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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Caiam na real: a droga venceu vocês, caretas, crédulos e cínicos

Se as pessoas não souberem o que querem, será o Estado que saberá? Esse tutelismo do Estado já foi longe demais. Figuras como FHC e Vargas Llosa, dois velhos-jovens já pediram ao mundo a revisão da forma policial estatal com a maconha

Bras�lia - A Marcha da Maconha na capital com passeata do Museu da Rep�blica rumo ao Congresso Nacional, com batucada e cartazes. Em 2011, o evento foi proibido e convertido em Marcha da Pamonha. O Supremo Tribunal Federal se pronunciou pela legalidade da (Foto: Jean Menezes de Aguiar)
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Não, este artigo não é uma apologia às drogas. Poderia ser muito mais que isso, noutra leitura, trágica. É uma visão cansada, ou famélica mesmo, de uma política norte americana imposta de 'guerra às drogas' – GAD. Essa crença velha que tanto serviu como fonte de dinheiro e fonte de ideologia para aqueles e estes, cínicos e crédulos. E que também foi obrigatória no Cone Sul como modelo dependente de um Tio Sam idealizador da política no setor.

Este modelo, GAD, não é o único no mundo. A França por exemplo ironiza em certa medida a tal 'guerra'. Realista, sabe que não se vence essa guerrilha social de uso pessoal, esse autoterrorismo psicodélico da personalidade que opta por ficar doidona, ou, desgraçadamente, se vicia e não sabe voltar.

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A GAD é o modelo repressivo, policial, da porrada, da tranca, do delegado e das invasões a residências atrás de maconha ou cocaína. Mas ela não cai na real. Ou pior, não pode assumir que faliu, não pode dizer a verdade. Tem que mentir após se descobrir impotente.

O Estado é dos velhos, idosos, mas o mundo é dos jovens. Este simplismo apenas deveria ajudar a contribuir para a questão. É óbvio que nem todo jovem seja usuário, mas também é óbvio que a simples visão dos velhos do Estado – as 'excelências'- seja essencialmente diferente da dos jovens. Não só nas drogas, mas em muitas coisas.

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E aí viria um questionamento de base legitimante: os jovens, sim, todos que pagam impostos, como qualquer pessoa, não são cidadãos e não devem ser 'ouvidos'? Suas ideologias, culturas, modos e jeitos não devem ser respeitados? Ou respeitar é, por exemplo, 'deixar' que eles façam uma passeata por ano na avenida travestidos de mulher?

Algumas 'pautas' já foram conquistadas. Mas falta uma essência legitimante em se respeitar efetivamente o jovem. Não apenas 'dizer' que respeita. E isso passa pela assunção de políticas que possam ser contrárias a uma caretice ou ortodoxia do Estado e seus velhos – deputados, senadores, presidentes, chefes, 'autoridades' etc.

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Na conversa da droga também é óbvio que há drogas e drogas. Um bom senso sempre é buscado e jamais se pode abrir mão dele. Mas não o 'bom senso' que imperou até agora, com a GAD.

A maconha desmoralizou o sistema. Expôs sua fraqueza autoritária e formalista em proibir, prender e punir o maconheiro como criminoso – sim, 'maconheiro' sim, sem se estigmatizar o termo; quem usa maconha é maconheiro; simples assim, sem punições semânticas ao termo-.

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Esta desmoralização também deixou exposto o lado crítico desse mesmo Estado com seus velhos, ou não só velhos, mas, aí sim, caretas, ortodoxos, conservadores e retrógrados.

E essa desmoralização poderia ser uma grande coisa que a maconha teria feito numa sociologia que investigasse o sistema e sua falsa ortopedia moral. A conclusão é: o Estado não está certo sempre. As políticas do Estado não estão certas sempre. E os homens do Estado não estão certos sempre.

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É claro que a desgraça da droga – certas drogas- para a família é inquestionável, a dor e o custo, sob todos os sentidos são sérios demais, para que o Estado queira 'adivinhar' o que pode ser melhor para as pessoas e para as famílias, tudo de uma forma autoritária e legalista.

Vive-se um momento secular no mundo em que 'escolhas' precisam ser respeitadas. O Uruguai passou a vender maconha semana passada, neste julho/2017, em 14 farmácias para milhares de pessoas credenciadas. É um passo honesto e humilde do Estado à escolha de seu cidadão.

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Se as pessoas não souberem o que querem, será o Estado que saberá? Esse tutelismo do Estado já foi longe demais. Figuras como FHC e Vargas Llosa, dois velhos-jovens já pediram ao mundo a revisão da forma policial estatal com a maconha.

E nem se caia no maniqueísmo de achar que jovem 'pensa' e velho é burro. Nada disso. Velhos têm experiência, conhecimento e janela de vida. Mas parece que em certos temas e em certos lugares há uma velharada burra que foi escolhida. Ou eleita.

Do mesmo modo que o terrorismo venceu, e os mísseis terra-ar, terra-mar, terra-morro, terra-favela ou sabe-se lá que idiotice for, não conseguem vencê-lo, porque o terrorismo é simplesmente assimétrico ou viral, o uso pessoal da droga obedece à mesma lógica. Quem chupa seu cigarro de maconha não pode ser julgado por quem entorna uísque para dentro nos 'salões', vomita no lavabo, passa a mão na mulher dos outros e acorda surpreso atracado com um garotão no dia seguinte.

Há muitas hipocrisias na sociedade que poderiam ser combatidas suavemente, delicadamente. Com inteligência e gentileza. Mas parece, mesmo, que as sociedades gostam delas.

Certamente não há uma solução cartesiana, exata para o problema das drogas. É como Norberto Bobbio ensina no livro A era dos direitos, relativamente à pena de morte, não se pode matar, apenas isso; esqueçam-se fundamentos e 'lógicas'; não se mate.

Uma coisa se sabe, grande parte do problema das drogas, pelo menos a que diz respeito a milhões de usuários, não deveria ser caso de polícia, algemas, armas e viaturas. Mas de gentileza, compreensão, amizade, tratamento, novos parâmetros, inteligência e genialidade. O problema é enfiar isso aí no Estado.

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