio e a hipocrisia predominantes eliminaram o pudor dos que se encontram no poder, a começar pelo próprio Presidente da República, que distribui “bananas”, desrespeita jornalistas e revela sua admiração por torturadores e milicianos, os quais considera “heróis”. Os fascistas enrustidos, infiltrados em todas as instituições, saíram do armário com a eleição dele e não se envergonham de suas atitudes. 

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Nem quem ocupa postos de relevo no serviço público  se preocupa mais em esconder suas convicções político-partidárias, mesmo quem tem o dever de comportar-se com equidistância, como por exemplo o juiz Marcelo Bretas, que participou de um evento político no Rio de Janeiro com o presidente Bolsonaro e o prefeito Crivella, só faltando integrar a “dancinha” que uniu os dois chefes de Executivo. Será que ele é candidato a alguma coisa? Vai seguir as pegadas de Moro, seu ídolo, que sonha com a Presidência da República? E que não faz outra coisa na vida a não ser perseguir o ex-presidente Lula? O ex-juiz, hoje ministro da Justiça, tentando mostrar serviço e, ao mesmo tempo, puxar o saco de Bolsonaro, disse recentemente que “há uma sensação de lei e ordem e de segurança graças à liderança do senhor presidente”. O Brasil não precisa de “sensação” mas, efetivamente, de lei, ordem e segurança, o que Moro ainda não conseguiu porque, além da obsessão pelo ex-presidente, não entende dessas coisas. Na verdade, é um enrolador que ganhou notoriedade graças à Globo, que o celebrizou porque fez precisamente o que os Marinho queriam:  tirar qualquer possibilidade de Lula voltar ao Palácio do Planalto.

Enquanto se empenha em destruir Lula, uma obsessão que surpreende juristas do mundo inteiro, Moro esquece suas obrigações como ministro da Justiça, fazendo vista grossa para o sumiço de Queiroz e as denúncias de ligações do clã Bolsonaro com milicianos. A sua ausência da segurança nacional e a sua proposta, que cria a figura do “excludente de ilicitude”,  serviram  de estímulo aos policiais militares do Ceará, que se amotinaram e chegaram a balear o senador Cid Gomes, irmão do ex-ministro Ciro Gomes, produzindo um caos naquele Estado, onde, com a ausência dos policiais rebelados das ruas,  registrou-se um homicídio por hora durante o movimento rebelde. Moro, que parece “imexível” no Ministério da Justiça – há quem diga que ele está garantido no cargo pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos – ainda não desistiu de eliminar Lula de vez do cenário político brasileiro. Inconformado com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que libertou o ex-presidente ao proibir a prisão após condenação em segunda instância, não perde oportunidade para criticar a Suprema Corte: “A revisão da prisão em segunda instância foi um retrocesso”, disse. O ex-juiz foi mais além, na maior cara de pau, ao dizer, defendendo a prisão em segunda instância, que “a Justiça não pode condenar réus sem provas contundentes”. Suas bochechas nem tremeram. Volta e meia ele inventa algum inquérito para tentar levar o líder petista de volta para a prisão. Recentemente o enquadrou na Lei de Segurança Nacional, acusando-o de  um suposto crime contra Bolsonaro que foi negado pela própria Policia Federal. E, como sempre, conta com a cobertura da Globo, que não consegue digerir Lula, noticiando com destaque qualquer coisa que possa enlamea-lo. 

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Aliás não é apenas a Globo que, junto com o ex-juiz, nutre um inexplicável ódio pelo líder petista. O fato de ter sido recebido em audiência pelo Papa Francisco, no Vaticano, desencadeou uma onda de ódio inclusive contra o Sumo Pontífice e a própria igreja católica. O deputado-príncipe Orleans e Bragança, bolsonarista roxo, chegou ao absurdo de questionar o Papa e classificar a igreja de “comunista”.  O general Heleno, por sua vez, “parabenizou” ironicamente o Papa nas redes sociais por ter “confraternizado com um criminoso”, o que “não chega a ser comovente mas é um exemplo de solidariedade a malfeitores, tão a gosto dos esquerdistas”, disse. A deputada Carla Zambelli também  condenou Francisco por ter recebido o homem que praticou “o maior crime de corrupção do mundo”, segundo suas palavras, embora até hoje não se saiba qual foi o crime que ele cometeu. Zambelli, aliás, na opinião do ministro Moro, que dançou no seu casamento, merecia a “medalha de caveira” do Bope. Para ele isso deve ter sido um elogio. Não é difícil perceber o tamanho do inexplicável ódio que esse pessoal nutre por  Lula: eles ficaram tão ensandecidos que agrediram até o Sumo Pontífice pelo simples fato de ter se encontrado com o ex-presidente no Vaticano.  

Esse pessoal, porém, não consegue mais enganar ninguém. Eles se esforçam em posar de bons moços, desejosos de combater a corrupção e melhorar o Brasil, mas suas atitudes revelam apenas sua ambição pelo poder. Na verdade, estão destruindo o país, desmontando todas as conquistas sociais dos últimos anos e empobrecendo a população, aumentando as desigualdades antes reduzidas pelos governos de Lula e Dilma. Todas as medidas do governo, incluindo as chamadas reformas, só produzem prejuízos para o povo e para o país. Nem os indígenas conseguem escapar da sanha destruidora do governo, que pretende entregar suas terras para exploração de madeireiros e mineradoras.  Enquanto o Tribunal Superior do Trabalho considerou ilegal a greve dos petroleiros, um direito do trabalhador consagrado pela Constituição, e a policia paulista de João Dória usou de violência contra os caminhoneiros grevistas, o presidente Jair Bolsonaro se mostrou  mais preocupado com a perícia nos celulares do ex-capitão Adriano, morto pela policia baiana. Por mais se esforce, Bolsonaro não consegue livrar-se da suspeita de ligações com o miliciano, que é acusado da morte da vereadora Marielle Franco. E o país, mergulhado num caos, segue como um barco à deriva, confuso e sem rumo. Até quando?  

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