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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Caiu a máscara de Temer

Nada mais surpreende o brasileiro sério, que assiste, estarrecido, um homem mais sujo do que pau de galinheiro, o deputado Eduardo Cunha, abrir um processo e presidir o julgamento de uma pessoa íntegra como a presidenta Dilma Roussef, com o apoio dos mesmos tucanos que se dizem moralistas

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Parece não haver mais dúvidas de que o vice-presidente Michel Temer está mesmo participando da conspiração para derrubar a presidenta Dilma Roussef, certamente convencido de que esta é uma rara oportunidade para ser Presidente da República sem ter votos e sem nenhum esforço. A renúncia do ministro Eliseu Padilha e o seu encontro reservado com o governador Geraldo Alkmin, de São Paulo, foram sinais claros do seu engajamento no processo do golpe. Além disso, tergiversou na resposta à declaração da Presidenta, de que conta com a sua total confiança e lealdade. Ao invés de reafirmar essa confiança, disse que não praticaria "deslealdade institucional", ou seja, como vice ele tem o dever de ser leal à Presidenta mas, como isso não envolve sentimento, na qualidade de presidente nacional do PMDB está desobrigado de lealdade, o que lhe permite conspirar.

"Seja sob o império da presidente Dilma ou de qualquer um que chegue ao poder, é preciso reunificar o país", disse o vice-presidente em entrevista ao jornalista Josias de Souza, da "Folha". Temer, em sua entrevista, mostra-se confiante, talvez por já contar com os votos do PSDB que, apesar da ação no TSE pedindo a cassação do mandato dele e da Presidenta, parece ter percebido que o impeachment é o melhor caminho para derrubar Dilma porque, neste caso, terá os votos do PMDB para atingir seus objetivos. Para isso, no entanto, parece ter sido decisiva a conversa com o governador paulista, a quem ele teria prometido não disputar a eleição presidencial em 2018, abrindo desse modo o caminho para a tucanada chegar ao poder. Pelo menos é isso que está sendo especulado pelos observadores políticos, que acompanham atentamente a movimentação do vice.

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Em suas declarações Temer, na verdade, já se insinua como o reunificador, o salvador da pátria, com o apoio explícito dos tucanos, a começar pelo tucano-mor Fernando Henrique Cardoso que, em artigo publicado no final de semana, defende o golpe, mesmo admitindo não existir crime. "Embora não pareça haver envolvimento pessoal na montagem e gestão da organização criminosa que tomou de assalto o Estado brasileiro, Dilma Rousseff tem responsabilidade política pelo que aí está, quando mais não for porque ocupa hoje a Presidência da República". Ou seja, na ótica de FHC, da oposição e da mídia o crime de Dilma foi ter sido eleita Presidente da República.

Aliás, tucanos, oposicionistas e mídia estão afinados no discurso golpista, conforme se constatou no mais recente programa partidário do Democratas, onde a queda da Presidenta foi defendida abertamente, e no editorial da revista "Veja" em sua edição do último final de semana, onde, entre outras coisas, se lê: "Embora tenha sua origem na acusação de crime de responsabilidade contra um presidente, o impeachment é essencialmente um processo político. Seus rumos e seu desfecho não são determinados pela força ou fraqueza das evidências de autoria do crime imputado ao presidente, mas pelo somatório de forças contra e a favor de sua destituição. A presidente manterá seu cargo enquanto contar com uma base forte de sustentação no Congresso. Se perder essa base, perderá o mandato". Quer dizer, a eleição não tem validade se o eleito não tiver uma base no Congresso. A "Veja" mudou o conceito de democracia para atender aos seus interesses.

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Com suas frequentes crises de amnésia-cínica, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda em seu artigo, aponta a prisão do senador Delcídio Amaral como exemplo da crise moral e da gravidade da situação do país, esquecendo que foi ele mesmo, FHC, quem, quando Presidente, colocou Delcídio no proscênio nomeando-o para uma diretoria da Petrobrás. E mais: ele acusa Lula, afirmando que
"a responsabilidade pelas crises é do lulopetismo, como há anos venho denunciando. Basta ler meu livro "A miséria da política". Ora, quem também quiser conhecer efetivamente FHC basta ler o livro "O Príncipe da Privataria", do jornalista Palmério Dória, onde são expostas as vísceras do seu governo privatista, a começar pela compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição que lhe garantiu oito anos no Palácio do Planalto, com depoimento, inclusive, de um dos deputados que venderam o seu voto.

O cinismo do ex-presidente tucano mais se acentua quando, após pregar o golpe, afirma no mesmo artigo: "Se quiserem saber minha torcida íntima (e não política), tomara que a própria presidente ainda encontre forças para reconstruir seu papel na História". Ao finalizar, ele diz, como se ainda pudesse enganar alguém: "Não é o momento de pensar no "meu" interesse, nem no partidário, mas, sim, no do povo que está perdendo emprego e renda, e nos interesses do Brasil". Ora, desde o início dessa "crise" os tucanos não tem pensado em outra coisa a não ser nos próprios interesses, colocados acintosamente acima dos interesses da Nação, criando toda sorte de dificuldades para a governabilidade e provocando recessão e desemprego. Essa conversa mole não consegue mais convencer ninguém, a não ser aos que se opõem ao governo.

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Na verdade, nada mais surpreende o brasileiro sério, que assiste, estarrecido, um homem mais sujo do que pau de galinheiro, o deputado Eduardo Cunha, abrir um processo e presidir o julgamento de uma pessoa íntegra como a presidenta Dilma Roussef, com o apoio dos mesmos tucanos que se dizem moralistas. Sem dúvida um absurdo assegurado pela banda podre de um Congresso que, se não reagir a tempo, pode se desmoralizar de vez. Representantes dessa banda, quando falam na televisão, como Aécio Neves e Paulinho da Força, quase conseguem exalar o mau cheiro que caracteriza a ambição pelo poder e seus interesses pessoais.

Por sua vez, com aquela voz fina e melíflua de traíra, Cunha provoca ânsia de vômitos. É um absurdo que a democracia e, mais precisamente, o Brasil possa ficar nas mãos de um homem como esse, que envergonha os seus eleitores e deveria envergonhar a Câmara. Infelizmente existe um contingente de deputados praticamente desconhecidos do país que se transformaram em marionetes de Cunha e se movem ao sabor dos seus interesses, como bosta de marinheiro, pois ninguém consegue entender como ele se mantém na presidência da Casa com todas as graves acusações, algumas acompanhadas de provas, que pesam sobre seus ombros. Que poder ele exerce sobre seus pares para se manter incólume?

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O que impede a Justiça de afastá-lo? Por que a Lava-Jato prende Delcídio, acusado de tentar obstruir as investigações, e faz vista grossa para Cunha, acusado de receber propinas e de ter dinheiro suspeito não declarado em bancos suiços? Será que alguém consegue responder a essas indagações?

 

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