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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Censura! É disto que se trata, minha gente!

"Por trauma, timidez ou conveniência política de se tentar manter as aparências do que não tem mais jeito de dissimular, não vejo colegas, epidemiologistas, médicos, autoridades, tratando a coisa com o nome que ela tem. Censura", avalia a jornalista Denise Assis

Cemitério Nossa Senhora Aparecida – Manaus (Foto: Marcio James / Semcom)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Esconder, escamotear, ocultar, alterar, mascarar, fraudar, CENSURAR! É DISTO QUE SE TRATA, MINHA GENTE! Qual é a dificuldade de se chamar pelo nome aquilo que nome já tem? Por que não vejo em manchetes o termo correto para o objeto oculto nas informações? O que Bolsonaro está fazendo com os números dos contágios e mortes pela pandemia do coronavírus se chama assim: censura.

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Por trauma, timidez ou conveniência política de se tentar manter as aparências do que não tem mais jeito de dissimular, não vejo colegas, epidemiologistas, médicos, autoridades, tratando a coisa com o nome que ela tem. Censura.

E censura não é exercida só com decreto em vigor. É censura o ato de tentar calar a respeito de qualquer assunto que incomoda a governos ou a instituições. E só não deu certo porque a mídia exerceu o seu direito de informar (enquanto há espaço para tal), porque houve, por parte de Bolsonaro e seus cúmplices erro de conhecimento da máquina pública. Esqueceram que prefeituras e estados poderiam repassar livremente os dados. E quando digo aqui “livremente”, não estou tentando tirar a força do termo “censura”, pois foi isto o que houve. Mas deixando claro e apontando onde e porque falhou. A simples tentativa em si, volto a dizer, mesmo sem decreto em vigor, sem oficialidade, atende por este nomezinho tão evitado nos últimos dias. CENSURA.

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Posso Sentir o cheiro de longe. Vivi da infância à idade adulta sob o jugo da ditadura. Não precisava pesquisar, – mas em nome da fidelidade dos fatos – relembro aqui de tema já tratado em artigo anterior, no início do surto da Copvid-19 -, a epidemia de meningite que os militares de outrora tentaram esconder, e já tão fartamente tratada ao longo da semana anterior. Resgato relato preciso do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo – (CREMESP), do episódio.

“Apesar da situação, a letalidade, que de 1970 a 1972 variou entre 12% e 14% dos casos, a partir de 1973 declinou acentuadamente, atingindo o valor mais baixo (7%) em 1974. O maior número de óbitos foi observado em 1975, quando foram registrados 411, média de 1,15 ao dia. A letalidade da meningite tende a diminuir exatamente nos momentos epidêmicos, em decorrência do diagnóstico precoce e da introdução oportuna de tratamento.

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A troca de presidente, com a entrada do general Ernesto Geisel, em 1974, facilitaria a mudança de atitude das autoridades. Em julho de 1974 foi criada a Comissão Nacional de Controle da Meningite, encarregada de traçar a política de vigilância epidemiológica. O número de casos registrados em janeiro de 1975 foi seis vezes maior do que o mesmo mês de 1974. Ironicamente, a meningite que tem o início de sua história na contaminação de soldados em postos militares, parecia não querer dar tréguas ao regime.

Em março de 1975 foi elaborado o plano básico de operações para garantir a vacinação de 10 milhões de pessoas em apenas quatro dias. A parte operacional da campanha esteve a cargo do exército. O esquema adotado durante a campanha não permitiu que fosse fornecido qualquer comprovante às pessoas vacinadas, nem o registro do número de vacinados”.

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Mas não foi só a meningite que tentaram ocultar. A Censura naquela época (os anos de 1970/1980) se alastrava por todas as áreas da sociedade. Temos o dever de lembrar que hoje, quando se nega a existência da inflação na ditadura, é por conta dos expurgos praticados pelo então ministro Delfim Neto, sob a orientação do governo, (mas com o seu mais completo beneplácito), em produtos que, por irem mal em uma determinada safra, pressionavam os números da inflação para cima. Em conluio com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável por calcular o índice, na época em total cumplicidade com o ditador de plantão, retirava o legume ou o alimento “delinquente” do cálculo, tornando-o mais “divulgável”.

E foi então, numa determinada safra, que tomate e abacate foram dois grandes vilões da elevação do índice da inflação. Tal momento, (foi o que se comentou na época), teria inspirado a canção do talentoso e politizado Gilberto Gil, para compor a sua maravilhosa “Refazenda”. Os jovens que hoje visitam a sua obra e a cantam despreocupadamente, não sabem, mas saibam que na “refazenda, tu me ensina a fazer renda, que eu te ensino a CENSURAR”.  Desculpe, Gil, alterar a sua obra, mas é por uma boa causa. Para me redimir, aqui reproduzo “Refazenda” na íntegra: Abacateiro acataremos teu ato/Nós também somos do mato como o pato e o leão/Aguardaremos brincaremos no regato/Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração/Abacateiro teu recolhimento é justamente/O significado da palavra temporão. Enquanto o tempo não trouxer teu abacate/Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão/Abacateiro sabes ao que estou me referindo...

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