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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Bundões esperam por bundinhas para mudar o país

"Muita gente ainda tem esperanças no impeachment de Bolsonaro, mas se depender do dono da Câmara dos Deputados, o bundinha Rodrigo Maia, o capitão não sai tão cedo do Palácio do Planalto", escreve o jornalista Ribamar Fonseca

Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro (Foto: divulgação)
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O presidente Bolsonaro, segundo pesquisa recente do DataFolha, tem a aprovação de quase metade da população do país. A primeira reação da outra metade, ao tomar conhecimento da pesquisa, foi de desconfiança: será verdade? A segunda foi de incredulidade: será possível?  Esse pessoal enlouqueceu ou é masoquista? Na verdade, nem uma coisa nem outra. Eles apenas manifestaram o seu atual estado de espírito produzido por pelo menos dois fatores: a eficiente indústria  de fakenews montada pelo capitão desde a campanha eleitoral e o auxilio emergencial.  No primeiro caso, usando a Internet, Bolsonaro alimenta permanentemente o seu público com notícias falsas, ao mesmo tempo em que apresenta o auxilio emergencial de 600 reais, obra da oposição no Congresso, como fruto da sua generosidade. E os beneficiários, felizes porque saíram momentaneamente do sufoco, esqueceram  dos 100 mil mortos pelo coronavirus ou simplesmente acreditam que o capitão não tem nada a ver com essa mortalidade.    

Entusiasmado com o crescimento da sua popularidade, impulsionada pelo auxilio emergencial, o capitão tratou de dar nova roupagem aos programas criados no governo Lula, numa tentativa não apenas de melhorar sua posição no Nordeste como, principalmente, de manter aceso o ânimo dos eleitores até 2022. Assim, reformulou os programas Minha Casa Minha Vida e Bolsa Familia, os quais, com novos nomes, deverão alimentar suas pretensões de reeleição. Em princípio essa estratégia pode dar certo, mas será muito difícil manter a sua atual popularidade até as próximas eleições presidenciais porque, além do temperamento irascível que o impedirá de ser  civilizado, muita coisa poderá acontecer durante o tempo que nos separa do pleito, inclusive a descoberta da sua participação direta no esquema de Queiroz, que depositou mais de R$ 80 mil na conta da sua esposa, Michele, o que fará cair de vez a sua máscara de combatente contra a corrupção, a exemplo de Moro e Dallagnol.

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Nos dois primeiros anos do seu governo, certamente orientado por quem entende do riscado, Bolsonaro passou por uma impressionante metamorfose: de presidente  raivinha,  no início do mandato, que agredia sobretudo a imprensa, o capitão assumiu pose de bom moço e pop star, inclusive desfilando montado em cavalo ou em moto em meio à multidão, com um sorriso de orelha a orelha, acenando para seus apoiadores. O homem passou a cultivar uma imagem mais light, simpática, ao mesmo tempo em que a indústria de fakenews trabalhava a pleno vapor, disseminando todo tipo de noticias falsas, uma delas o apresentando como responsável pelas obras de transposição do rio São Francisco.  Parecia que o Presidente, com a sua a nova cara, conseguiria superar a imagem de brucutu  marcada desde a campanha eleitoral. Mas isso não aconteceu.   

O Bolsonaro paz e amor  durou pouco. No último domingo o capitão voltou a ser o raivinha grosseirão de sempre ao ameaçar de porrada um repórter do Globo  que lhe fez uma pergunta sobre os depósitos de Fabricio Queiroz na conta da sua mulher,  Michele. Para completar, no dia seguinte chamou os jornalistas de “bundões”, só excluindo Alexandre Garcia, seu porta-voz informal, talvez por considerá-lo “bundinha”. O presidente confirmou, assim,  aquele velho dito popular, segundo o qual  “pau que nasce torto não tem jeito, morre torto”.  Não adianta tentar civilizá-lo. Ele é grosso de nascença. E, mesmo ocupando o mais alto cargo da Nação, obrigado a ter um comportamento civilizado, não mudará,  a não ser, talvez, na próxima encarnação. Ainda assim pretende mais quatro anos de mandato, provavelmente porque já percebeu que as instituições, em especial o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, nada farão para interromper sua trajetória de destruição e grosserias à frente do governo. Todos assistem, intimidados, suas atitudes tresloucadas, que, entre outras coisas, ameaçam destruir a Amazonia. Quanta diferença do presidente português Marcelo Rebelo, mostrado pelo Fantástico.  

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Muita gente ainda tem esperanças de que a situação pode mudar com o seu impeachment, mas se depender do dono da Câmara dos Deputados, o bundinha Rodrigo Maia, o capitão não sai tão cedo do Palácio do Planalto. Já existem mais de 50 pedidos no Parlamento, mas Maia insiste em ignorá-los sob os mais cínicos pretextos. Na verdade, o  impeachment não solucionará o problema Bolsonaro, porque com a sua saída o vice-presidente Hamilton Mourão assumiria o cargo, o que seria o mesmo que trocar seis por meia dúzia, porque o general é um Bolsonaro baixinho sem os olhos azuis.  Provavelmente nem ministros ele mudaria caso assumisse a Presidência. A solução mesmo viria através do Tribunal Superior Eleitoral, com a cassação do mandato dos dois, cuja chapa foi acusada de fraude nas eleições de 2018 e cuja ação já tramita naquela Corte, onde a decisão só depende da coragem dos ministros, pois haveria  provas suficientes para defenestrá-lo.

O presidente e vice tem consciência do que fizeram e, consequentemente, sabem que podem ser cassados. Por isso, pediram ao TSE para que não inclua na ação a investigação do facebook, que baniu perfis bolsonaristas usados para a disseminação de noticias falsas durante a campanha eleitoral e que prejudicaram o candidato petista Fernando Haddad.  Também pediram para que não seja incluída a investigação realizada pelo Supremo Tribunal Federal sobre fakenews. Obviamente eles  estão com receio de que  a Corte Eleitoral possa cassá-los e, por isso, tentam evitar que as investigações do Facebook e do STF se tornem agravantes para viabilizar a cassação.  Como a Justiça parece desacreditada, porém, os bundões não acreditam  que o TSE venha realmente a cassar a chapa Bolsonaro-Mourão. A não ser que os bundinhas tomem consciência da necessidade de mudar a situação do país.

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