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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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“Criar uma, duas, três, muitas Lava Jato”

(Foto: Alex Solnik)
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Tal como a mulher de César que, além de honesta, tinha que parecer honesta, o ministro da Justiça, além de ser ministro da Justiça, tem que parecer ministro da Justiça.

Alexandre de Moraes pode se parecer com qualquer coisa, menos com ministro da Justiça. Não é ministro da Justiça nem na aparência, nem na prática.

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Um bom diretor de cinema italiano lhe daria um papel de fascista num filme sobre Mussolini depois de examinar suas fotos.

Ele também lembra muito mais um personagem da ditadura militar do que da democracia.

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A sua prática também não tem relação com Justiça, mas com repressão. Duas coisas, a meu ver, completamente distintas e até excludentes. Quem quer fazer justiça faz julgamentos equilibrados e equidistantes. Quem quer reprimir atua ao largo da Justiça, com instrumentos diversos.

Assim como seu papel mais recente foi o de repressor do governo Alckmin, como secretário da Segurança Pública notabilizado por reprimir estudantes nas ruas, ele foi alçado ao novo posto também para reprimir. Por sinal, a sua área de atuação é a mesma em que Temer atuou antes de ingressar na carreira política, quando se houve com bicheiros como Ivo Noal e com contrabandistas que agiam em conluio com donos de boates nos anos 80.

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Protegido pelo biombo da Justiça, Moraes atua como uma espécie de Secretário Nacional da Segurança Pública, encarregado de intimidar e mandar prender os adversários de Temer, que não são poucos, na política, nos movimentos sociais e na imprensa.

A sua entrada em cena foi lamentável. Ao visitar, inesperadamente, o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, explicou que viajou até lá para oferecer solidariedade e infraestrutura. Uma desculpa esfarrapada. Qualquer assessor qualificado encontraria desculpas melhores.

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Primeiro, porque tanto solidariedade quanto oferecimento de infraestrutura não exigiriam seu deslocamento de Brasília a Curitiba. Num governo tão preocupado em dar sinais de comportamento espartano, foi leviano gastar dinheiro em querosene de avião para fazer algo que poderia ser feito por meio de fax.

Segundo, porque todos estão vendo que a Lava Jato tem caminhado bem e jamais lhe faltou infraestrutura.

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A viagem, portanto, somente faz sentido se foi para ter uma conversa sigilosa com Moro, à prova de interceptação por telefone ou internet.

Qualquer conversa com Moro por iniciativa da maior autoridade da Justiça do país já é uma interferência. Não importa o que ele disse, pediu ou ordenou a Moro. A sua visita já foi uma interferência.

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Não há como negar o fato cristalino de que a Lava Jato é a maior fonte de preocupações de Temer, principalmente depois que o seu correligionário Sérgio Machado, um dos delatores premiados de Moro, provocou um tsunami no seu governo, delatando a ele próprio e a alguns de seus ministros, num período vizinho ao julgamento final do impeachment.

Seu chefe da Casa Civil, falando aos empresários do Lide, a organização de João 'Dólar Jr.', um dos brasileiros denunciados no escândalo "Panamá Papers" fez o primeiro movimento, sugerindo que estava na hora da Lava Jato acabar. Moraes fez o segundo.

Em tese, nem é necessário dar fim à Lava Jato para reprimir políticos e jornalistas contrários à permanência de Temer. Basta criar filhotes da Lava Jato, com outros nomes. Foi o que aconteceu na quinta-feira, dois dias depois da visita de Moraes a Moro. Desse modo, a Lava Jato continua intocável e seus filhotes ficam com a missão de intimidar quem atrapalha a permanência de Temer no poder.

A investigação contra o ex-ministro Paulo Bernardo, que corria em Curitiba, de repente passou para São Paulo e, sob o nome de Operação Custo Brasil a Polícia Federal revistou sua casa – que é uma residência oficial do Senado – e o prendeu.

Há sérios motivos para suspeitar que foi uma operação a toque de caixa, à semelhança do impeachment. Se tivesse tido algum planejamento, o juiz paulista que a autorizou pediria anuência ao STF para fazer buscas na residência oficial da senadora Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, como manda a constituição. Não pediu, os policiais apreenderam até o computador de um de seus filhos e as provas obtidas serão, com certeza, anuladas.

Mas o objetivo foi confundir a opinião pública e provocar reboliço na comissão do impeachment, na qual Gleisi tem sido uma das mais consequentes defensoras da presidente, embora o caso de seu marido não tenha nada a ver com as acusações feitas contra Dilma.

Em vez de ajudar Temer, como pretendia, Moraes o atrapalhou, ao escancarar as intenções da operação – que incluiu intimidação de jornalistas e do PT, cuja sede nacional foi cercada por forças da repressão de forma acintosa, um verdadeiro show-off para inglês – e os paulistanos – verem.

Por mais que a aparência do ministro lembre personagens da ditadura ainda estamos numa democracia, regime no qual a truculência não pode prevalecer sobre a Justiça. Principalmente no Ministério da Justiça.

Tal como Che Guevara quis "criar um, dois, três, muitos Vietnãs"...Moraes tenta criar "uma, duas, três, muitas Lava Jato". Mas enquanto houver liberdade de imprensa, não vai conseguir.

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