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Mário Maurici

Jornalista e ex-prefeito de Franco da Rocha

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CPI da Pandemia mostra que Bolsonaro joga no lixo a ética da responsabilidade

O governo Bolsonaro parece ser a antítese de qualquer senso de responsabilidade pelo coletivo

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As revelações da CPI da Pandemia feitas até agora demonstram que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) aparentemente não hesitou em jogar na lata do lixo a chamada ética da responsabilidade. Sob o devastador saldo de mais de 540 mil brasileiros mortos, a comissão parlamentar do Senado Federal vai desenrolando o fio de um enredo macabro, digno da chamada necropolítica do camaronês Achille Mbembe. Desde o incentivo a medicamentos ineficazes às recentes denúncias de corrupção na compra de vacinas, os fatos vão tornando cada vez mais evidente a opção pela criminosa estratégia da imunidade de rebanho no enfrentamento ao maior desastre sanitário da história. 

Caso se confirme ter havido a provável existência de um gabinete paralelo na gestão da pandemia formado por aventureiros, atuando informalmente junto à Presidência da República, será a demonstração cabal que Jair Bolsonaro não tem condições de seguir como presidente do país. Isso porque existe aquilo que Max Weber chama de ética da responsabilidade, um conjunto de normas e valores a orientar o político a partir de sua posição de governante.

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As normas e valores de um governante no poder - a ética da responsabilidade -, são diferentes da ética da convicção, outro termo de Weber. Este último representa normas e valores do político em sua esfera privada. Por exemplo, no caso da cura do coronavírus, Bolsonaro pode até acreditar num hipotético poder da cloroquina no combate ao vírus. Se desejar tomar, por opção pessoal, é um direito dele. O que não pode é ordenar uma série de medidas para receitar à toda a população do país o uso de um medicamento não validado pela ciência. Apenas ao propagandear o remédio, como fez inúmeras vezes, já é um indício grave de que Bolsonaro não tem qualquer noção da responsabilidade do cargo que ocupa.

Se tivesse qualquer senso ético de responsabilidade, o presidente da República teria: 1. lastreado a gestão do combate ao coronavírus às orientações das instituições científicas sólidas, do Brasil e do Exterior; 2. garantido a compra de vacina em prazos mais curtos, e consequentemente, poupando mais vidas brasileiras; 3. promovido campanhas de informação e orientação de caráter intensivo e massivo nos meios de comunicação, e adotado políticas de auxílio emergencial consistentes.

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O governo Bolsonaro, porém, parece ser a antítese de qualquer senso de responsabilidade pelo coletivo. Convencido de que tudo resume-se a uma “disputa de narrativas”, ao bolsonarismo cabe lançar versões na arena pública das redes sociais e pôr suas milícias digitais em ação. Pouco importa que a cloroquina não tenha eficácia comprovada. A estratégia é promover o debate diversionista a todo custo, mesmo que ao risco de pôr ainda mais vidas em jogo. 

Em entrevistas ou pronunciamentos, mesmo com as centenas de milhares de mortos, o presidente da República incentiva comportamentos contraproducentes, confronta os demais entes da Federação – num momento histórico que qualquer líder responsável atuaria pela união de forças e não ao contrário -, e ameaça o sistema democrático com polêmicas sem qualquer consistência, como o voto impresso. Crimes de responsabilidades são cometidos a todo momento, basta ver a centena de pedidos de impeachment parados na gaveta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). 

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As revelações da CPI, por enquanto, são estarrecedoras. Hoje a população sabe que o governo tentou alterar bula de remédio, criou aplicativo de orientação para um tratamento precoce também sem comprovação científica, boicotou a aprovação e a compra de vacinas, além de assistir ao comportamento de um presidente incentivador de aglomerações e contrário ao uso de máscaras. 

No que diz respeito à gestão, foram quatro ministros da saúde em menos de três anos, sendo o mais longevo um general, da área de logística, que confessou não saber o que era o SUS. Para qualquer um de bom senso pode parecer ilógico, e é. Menos para o bolsonarismo. Soube-se pela CPI que o ministério da Saúde não tinha epidemiologista, embora aparentemente sobrem cabos, coronéis e generais.

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Ao seguir aconselhamentos de um gabinete informal, composto por diletantes e aventureiros, Bolsonaro afastou a possibilidade de uma gestão responsável e, portanto, mais efetiva, no combate à pandemia. 

A situação torna-se ainda mais grave (se é que isso é possível), quando surgem agora episódios envolvendo a cobrança de propinas na aquisição de vacinas. Estranhamente, ou não, a CPI mostrou a disposição do governo federal em adquirir, por meio de intermediários, doses de vacinas com preços mais caros ao invés da compra direta aos fabricantes e por valores menores.

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A combinação de tanta irresponsabilidade tem um preço altíssimo: Dos quase 550 mil mortos até agora, cerca de 300 mil vidas poderiam ter sido poupadas, segundo os especialistas. O Brasil tornou-se o país recordista em número de mortos por covid-19 no mundo. Não é à toa que o nome Bolsonaro venha cada vez mais associado à palavra “genocida”. 

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