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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

202 artigos

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Brasil em chamas

Bolsonaro lembra os turistas descritos acima, com seus gravetos, prontos para provocar uma catástrofe devastadora. A derrota dos seus candidatos, nas eleições municipais, não lhe baixou a arrogância. Que tome cuidado, é um conselho. Não demorará muito e as chamas que grassam em toda parte em território nacional, podem alcançar o Palácio da Alvorada

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Alguns instantes na história de um país lembram às vezes aquelas fogueirinhas que dois ou três turistas fazem, para se aquecer, quando entram no mato. Reúnem uns gravetos secos e acendem um fósforo. Nada que se diria capaz de provocar incêndios e dizimar florestas. Um pouco mais tarde, dão as costas e seguem o seu caminho. Não notam que as fagulhas crescem e que de repente ninguém pode com elas. No Brasil das queimadas, há quase sempre mãos criminosas, descuidadas com o meio ambiente. Gente que respira como nós e ri para a falta de oxigênio e o monóxido de carbono capazes de empurrar o planeta à extinção. E não agem por acaso. Cobiçam as terras para aumentar suas propriedades e alimentar o gado. 

O governo, que se mostrava indiferente, despertou assustado diante do clamor internacional contra o desleixo e a complacência das autoridades. A letargia é uma tática que pode dar certo por um tempo, mas não por muito tempo. Logo as pessoas, motivadas ou não por clareza política, começam a emitir opiniões que se somam ao restante do mundo. Algo semelhante ocorreu com George Floyd, nos Estados Unidos, e agora com João Alberto Silveira Freitas, espancado e morto por dois agentes de segurança do Carrefour, em Porto Alegre. No ambiente das redes sociais, a cena da brutalidade covarde correu os lares e a mente da população, daqui e de fora. Houve manifestações no Rio de Janeiro, em Porto Alegres, e em Salvador, com negros em protesto contra o racismo. 

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Enquanto isso, no Planalto Central, o Vice Humberto Mourão minimizava a gravidade do fato para os jornalistas, negando a dureza das relações interétnicas. Segundo ele, racismo existe nos Estados Unidos. Entre nós, não. Confundia apartheid com opressão social que se conserva, sim, desde a escravatura, algo que a lei da abolição (a Lei Áurea, da Princesa Isabel), atacando o problema apenas por um lado, não solucionou. O apartheid norte-americano serviu de modelo para os sul-africanos, só proibido depois da revolução que elevou Mandela ao poder. No nosso caso, basta possuir a pele escura e percorrer o comércio para experimentar e sensação de exclusão extremamente forte. Isso para não citar as estatísticas que apontam para os salários inferiores em relação aos brancos e as portas fechadas para as universidades, só abertas pelo sistema de cotas instituído, diga-se de passagem, por uma administração petista. 

Contudo, o rastilho do incêndio não se interrompe. O Presidente Jair Bolsonaro, que já atacou a China e, recentemente, os Estados Unidos de John Biden, ameaçando usar a pólvora, como se necessitasse de vítimas novas, voltou-se para a França. No começo da sua gestão, incomodado com observações feitas por Emmanuel Macron, comparou a mulher dele com a sua, enchendo o peito, vaidoso, para ferir a ética e desrespeitar a companheira de um Chefe de Estado. A resposta não tardou, como se necessitasse de um banho de boa educação. 

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Bolsonaro lembra os turistas descritos acima, com seus gravetos, prontos para provocar uma catástrofe devastadora. A derrota dos seus candidatos, nas eleições municipais, não lhe baixou a arrogância. Que tome cuidado, é um conselho. Não demorará muito e as chamas que grassam em toda parte em território nacional, podem alcançar o Palácio da Alvorada. De todo modo, nunca estivemos tão perto delas. É preciso frisar, Sr. Mourão, sobre João Alberto, vidas pretas importam. Não faça como o chefe. Não as subestime. 

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