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Valéria Dallegrave

Jornalista, escritora e dramaturga

35 artigos

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Carnaval de luto

Fico pensando quantas vezes Arthur perguntou aos pais pelo avô e sentiu saudades de brincar com ele. Deve ter sido necessário explicar mais de uma vez... E como explicar!? Não, a dor da família Lula não começou hoje. A dor é contínua e agora chega a um ponto máximo...

Carnaval de luto (Foto: Ricardo Stuckert)
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Chove no Ceará, onde resido agora. Minha alma agradece a chuva, que cai como um consolo, uma benção por aqui. Nunca fui muito aficcionada pelo carnaval. Acredito que ter nascido no Rio Grande do Sul não me deu uma alma especialmente carnavalesca. Na adolescência, "pulei" o carnaval em clube. Não tive samba, nem avenida, nem abadá. Assim, raramente participei desta alegria artificial coletiva, e espero que os de alma carnavalesca me perdoem a visão empobrecida desta grande festa brasileira.

Não sabia bem o que fazer com este carnaval. Pensei até em me deixar levar um pouco, para aliviar a tristeza pelos dias difíceis que temos atravessado. Mas aí chegou a notícia inesperada. De tantas mortes possíveis, quem espera que morram primeiro as crianças!? O neto de Lula, Arthur, perdeu a vida, vítima de uma doença impiedosa. O carnaval virou luto.

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Nas redes sociais, a ignorância e o ódio deram mais uma amostra do estado lastimável em que nossa sociedade está. O choque com os comentários extremamente insensíveis tomou uma dimensão muito maior. Alguns descobriram a verdadeira natureza de quem está ao seu lado. Muitos de nós fomos testados, na medida em que é difícil não responder com ódio a tais expressões absurdas do próprio ódio. Surge, às vezes, um sentimento de que o copo d,água transbordou, com as repetidas experiências e notícias de violências - físicas e verbais - contra quem ainda tenta lutar por um mundo melhor. Vide a sanha repressora para com os professores, heróis anônimos de um cotidiano em que a degradação dos valores torna banal o desrespeito e a intolerância.

Arthur, que partiu como um anjo, cometeu um pecado: Nasceu na família Lula da Silva, seu avô foi líder sindical, depois Presidente e agora preso político. As instituições, hoje em dia, se vergaram frente ao pensamento opressor e rancoroso das elites retrógradas, que nunca perdoaram a um operário a ousadia de ter se tornado o melhor Presidente que o Brasil já teve.

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Acusaram, e ainda acusam, injustamente, sem provas consistentes, Condenam unanimemente nas grandes redes de TV, e nos grandes jornais. A justiça e a polícia são braços armados aplicando violências diversas contra Lula e todos que ousam apoiá-lo. Parte do público, sem compreender que as instituições não realizam mais o papel para o qual foram criadas, deixou-se convencer por notícias mentirosas, forçadas, manipuladas para atingir emocionalmente. Deixou-se convencer por não ter capacidade crítica frente às escolhas de uma mídia completamente tendenciosa. E o lado de Lula começou a ser silenciado. Nem a perda da companheira de tantos anos, Marisa, foi tratada com a humanidade que deveria ser normal. Suas caravanas, apesar de alcançarem grande público por onde passassem, não tinham destaque nas notícias, ou apareciam em contexto distorcido, para reforçar a aversão a ele. Logo, a justiça tratou de silenciar Lula, finalmente, o trancafiando em uma cela em Curitiba.

Querem que ele seja esquecido, para ser mais fácil fazer a maioria voltar a uma situação de semi-escravidão, para transformar a esquerda em um tabu e, assim, impossibilitar quaisquer reações políticas contra o golpe e tudo que ele trouxe consigo...

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Trancafiaram Lula na capital de um outro Estado e confiscaram os bens da família. Confiscaram até o tablet do menino Arthur... Mas o pior mesmo foi terem roubado dele a convivência com o avô, que sempre demonstrou muito carinho pela família (e por todos que o cercam). Lula foi proibido de conviver com os seus. Não teve oportunidade de se despedir do irmão, que foi para ele um pai... e agora isso: Como recuperar os meses passados longe do pequeno Arthur!? Como desfazer esta injustiça suprema!?

Fico pensando quantas vezes Arthur perguntou aos pais pelo avô e sentiu saudades de brincar com ele. Deve ter sido necessário explicar mais de uma vez... E como explicar!? Não, a dor da família Lula não começou hoje. A dor é contínua e agora chega a um ponto máximo...

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Me pergunto porque tanta gente que agora consegue, excepcionalmente ser solidária, nunca se comoveu antes com a dor da família Lula da Silva. Eu sei a resposta: é porque a grande mídia não fez nenhuma matéria sobre isso. A insensibilidade coletiva vem da mesma fonte que os adestrou a odiar e a achar normal fazer sinal de arminha (todo gesto tem uma carga simbólica que vai potencializando os atos)...

Quero me dirigir a vocês, que estão consternados pelas manifestações mais baixas do ódio, ao usar como tema a morte de uma criança, mas não conseguem ainda se comover com a dor: Tudo que nós, que defendemos Lula tentamos, desde o início, foi pedir o benefício da dúvida. Compartilhamos exaustivamente nas redes links com a versão da mídia alternativa sobre os fatos, com a esperança de que lhes fosse possível conhecer diferentes pontos de vista e opiniões de juristas e analistas. Os memes, entretanto, e a desinformação do whatsapp parecem ter caído como uma luva sobre as ideias já estabelecidas com as repetições de mentiras da grande mídia...

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Alguns insinuaram que Lula se aproveitaria politicamente desta dor que deve estar sufocando por dentro. Entendo o medo que demonstram, ele é o que se chama de um "animal político", no sentido mais simples (e genial). Qualquer lamentação ou expressão de dor articulada em público soaria como um discurso político. Lula estar respirando é um ato político, entendem!? Mas seus algozes sabem que matá-lo seria ainda pior...

E o espetáculo que vimos não foi da parte de Lula ou de sua família, foi o desfile do ódio e da intolerância. Ele, que nunca teve, nem entre as acusações injustas que criaram, nenhuma ligação com milícias, e nunca ostentou armas, muito menos seus filhos, foi conduzido com o mesmo tipo de escolta, armada até os dentes, que um grande líder da máfia teria.

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Aos que veem em cada pequeno gesto de Lula uma tentativa de manipulação política, desejo que consigam perceber o quanto a imprensa tradicional e as instituições têm funcionado politicamente(e manipulado opiniões). É isso que os tornou cegos para a dor deste homem que já fez tanto pelo povo brasileiro. Hoje, Lula é um avô destroçado, que teve roubado o direito de conviver com o neto amado os últimos meses de vida. Que Lula e sua família fiquem com Deus, e tenham o consolo divino. Que a energia do amor e das orações dedicadas por tantos de nós a eles cheguem até seus corações e almas. Aos restantes, que cada um fique a sós com sua consciência – e eu espero, sinceramente, que ela não te devore...

*Todo meu carinho e orações para Lula e sua família. Nosso abraço para vocês é do tamanho do Brasil.

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