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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Brasileiros refutam a ditadura. Mas por que estamos falando disto?

"Mal viramos o ano e nos deparamos com uma pesquisa do Datafolha apontando que 62% dos brasileiros não querem uma ditadura. Preferem a democracia como sistema de governo", escreve Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia. "Imprescindível, porém, é perguntar o que levou o Datafolha à realização da tal pesquisa.Por que um questionamento desse tipo, nesse momento?", questiona

(Foto: Reprodução)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Mal viramos o ano e nos deparamos com uma pesquisa do Datafolha apontando que 62% dos brasileiros não querem uma ditadura. Preferem a democracia como sistema de governo. O Datafolha questionou 2.948 pessoas nos dias 5 e 6 de dezembro, em 176 municípios de todo o país. Praticamente a terça parte dos entrevistados na pesquisa feita em 5 de outubro de 2018. Naquela ocasião, 10.930 pessoas foram abordadas em 389 municípios. Foi a última vez em que se ouviu sobre esse “monstro” que passou a rondar o cenário político nacional. Às vésperas, portanto, do primeiro turno da eleição que permitiu a chegada de Bolsonaro ao poder.

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Àquela altura, depois de 29 anos sem se falar abertamente este “palavrão”, a não serpara criticá-la ou estudá-la, era justificável abordar o tema em pesquisa. Afinal, lá em 2018, havia gritos de bolsominions pedindo a volta da ditadura. Ademais, uma declaração do general Hamilton Mourão, então candidato a vice na chapa de Bolsonaro caiu mal entre os que defendem o regime democrático, instituído pela Constituição de 1988.

Mourão disse, na época, que a criação de uma “nova Carta” deveria ser feita por“grandes juristas e constitucionalistas”. E, acrescentou: “uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo. Já tivemos vários tipos de Constituição que vigoraram sem ter passado pelo Congresso eleito”. Desnecessário lembrar que o general defendeu em cerimônia na Maçonaria, em Brasília, a intervenção militar. Além disso, a ditadura passou a figurar em discursos do tresloucado candidato Jair Bolsonaro. E vale lembrar que Bolsonaro, mesmo agora, no exercício do cargo, ora nega, ora elogia, a ditadura e os algozes que a serviram.

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Imprescindível, porém, é perguntar o que levou o Datafolha à realização da tal pesquisa.Por que um questionamento desse tipo, nesse momento?

Um dos motivos pode ser puramente comercial. Descobre-se, por exemplo, que nestasemana o grupo Folha lança um dos volumes de uma coleção que tem o ex-presidente João Goulart como personagem. Será? Vamos acreditar que sim. Afinal, eles são um grupo capitalista, capaz de abominar o presidente que os governa, mas incensar o seu ministro da economia, por defender o mesmo modelo que defendem.

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Voltando à pesquisa em si, as diferenças entre as duas abordagens tocando em tema tãodelicado nesse curto período, além do universo pesquisado, é a queda de sete pontos entre os que dizem preferir a democracia: caiu de 69% para 62%. Embora optasse por alardear esse dado (Por que é conveniente, agora, mostrar que há uma queda entre os amantes da democracia? Apoio a um novo possível golpe?). Melhor não fantasiar...

Há um outro fator, na pesquisa, que merecia destaque: 85% dos entrevistados comnível superior de escolaridade e 81% dos que possuem renda familiar mensal de mais de dez salários mínimos afirmam que a democracia é sempre melhor.

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Esta não é a faixa onde estavam localizados os que em 2016 pediam na Av. Paulista avolta dos militares e batiam panelas gritando “fora Dilma”? Não podemos deixar de pontuar isto. Alguma coisa acontece em seus corações.

É preciso também não perder de vista que 53% dos que ganham até dois saláriosmínimos não querem uma ditadura. E isto não é pouco. Trata-se de parcela expressiva da população, levando-se em conta que daí pra cima está a chamada “classe média. E não é ela quem decide para que lado o vento vai?

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Merece citação o fato de ter dobrado o percentual para quem “tanto faz” se o governo éuma democracia ou uma ditadura. Este índice saltou de 13% para 22%. Estão aí, neste nicho, os desencantados, os desiludidos com a política, os que votam nulo, ou em branco, e proclamam aos sete ventos que “político é tudo igual”.

Sem contar que 65% desconhecem o que foi o AI-5. Para esta parcela faltou aula de eeducação sobre a história recente. É comum, quando o AI-5 é mencionado, falar dos horrores das torturas. É preciso de dizer também que a ditadura matou e desapareceu com 434 indivíduos, contabilizados pela Comissão Nacional da Verdade e inseridos no seu Relatório Final. Uma das 29 recomendações da CNV era a de que esse relatório fosse divulgado nas escolas e lido e estudado no currículo das escolas de formação militar. Nada disto aconteceu, porque fomos engolfados pela onda fascista.

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Felizmente, apenas 12 % da população, que não representam nem os 30% de cativosamestrados de Bolsonaro, estão com a ditadura e não abrem. Resta-nos acreditar e comemorar que a Democracia ainda é o sistema político que a maioria elege. E torcer para que esse universo esteja disposto a defendê-la até o fim. Nas ruas, de preferência.

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