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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Com tanta notícia ruim, de onde vem tanto otimismo?

A colunista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia questiona sobre o estranho otimismo dos economistas diante de um cenário tão adverso. Ela diz: "com tanta notícia ruim no cenário econômico, é interessante nos perguntarmos de onde vem o entusiasmo dos comentaristas econômicos. Ouvi-los por alguns minutos nos leva a pensar que o futuro é ali, ao alcance da mão, que a economia está bombando e a recuperação dos empregos é uma questão de dias"

Linha de montagem e Paulo Guedes. (Foto: Governo do Espírito Santo/Divulgação | Agência Brasil - EBC)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - A produção industrial caiu 1,2% em novembro de 2019, na comparação com outubro, conforme dados divulgados pelo IBGE. A queda baixou o entusiasmo dos que viram na série de três meses de pequeno crescimento uma “recuperação da economia”. 

De acordo com publicação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “o mais recente levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) relacionando dados de 30 países ao longo de 50 anos identificou no Brasil a terceira maior retração industrial”.

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No mesmo texto, Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), entende que o alinhamento unilateral do Brasil com os Estados Unidos compromete o desenvolvimento nacional, especialmente o setor produtivo. Inclusive Organização das Nações Unidas (ONU) já alertava sobre o processo de desindustrialização precoce no Brasil, ao identificar pouco mais de 10% do PIB brasileiro no setor industrial, no ano passado.

Para ela, “o golpe de 2016 impôs um projeto de desenvolvimento voltado para o mercado externo e submetido aos interesses do capital internacional especulativo”. Isso “joga o país na contramão do projeto desenvolvimentista que vinha sendo implantado com o fortalecimento do mercado interno, mesmo que timidamente”.

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De acordo com informações do Banco Central divulgados na quarta-feira 8/I, o Brasil fechou 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, com uma saída líquida recorde de dólares. O fluxo cambial ficou negativo em US$ 44,768 bilhões. A cifra é quase três vezes pior que a maior saída anual de recursos até então, registrada em 1999, na desvalorização do Real, em plena era FHC, quando houve um fluxo negativo de US$ 16,182 bilhões. 

Em dezembro o fluxo de câmbio contratado apresentou déficit de US$ 17,612 bilhões. O pior para meses de dezembro, desde 1982, ano que marca o início da série histórica.

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O fluxo cambial é composto do fluxo comercial, que mede o fechamento de câmbio para exportações e importações, e o fluxo financeiro, que mede investimentos em empresas, empréstimos e transações no mercado financeiro. Segundo o Banco Central, no ano passado, a fuga de dólares ocorreu no canal financeiro. Ou seja, quem retirou os dólares daqui foram investidores inseguros com a política de desmantelamento da Economia do ministro Paulo Guedes, que desorganizou o setor produtivo, transformando o Brasil em um reles produtor de commodities. Um mero exportador de grãos. 

Em 2019, o fluxo comercial ficou positivo em US$ 17,47 bilhões. O fluxo financeiro, no entanto, registrou saída líquida de US$ 62,24 bilhões. Apenas na bolsa de valores, a retirada por investidores estrangeiros chegou a US$ 44,5 bilhões no ano passado, a maior desde o início da série história da B3, em 2004. Quem correu para a bolsa, forçando a sua alta, foram os brasileiros ricos, em busca do lucro imediato. Como diria o velho Brizola, transformando o país em “um grande cassino”.

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O ministro Guedes precisou torrar 37 bilhões de dólares das reservas cambiais poupadas pelos governos Lula e Dilma, até então da ordem de US$ 380 bilhões de dólares, para conter a alta da moeda americana, que subiu como fogos de artifício no final do ano. 

A balança comercial em 2019 apresentou queda de 19,6% no saldo comercial em relação a 2018.

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E, por fim, dados divulgados no dia 8 de janeiro, pelo Banco Central (BC), mostram que em 2019 os brasileiros depositaram R$ 13,327 bilhões líquidos na poupança. Um montante menor que os valores registrados em 2018 (R$ 38,260 bilhões) e 2017 (R$ 17,127 bilhões), embora sinalize uma leve recuperação da caderneta, após os saques líquidos registrados nos anos de crise econômica.

Com tanta notícia ruim no cenário econômico, é interessante nos perguntarmos de onde vem o entusiasmo dos comentaristas econômicos. Ouvi-los por alguns minutos nos leva a pensar que o futuro é ali, ao alcance da mão, que a economia está bombando e a recuperação dos empregos é uma questão de dias.

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Com esse cenário, “mesmo as previsões otimistas do mercado e do Banco Mundial de que teremos crescimento do PIB acima de 2% neste ano e em 2021, parecem não fazer sentido algum”, sinaliza Vânia Marques Pinto, para a publicação da CTB. “Porque a política é que está errada. Precisamos de um projeto de desenvolvimento que enxergue os interesses nacionais, além do que o desenvolvimento tecnológico exige mais conhecimento e qualificação”.

Não querendo ser desmancha prazeres, faço coro com Vânia e aconselho aos nobres leitores/leitoras, a dar uma moderada nos planos. Janeiro já é um mês magro para as finanças domésticas, comprometidas com contas extras e os boletos do cartão que chegam, lembrando a todos que o que foi comprado em dezembro não era presente de Papai Noel. São despesas feitas e precisam ser pagas. E, diante das perspectivas que temos, o melhor é desligar a TV, guardar os jornais e suas manchetes retumbantes e redimensionar os gastos. Não. Não estamos em plena “recuperação econômica”. Sinto ser eu a lhes dar esta notícia assim, de supetão, neste início de 2020. 

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