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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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Contra a vida

Se os partidários da morte agitam armas contra a vida, há os que não se intimidam. Gostam de assistir ao espetáculo que ela nos proporciona em suas várias dimensões: do nascimento de uma criança, aos que vencem e estão vencendo, a despeito de tudo, às pressões da epidemia e à ferocidade dos vírus

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Com um marco de mais de 430 mil mortes por coronavírus no Brasil (estampado pelo relator na última sessão da CPI), a crise política e de saúde pública chegou a números alarmantes. Num fenômeno de indiferença nunca visto, o Presidente Jair Bolsonaro reage recorrendo à violência verbal e esgrimindo lances de retórica contra seus adversários. Incomoda-se com a presença do ex-Presidente Lula à frente das pesquisas, enquanto as suas próprias avaliações deslizam para baixo, em sinal de fracasso. Prometer que concorrerá sozinho nas próximas eleições e apostar em fraudes nas urnas não convence.

Não resta dúvida. É a primeira vez, desde que Machado de Assis escreveu O alienista, que um político alçado ao mais alto cargo da administração pública avança um pé ansioso para entrar na Casa de Orates. Não parece gratuito que um conjunto de juristas e professores tenha dado entrada no STF a um pedido de interdição para removê-lo do Palácio do Planalto. 

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Enquanto isso, a Polícia Federal, a AGU e a Procuradoria Geral da República, obedecendo a ordens de cima, abrem processos contra os que criticam as posturas do governo, vistas como incompetentes, negacionistas e humilhantes em termos da dignidade nacional. Muitos setores da opinião se sentem nauseados, dada a extensão do que entendem como os pratos indigestos oferecidos à nossa degustação. Resulta disso que a quase unanimidade da imprensa se levanta, por seu turno, contra a situação de paralisia com a qual, em vez de medidas positivas, responde-se aos clamores por projetos inteligentes, de pronto ou médio alcance. Como não se pôde fechar o Congresso, por falta de apoio em todos os cantos, inclusive nas Forças Armadas (e continuamos, mal ou bem, usufruindo de uma democracia), destila-se rancor contra quem expresse rebeldia nas avaliações do que se passa. Mas não nos enganemos. Se os partidários da morte agitam armas contra a vida, há os que não se intimidam. Gostam de assistir ao espetáculo que ela nos proporciona em suas várias dimensões: do nascimento de uma criança, aos que vencem e estão vencendo, a despeito de tudo, às pressões da epidemia e à ferocidade dos vírus.

Às vezes se mostra necessário apertar as pupilas para comprovar que há luz nas trevas nas quais nos metemos. A CPI da Covid-19, no seu esforço de reexaminar o passado recente, para além das ações em favor da morte, demonstra que nem tudo se perdeu. As engrenagens montadas pelo poder central começam a esbarrar em obstáculos erguidos em instantes de indignação quando mais precisamos despertar da letargia e salientar, bravamente, que vivemos com e pela vida. 

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O que se iniciou com o clamor de uns, dá a impressão de ganhar fôlego e varrer o mapa da apatia para estabelecer que, ao contrário do desânimo, fechamos com um veemente NÃO cada vez que gritarem viva a morte. O escritor inglês D.H. Lawrence, sobre os massacres de indígenas e a crueldade contra os africanos na América, previa que os fantasmas dos que tombaram, no futuro se levantariam. 

É possível que, associando-se a eles, os mortos que nos cercam construam uma grande assembleia e soprem em nossos ouvidos o grande “NÃO!” que ainda aguardamos.

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