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José Álvaro de Lima Cardoso

Economista

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Crise mundial: possibilidades no xadrez da guerra

Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin (Foto: Reuters)
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Uma lição definitiva da atual crise mundial é o anacronismo das políticas neoliberais, do tipo que Paulo Guedes vem realizando no Brasil - com muita deficiência técnica, diga-se de passagem, o que diminuiu o ritmo do estrago que pretendiam fazer. Essa política neoliberal chamada de “ultra”, poucos países no mundo praticam, e nenhum deles faz parte do bloco de países ricos, imperialistas. Os EUA, por exemplo, que inspira os neoliberais de todos os matizes, propôs ao Congresso, em 2021, um  mega plano de investimentos estatais, na casa dos US$ 6 trilhões, visando tirar a economia norte-americana da crise. É verdade que teve que reduzir drasticamente as ambições do plano a uma fração do pretendido, em função da rejeição no Congresso e nos meios empresariais. Mas o governo norte-americano tem consciência que, numa crise estrutural como a atual, não existe saída sem grandes investimentos estatais. E que mesmo assim, não há garantiras de saída da crise, porque ela é muito profunda. 

Cabe observar que a própria guerra que os EUA provocam o tempo todo, é essencialmente uma “parceria público-privada”. A indústria norte-americana de armas representa 61% das vendas dos 25 maiores produtores mundiais. O segundo lugar no ranking, a China, fica bem atrás com 15,7%, segundo o relatório do Sipri (Instituto Internacional de Estudos para a Paz), que tem sede em Estocolmo. Essa indústria depende essencialmente do governo norte-americano, cujo orçamento de defesa, para este ano é de US$ 768 bilhões, superior ao acumulado dos 10 maiores orçamentos que vem em seguida, nesse ranking. As pessoas nem imaginam, mas o orçamento militar da Rússia para este ano corresponde a cerca de 8,5% do orçamento dos EUA. 

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Na grande crise econômica de 2008, que teve como epicentro os EUA, todo o enfrentamento da crise se deu com base em trilhões de dólares de dinheiro público. Em agosto e setembro daquele ano foram estatizados verdadeiros gigantes do mercado de empréstimos pessoais e hipotecas, que tinham falido com a crise financeira. Isso ocorreu no mundo todo, ainda que em menor escala. Recentemente, a Alemanha, outro país rico e imperialista também usou pesados investimentos públicos (neste caso da Gazprom, gigante estatal russa), para resolver seu crônico problema de abastecimento de energia. O Nord Stream 2, gasoduto que transportará gás da Rússia para a Alemanha, que custou 10 bilhões de euros, não recebeu licença para funcionar em função do conflito na Ucrânia, mas certamente será ativado, assim que a poeira da guerra da Ucrânia  baixar.

Uma primeira consequência econômica do conflito na Ucrânia foi agravar a elevação dos preços de alimentos e de energia, que já vinha forte. O choque de oferta, que atinge o mundo todo, irá produzir uma aceleração da inflação ao nível mundial, o que demandará uma antecipação do aumento da taxa básica de juros nos países ricos, no mundo todo. Se em conjunturas normais, é sempre temerário depender de investimentos dos países imperialistas, imagine nesse contexto de guerra e turbulência mundiais.

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Num cenário como o atual os países tendem a se  voltar para as suas potencialidades internas: mercado consumidor, valorização da indústria nacional, reestruturação produtiva etc. O Brasil é um dos países do mundo que tem as melhores condições econômicas de enfrentar uma situação na qual os países se voltem para dentro de si, ou seja, um período no qual a chamada globalização dê uma marcha a ré. Dispõe de  petróleo abundante, alimentos, indústria, território etc. 

A Rússia, que está sendo isolada por um número significativo de países, é outro país que dispõe de boas condições para enfrentar um isolamento econômico. É possível que o bloqueio que o país está sofrendo, como retaliação da OTAN, acabe beneficiando, no médio prazo, a sua economia, forçando por exemplo, a agregação de valor ao processo industrial. O boicote à Rússia, aliás, não é absoluto, vários países do mundo, que somam população equivalente à metade da população mundial, não aderiram ao boicote. Somente a população de China e Índia (dois países chaves que não aderiram ao boicote), somam quase 2,8 bilhões de habitantes, cerca de 35% da população mundial. Outros gigantes em termos territoriais não dispõem de algumas vantagens que tem o Brasil e a Rússia: os EUA dependem de importações de petróleo (apesar de ser o maior produtor). A China depende de importações     de alimentos e petróleo. A Índia não tem diversificação industrial. E assim por diante.

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No Brasil, os reflexos da crise mundial tendem a ser mais graves porque a conjuntura já era de desemprego        em patamares muito elevados, e de aumento muito acelerado da pobreza. São fartos os dados sobre aumento da pobreza e sofrimento da população brasileira. Quem tiver dúvidas sobre isso, pode dar uma volta no centro de qualquer cidade média ou grande no Brasil: cresce o número de famintos e desabrigados, a olhos vistos. Com a política de aumento de preços dos derivados do petróleo (PPI), é como se o Brasil não produzisse petróleo, e tivesse que importar 100% dos derivados  que consome. Mesmo sendo autossuficiente na produção e utilizando majoritariamente petróleo nacional nas refinarias. O que explica que na Argentina o preço médio da gasolina esteja a R$ 4,50 e no Brasil, que é uma potência petrolífera, o preço médio esteja em R$ 6,00 ou R$ 7,00 e em alguns lugares se pague R$ 10,00 ou R$ 11? A resposta é direta e muito simples: toda a política de derivados do petróleo é para beneficiar os especuladores e não a população brasileira. 

Bolsonaro está num dilema, pois a ordem dos especuladores que dominam a Petrobrás é manter a política de preços dos derivados – que possibilita lucros gigantescos - mas sua manutenção reduz muito as suas chances de reeleição. Em resposta ao dilema, o governo tem um comportamento completamente absurdo, que é fazer de conta que não tem nada a ver com o aumento de preços, que esta é uma política da Petrobrás, uma política que seria “regulada pelo mercado”. A política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que há cinco anos aumenta o preço dos derivados do petróleo muito acima da inflação, já era um total absurdo antes do conflito na Ucrânia. Mas o que se pode dizer dela agora?

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Dependendo dos rumos que a crise mundial tomar, e dos seus efeitos sobre preços do petróleo e derivados, a PPI tende a explodir. Com a crise internacional se aprofundando, será muito difícil o governo sustentar a conversa mole de que não pode interferir na Petrobrás, apenas “dar palpites” e que quem decide os preços dos combustíveis são os diretores e o conselho da empresa. A postura do governo brasileiro é completmente ridícula, pois não enfrenta o centro dos problemas no mundo todo neste momento, que é o choque de oferta e o preço alimentos e derivados do petróleo. Para efeitos comparativos, analisemos a atitude de Joe Biden, que foi implorar petróleo ao governo venezuelano, depois do governo norte-americano não só boicotar de todas as formas possíveis o vizinho, como tentar derrubar o presidente da República e colocar um vigarista (Juan Guaidó) no lugar do atual presidente.  

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