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Rogério Puerta

Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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Como acabar com uma reputação

Lula (Foto: Ricardo Stuckert)
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Mata logo, só matando. No Pará e Maranhão alguns dizem. É estranho: "Só matando". Dito com explícita ironia, entre gargalhadas, ameniza um pouco, mas nem tanto. "Só matando" é uma expressão popular por lá, conhecida pelos mais antigos, dita quando não há mais corretivo. Mata o Lula e pronto, ou mata o presidente neofascista e tudo se resolve. Uns poucos devem acreditar.

Diálogo recente em mesa de amigos numa churrascaria em cidade de agropecuária próspera no Oeste catarinense: "Os caras tão dizendo que dá pra matar o Lula, que ele vai se expor demais, ficar no meio de multidão, que o sujeito é incontrolável, quebra protocolo de segurança direto. Se reparar é assim mesmo, ele não vai se segurar, vai querer abraçar o povo, não pode ser um alvo difícil".

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"Mas eu discordo, é burrice. O cara vira mártir, ícone, vai ser uma encheção de saco. A gente tem de matar ele de fato. Matar o Lula é matar de uma vez por todas a sua reputação, parar com esta merda de acharem lá no exterior que o sujeito é esta bola toda".

"Se ele se queimar, fizer muita merda, fazer ainda mais besteira do que já fez, xingar gente importante, comprar briga de cachorro grande, aí é que estamos feitos, esta é a solução, aí matamos de fato o sujeito, o mandamos à merda, pra latrina do Fidel lá em Cuba".

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"Não é matando ele, é matando o que ainda há de sua reputação. É matando a Janja, aí sim, o cara se desequilibra, se quebra, entra em parafuso, arrebenta a coluna vertebral, não aguenta não. Aí então será questão de poucas semanas. Até o primeiro turno são quatro meses, ele se mostrará um desequilibrado, sem condições pra governar, será enterrado vivo, se comerá por dentro. Aí é nossa chance, mesmo depois de perder pro mito o paraíba vai entrar em uma espiral de decadência".

Mata a cobra e mostra o pau. Matar a pau. Matar o problema. "Mata, mata!": todos dizem ao ver uma barata. Tentaram matar Hitler, este sim parecia ser uma cabeça única, sem ele o regime ficaria acéfalo. Trótski levou picaretada na cabeça, não parecia ameaçar toda a União Soviética de Stalin. JK, Carlos Lacerda e Jango em mortes suspeitas sequenciais, eles sim ameaçariam a sanha de poder dos militares pós-golpe de 64.

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Inúmeros personagens ao longo da História que, quando eliminados sumariamente, mudam, ou nem tanto, o rumo dos acontecimentos geopolíticos. Pena de morte, uns acreditam coibir a motivação criminal, não é isto o que os dados acurados com enfoque sociológico demonstram.

A guilhotina bateu lâmina que só na Revolução Francesa. A gente acha bonito o "Liberdade, igualdade, fraternidade", mas se esquece que o lema original continha mais palavras: ou a morte. Acá, independência ou morte, teria dito o príncipe regente às margens do Ipiranga.

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Morte mais no sentido de uma cessação, o término, ocaso, apagar de luzes. Lula tem um projeto, o presidente neofascista também tem, ambos são claros. Trótski sobreviveu em ideais, de certa forma JK também. Hitler sobreviveu, muito, queiramos ou não, está explícito, o neonazismo contemporâneo, não são poucos os brasileiros e brasileiras simpáticos às mesmas causas pregadas lá na década de trinta na distante Germânia.

O ocupante máximo do executivo brasileiro hoje pode vir a ficar fora de cargos públicos, seu clã e seguidores permanecerão, suas ideias. O problema não é o sujeito, são os cerca de 25 milhões de brasileiros e brasileiras que pensam da mesma forma, que dizem a ele "Aleluia, glória pai, amém". Dizem a um sujeito que pode até se parecer com o deus vingativo e implacável do Antigo Testamento, mas que em absolutamente nada se parece e em nada segue os preceitos humanistas e igualitários, fraternais, pacifistas e progressistas de Jesus Cristo de Nazaré.

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Que o dito mito não se identifique como cristão, ao menos. Que os odientos e belicistas identifiquem-se, coerentemente ao menos, por fundamentalistas, seguidores da Lei de Talião, o "Olho por olho, dente por dente". Ao que Gandhi milênios após, perspicaz, completou: "E o mundo acabará cego".

Mata-burros, mata-borrão, mata-baratas. Quem é urbano, citadino, nunca viu um mata-burros. Injustiça com os asininos e muares, têm relativa inteligência, mas mortal mesmo seria o movimento imprudente de um destes, meio cego talvez, avançar ao estrado de madeiras em estrada rural. Ferimentos severos nas pernas de burros, jumentos, cavalos, são sofridos e muitas vezes irrecuperáveis, então a eutanásia. Ocorre também com bovinos. Já o mata-borrão é peça de museu, tal qual a caneta bico de pena. Mata-baratas há em casa.

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Matem o Lula, mata-petralha, mata-petista. Improvável e impensável uma guerra civil no Brasil contemporâneo, a vizinha Colômbia mais experiente neste quesito, os liberais e conservadores magistralmente descritos e dissecados por Gabriel García Márquez.

Provável e pensável as milícias nacionais, cada qual infiltrada em seu reduto controlado, imiscuídas ao poder público, sempre e necessariamente esta relação, tais milícias em segundo turno de eleições presidenciais ou após eventual derrota, tais consolidadas milícias regionais implementarem uma lei interna de caça aos petistas, petralhas. Ou a quem julgarem comunistas, ou a quem trajar camiseta vermelha.

Tão distópico e pessimista tal cenário em breve futuro? Pouca coisa hoje é inacreditável. Se até a Terra virou plana, pós-advento de décadas de defesa insana do criacionismo bíblico, a negação do evolucionismo, também o defenestrar da vasta ciência consensual em geral. Não, nada mais parece inacreditável nem excesso de pessimismo.

A Janja bota óculos escuros e vai ao shopping, ninguém reconhece, pode até talvez dispensar segurança mais estrita. O Lula pode se fantasiar de venusiano com icterícia, de escafandro, que se abrir a boca todo mundo o nota.

Atenção à Janja. Se pegarem ela o Lula provavelmente implodirá.

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