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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Capital em crise não vai à guerra como antes

"Os ingênuos neoliberais dizem que a saída é a tecnologia que aumenta o gap entre mercadoria e dinheiro! Há, Há, Há", escreve César Fonseca

(Foto: Reprodução)
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Por César Fonseca

O instigante artigo de Pedro Pinho, A atual crise mundial: sua natureza social e desafio para as ciências sociais, no 247, evidencia o que Marx discutiu com grande intensidade em O Capital; o problema do capital, dizia ele, é o próprio capital; revolucionou as técnicas e a ciência, colocou-as a serviço da produção e do aumento exponencial da produtividade, mas encontrou seu obstáculo nas relações sociais da produção; a ciência e a técnica elevam sem limites a produção, mas esta não é, no modo de produção burguês, destruída pelo consumo; o acabamento da produção só se dá com sua destruição no consumo; isso não acontece porque, no capitalismo, quanto mais expande a produção, mais se evidencia crônica insuficiência de demanda para destruí-la; se o equilíbrio do sistema ocorresse entre produção e consumo, sem visar o lucro, de forma que toda oferta gerasse sua própria demanda correspondente, como teoriza Jean Baptiste Say, tudo bem; mas, ainda, não nasceu capitalista que trabalhe sem visar lucro; e como o lucro se evidencia, senão por meio do roubo do salário do trabalhador, denominado mais valia?

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O valor que o trabalhador produz em forma de mercadoria, valor-mercadoria, destinada ao consumo, é muito superior ao valor que recebe em forma de salário, valor-trabalho; sobra valor-mercadoria, quanto mais avança a técnica associada à ciência que eleva, exponencialmente, a produtividade, mas falta valor-salário que se destina à destruição das mercadorias que são colocadas no mercado; os capitalistas visionários e os economistas que eles botam para trabalhar em favor dos seus interesses, dizem que a saída é mais investimento em tecnologia, para não deixar a bicicleta parar e desabar; mas inovação tecnológica sem limite gerará superprodução de mercadorias, enquanto não haverá valor-trabalho para destruí-las no consumo; a social democracia regride ao fascismo em todo o mundo, justamente, por isso; o problema do sistema, então, não é insuficiência de investimento, mas o seu inverso, ou seja, crônica insuficiência de consumo.

CRISE CAPITALISTA

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Lauro Campos, em A crise da Ideologia Keynesiana(2012, Boitempo), disseca, espetacularmente, o problema; a crise no Departamento I(D1), produtor de bens de produção, avança porque ele cresce mais que o Departamento II(D2), produtor de bens de consumo, inviabilizado pela exploração da mais valia, enquanto vigora o diagnóstico neoliberal de que a insuficiência é de investimento e não de demanda/consumo; entram em colapso, como aconteceu em 1929, D1 + D2, levando a economia à deflação; aumentam os estoques e a ociosidade industrial.

Que fazer? Comprar máquinas novas para colocar no lugar das que estão paradas? Para salvar D1 e D2, produtores de mercadorias, que desembocam em espiral deflacionária, jogando o sistema e sua taxa de lucro no chão, faz-se necessário D3 - Departamento III -, produtor não mais de mercadorias, mas, sim, de não-mercadorias, destrutivas, cujo consumidor não pode mais ser o consumidor de mercadorias, mas sim o de não-mercadorias, com sua moeda própria, inconversível, inflacionária, ou seja, o Estado, demanda estatal.

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Para evitar expansão inflacionária incontrolável, o Estado imperialista, com sua moeda, sem lastro real, compra não-mercadorias, dissipadoras, principalmente, produtos bélicos e espaciais, destinados à destruição, elevando, consequentemente, a dívida pública; a dívida estatal passa a crescer no lugar da inflação, para evitar hiperinflação, implosão do sistema capitalista, salvo, temporariamente, historicamente, pela moeda estatal inconversível, inflacionária, o dólar, moeda da crise, em D3; consegue-se, dessa forma, expandindo inflacionariamente, D3, salvar D1 + D2, tornando, nesse dois departamentos, escassa a oferta, que eleva preços(inflação), sem a qual o empresário não investe; D3 puxa, tortuosamente, D1+D2; sem dívida pública para esconder a inflação não tem solução; a inflação, segundo Keynes, é o elixir dinamizador da taxa de lucro, sem a qual o sistema capitalista arria. 

COLAPSO DE D3 

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O que se vê, agora, na presente crise global, é o colapso global da dívida pública capitalista, isto é, colapso de D3, que nasceu para salvar D1+D2, a partir do crash de 29. E, agora, que fazer, se o processo de sobreacumulação de capital, que se descolou da produção para a especulação, afeta não, apenas, o capitalismo da produção e do consumo, mas, sobretudo, o capitalismo financeirizado gerado pela produção de não-mercadorias(guerra), produção da destruição, da dissipação necessária, bancado pela dívida pública, pela moeda estatal inconversível? As cabeças coroadas do capitalismo financeirizado quer resolver a contradição entre mercadoria e dinheiro, decorrente da destruição do valor-trabalho, com destruição da classe média, mediante forçado despovoamento global; mas, como alcançar essa utopia, se a tecnologia, com menos consumidores globais, eleva a oferta em relação à demanda, aumentando sobreacumulação de capital, que joga no chão a taxa de lucro do investidor?

Os ingênuos neoliberais dizem que a saída é a tecnologia que aumenta o gap entre mercadoria e dinheiro! Há, Há, Há, como diria o saudoso repórter Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa. Como, se mais inovação, ciência e produtividade, em meio à destruição dos salários por meio da mais valia - lucratividade marginal do capital – inviabiliza-se o lucro? Biden, na eleição, prometeu aumentar de 7 para 15 dólares a hora de trabalho; não conseguiu; por isso, pode perder eleição nos Estados Unidos. Quem, nesse contexto de destruição neoliberal dos salários, investirá para não ter lucro? Tio Sam, diante da aliança Rússia-China, intensificada na guerra na Ucrânia – Rússia x EUA/Otan – pisa no freio dos gastos públicos, negando mandar soldados para a guerra; ficaria sem gás, jogando o dólar na inflação que desencadeou com sanções comerciais à Rússia. O capital não está indo mais à guerra, com medo da inflação. Não é à toa que os Estados Unidos perdem a corrida para a China. Resta o que vai se tornando inviável: continuar de qualquer jeito com a guerra para garantir a rentabilidade capitalista na compra dos títulos do tesouro para financiá-la, no compasso do endividamento público exponencial. Até quando o Estado imperialista suportará a dívida pública incomensurável? D3 vira peso insuportável para Tio Sam.

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