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Breve análise sobre o discurso da "nova política"

Marina não propõe absolutamente nada novo e o que deveria ser pós-moderno é apenas assimilado parcialmente na causa ambiental

Marina não propõe absolutamente nada novo e o que deveria ser pós-moderno é apenas assimilado parcialmente na causa ambiental (Foto: Cassio D Muniz)
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O crescimento da Marina Silva, guinada à cabeça da chapa presidencial com o advento da trágica morte de Eduardo Campos era previsível em função do capital eleitoral demonstrado na eleição passada. A dúvida pairava sobre a origem dos votos que robusteceria seu previsto crescimento. Verificou-se que seus potenciais eleitores adicionam os de Campos e subtraem, nesta ordem, os indecisos, os potenciais eleitores do Aécio Neves e daDilma Rousseff.

Em recente debate na Rede Bandeirantes notou-se o bom desempenho da Marina Silva, mas, beneficiada pelo fenômeno da repentina expansão, foi poupada pelos demais debatedores. Assim, eximida da pressão de expor um conteúdo programático, destacou-se pela forma com a qual conduziu-se no debate, isto é, o carisma. Dilma Rousseff, ao contrário, foi o alvo preferencial dos adversários dada a condição óbvia de incumbente e candidata melhor posicionada nas intenções de voto. Estóica, domina os números mas não tão bem a retórica. Aécio, por outro lado,foi o maior inquiridor mas, firme nas perguntas, também não foi desafiado. Em entrevista subsequente ao Jornal Nacional, Marina Silva foi, de fato, desafiada a esclarecer assuntos essenciais de seu discurso: um relacionado à ética, em função do espectro que ronda a aquisição da aeronave usada em sua campanha ainda como vice e outro, decorrente do anterior, relacionado ao conceito de “nova política”.

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Preservando postura sóbria, Marina Silva articulou-se muito mal na tentativa de explicar o imbróglio da aquisição da aeronave de sua campanha. Ainda que se exima individualmente da responsabilidade direta de tal transação, deve responder como usuária e beneficiária, na condição de candidata a vice, então, e presidente, agora. O fato, gravíssimo por sua própria natureza, ganha caráter exponencial dado o forte apelo ético de seu discurso.

O maior problema, todavia, decorre de sua incapacidade em articular um discurso coerente sobre o conceito de "nova política" porque simplesmente não há um. Primeiro, o discurso apolítico, em geral, e a negação de partidos políticos, em particular, são características de movimentos populistas, aqui definindo como governar à margem das instituições que articulam e agregam os interesses sociais e diretamente em contato com as massas. Segundo, odiscurso da “sustentabilidade”, aqui entendido como desenvolvimento sustentável, não tem nada de novo. Na Europa, por exemplo, tal discurso tem sido articulado nos últimos 30 anos pelos partidos de causa única. As duas expressões antípodas deste movimento são os verdes que, à esquerda, defendem o meio-ambiente e os fascistas que, à direita, opõem-se à imigração. Finalmente, o termo“sustentabilidade” isolado não significa absolutamente nada em política. Aplicado à questão ambiental, não obstante, ganha sentido político na chamada agenda pós-moderna, que pretende o desenvolvimento econômico associado à preservação dos recursos naturais. Neste mesma agenda pós-moderna enumeram-se causas de minorias difusas como união civil entre homossexuais; pro-escolha, ou controle sobre o próprio corpo, ou, simplesmente, o direito ao aborto.

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Assim, a "sustentabilidade" preconizada por Marina Silva simplesmente não se sustenta como discurso político coerente. A "nova política" não propõe absolutamente nada novo e o que deveria ser pós-moderno é apenas assimilado parcialmente na causa ambiental. As demais causas não são apenas omitidas de seu discurso mas rejeitadas por sua moral de viés religioso. Consequentemente, a articulação de causas sistematicamente opostas agrega, no mesmo discurso, questões pós-modernas e conservadoras.

A eficácia eleitoral decorrente do uso de conceitos abstratos procede por conta da exaustão do exercício continuado do poder pelo Partido dos Trabalhadores - sobretudo na classe média; da desconstrução midiática sistemática deste mesmo partido – vide mensalão; do clamor popular por mudança política - evidente nas manifestações de junho de 2013; e, finalmente, da incapacidade tanto da situação quanto da oposição estruturada institucionalmente de apresentar modelos alternativos de governança. Neste contexto, o discurso político abstrato seduz porque entregue por um candidato moralmente imaculado não pode ser teoricamente falsificado. Assim, à essência sobrepõe-se a estética.

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Cássio Muniz, muniz@uwm.edu é Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília e doutorando em Ciência Política pela Universidade de Wisconsin – Milwaukee.

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