Ciro Gomes afronta a hipocrisia nacional

Como qualquer ser humano, Ciro Gomes sofre de algumas imperfeições, características da espécie, algo habitual para o gênero.

Dentre as imperfeições, porém, não constam algumas muito características de vários políticos, como a de ter caráter duvidoso, desvio ético, ou de salteador do dinheiro público. Como diz o próprio Ciro Gomes, essas características não são virtudes, e sim obrigação.

No entanto Ciro carrega em si um peculiar predicado que desequilibra e irrita profundamente a classe política pátria: Ciro Gomes não sofre de hipocrisia. Essa propriedade que oculta a verdade por meio de subterfúgios de aparência conivente, de uma moral inventiva, que dissimula atributos inverídicos, em uma grande representação teatral.

Essa patologia crônica, de nossa classe política, tem suas raízes em sua elitização e litígio com a realidade do nosso povo. Alçadas ao patamar de “senhoril” e “autoridade”, as excelências se autoprotegem no palavrório sofisticado e no modus operandi, inatingível de seus malfeitos.

Irritam-se quando pegas em desvio de dinheiro público. São, hipocritamente, chamadas de ladrões. Afinal não é usual ou de bom tom para os usos e costumes da “corte” política popularizar seus erros na linguagem nua e crua.

Conspirar sorrateiramente, impor um golpe de Estado à sociedade brasileira, retirar direitos consagrados à custa de muitas lutas de nossa gente, elevar ao poder uma quadrilha de salteadores do erário, segundo o manual hipócrita de comportamento político, não é jeitoso serem chamadas de canalhas ou de bandidos.

As fissuras que corroem nossas instituições estão na sustentação do apartheid - que segrega as excelências do povo -, numa bolha de farsa cumplicidade dos que exercem o poder.

Neste sentido Ciro Gomes se torna inconveniente, pois afronta de forma inusual, os secularmente intocáveis, em suas falácias.  

Rotulações baixas utilizadas pelos importunados em suas baldrocas se tornam armas frequentes no sentido de atenuar as verdades incômodas proferidas por Ciro Gomes.

Debater o caráter e a vida pregressa daqueles que almejam dirigir os destinos do Brasil, e questionar os apoios é tarefa fundamental à nossa sociedade.

Deshipocritizar a política é um exercício saudável, apontar e exigir punição aos larápios da República é obrigação daqueles que ambicionam reconciliar o povo com o poder.

Não é razoável edificar uma sociedade fundada em encenações, afinal foi por engodos e mentiras que o Brasil chegou a esse triste espetáculo antirrepublicanismo.