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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Como o Lula poderia perder as eleições?

"Não seria eu que me dedicaria a esse esporte. Mas, se fosse fazê-lo, eu teria dificuldades de especular", diz Emir Sader após falas de Guga Chacra

Guga Chacra e Lula (Foto: Reprodução/GloboNews | Ricardo Stuckert)
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Causou surpresa que um jornalista da mídia tradicional – o palmeirense Guga Chacra – colocasse a pergunta que os outros não se atrevem a colocar. A questão a se colocar é não apenas como o Lula poderia perder as eleições, mas também por que os outros jornalistas não se colocam essa pergunta.

Enquanto o Guga colocava essa questão, apoiado na continuidade dos resultados das pesquisas dos institutos confiáveis, há vários meses, que colocam o Lula sempre na casa dos 45%, com seu adversário sempre cerca de 20 pontos abaixo, os outros jornalistas praticavam a difícil arte de encontrar dificuldades para o Lula na pesquisa. Dá a impressão que se sentem cômodos em coincidir com posições da empresa, tratando de encontrar, na margem de erro ou um pouco mais além ou aquém, razões de especulação sobre os resultados das eleições daqui a 100 dias. Nem sequer destacaram que, na nova pesquisa, também, o Lula ganharia no primeiro turno.

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Por que isso se dá? Não apenas por razões de intenções de jornalistas, mas também por outras razões. A primeira delas talvez venha do fato de que Guga está olhando as pesquisas desde fora do Brasil. Não por acaso ele fez comparações com a postura da mídia de um país como a França. Mas também porque qualquer olhar com alguma distância, sem o efeito da campanha reiterada da mídia em encontrar ridículos argumentos como, por exemplo, de que Lula ficaria em dificuldades pelas pesquisas ou de que o resultado final só se definiria mais perto da votação.

Quando um analista como o que está ou estava ligado ao Datafolha afirma justamente o contrário. O mais notável é a estabilidade das pesquisas e o número cada vez maior dos que já estão firmemente decididos a votar pelos dois candidatos que sempre lideraram as pesquisas, desde o começo.

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Deveriam ter se concentrado na rejeição dos dois candidatos – 55% ao atual presidente e 35%  ao ex-presidente – acentuando o fato de que, presidente e ex-presidentes, são muito conhecidos de todos. Teriam tido que se colocar a outra questão: Como um candidato com 55% de rejeição poderia ganhar as eleições?

Para complementar, poderiam destacar que, depois de um longo processo de amadurecimento, os tucanos decidiram finalmente não ter candidatos a presidente – como nunca haviam feito – e apoiar à emedebista Simone Tebet – a grande novidade no cenário político, segundo aqueles jornalistas – tivesse baixado de 2% para 1%, enterrando, de vez, as tentativas da chamada terceira via. O que dá uma imagem bem precisa ao que estão reduzidos o PSDB e o MDB -, partidos que protagonizaram a política brasileira nas últimas décadas. Fortalecendo, certamente, os setores do MDB a aderirem ao Lula.

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Uma consequência da observação do Guga – que ele mesmo destacou – é que, se ele fosse jornalista cobrindo as eleições brasileiras, nunca faria o ridículo exercício de mencionar candidatos que tem 1% de votos, que não existiram na verdade como candidatos. Menos ainda os exercícios não menos ridículos, de projetarem segundo turno com candidatos que não tem a mínima possibilidade de chegar lá, até mesmo o Ciro Gomes. Que chegam à simulação grotesca de segundo turno sem o Lula.

Os jornalistas, talvez atônitos pela inesperada – para eles – pergunta colocada pelo Guga – não reagiram. Fingiram como se não fosse uma pergunta que eles não se atrevem a colocar. Nem sequer reiteraram que a tendência nas pesquisas dos últimos meses é a de afirmar a possibilidade de vitória do Lula no primeiro turno.

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Parecem aqueles locutores de futebol, que têm a dura tarefa de transmitir um jogo sem nenhum interesse, e que tentam transmitir emoção e expectativa para prender os espectadores. Se afirmarem, conforme as pesquisas, que a tendência de vitória do Lula no primeiro turno, talvez acreditem que tirarão a atenção dos espectadores. Seriam fiéis à realidade, mas talvez se sintam fazer o jogo do Lula, contrariar a torcida dos donos das empresas ou confessar as tendências reais.

Como o Lula poderia perder as eleições? Não seria eu, lulista, que me dedicaria a esse esporte. Mas, se fosse fazê-lo, para não ser acusado de salto alto – argumento de quem não tem argumento, que vale para um jogo de futebol – eu teria dificuldades, de fato, de especular.

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Como disse o próprio Guga, as acusações ao Lula já são conhecidas há vários anos, podem ser requentadas, mas sem efeito maior, como aconteceu com a retomada de um suposto ex-contador do Lula ou qualquer retomada dos temas de costumes – aborto, família, etc.

A 100 dias do primeiro turno, as pesquisas indicam a maior possibilidade de vitória do Lula no primeiro turno. O começo informal das campanhas demonstram grandes concentrações do Lula no nordeste e vaias reiteradas ao atual presidente. Dá para prever o tsunami de mobilizações e de definições de voto pelo Lula, conforme a campanha avance.

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Tanto assim que, contando com o assassinato de Dom e de Bruno, a prisão do ex-ministro da Educação, o aumento continuado da inflação, o resultado foi tomado com alivio pelos governistas, que esperavam uma piora. Mas nada garante que esses fenômenos também não vão ter efeitos negativos para o governo nas próximas pesquisas.

De qualquer maneira, pesquisas pouco confiáveis seguirão fazendo parte da campanha e das fake news bolsonaristas. Quanto mais destoem dos resultados das pesquisas confiáveis, mais chamarão a atenção dos jornalistas que não colocam as questões que contam, como a de que: como o Lula poderia perder as eleições?

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