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Luiz Fernando Padulla

Professor, biólogo, doutor em Etologia, mestre em Ciências, autor do blog 'Biólogo Socialista'

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Crônicas em tempos de censura: o professor

Era uma vez um professor de Biologia, educador há 12 anos, e que amava lecionar para seus alunos e alunas. O que o fez repensar foi algo mais sério: a bestializarão de certos pais que cegos em sua ignorância e intolerância, e armados com discursos de ódio e analfabetismo político, resolveram apontar seu rancor para esse professor. Temos o dever moral de sermos resistência!

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Era uma vez um professor de Biologia, educador há 12 anos, e que amava lecionar para seus alunos e alunas. E apesar de todos os percalços, não conseguia se ver em outra profissão. Recentemente, no entanto, esse mesmo educador passou a repensar isso. Não pelo salário baixo ou pelos atrasos no pagamento de algumas escolas, nem mesmo pelos feriados e finais de semana que simplesmente não existem, sendo substituídos por atividades extraclasse, como correção de provas, elaboração de atividades e aulas. O que o fez repensar foi algo mais sério: a bestializarão de certos pais que cegos em sua ignorância e intolerância, e armados com discursos de ódio e analfabetismo político, resolveram apontar seu rancor para esse professor, usando de argumentos absurdos e autoritários, como verdadeiros donos da razão e "pagadores do salário" deste cidadão.

Aquém do conhecimento das práticas pedagógicas-educacionais que este docente desenvolve e aplica em sua sala de aula, eis que destilaram seu ódio e revelaram seu lado fascista, tentando intimidar o docente, pressionando o colégio. Através de um e-mail, eis que o "cidadão de bem" escreveu: "...como pode um professor deste colégio ter um adesivo escrito 'Lula Livre' em seu carro?...Não quero que minha filha, que felizmente ainda está na Educação Infantil, tenha aula com esse professor...que faz apologia a um político corrupto condenado em todas as estâncias (sic)..". Além de erros absurdos em seu português (o que me levou a conclusão de não ser apenas um analfabeto político), mostra total desconhecimento do que foi o pseudojulgamento de Lula. Mas até aí, esse sujeito teria a desculpa de ser um ignorante - na tradução literal! - que se "informa" através de memes e informações batidas, sem que se dê ao serviço de ler.

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O mais grave, que afetou demais esse professor, foi justamente a pressão que sofrera contra sua liberdade de expressão! Afinal, o carro - sua propriedade privada, adquirido com muito suor justamente lecionando durante anos – e seu adesivo, em nada influenciavam suas aulas de Biologia. O professor, inclusive, apesar de seu posicionamento político, jamais abordava questões políticas em sala de aula. Jamais! Por vezes, alguns tentavam tirar do docente alguma opinião e frase, mas sempre com esquiva educada, saía pela tangente e focava apenas em sua matéria.

A afronta desse pai (que na verdade não deve passar de um gerador de filho), para surpresa do professor não foi a única. No mesmo dia que a coordenação e a direção foram até ele mostrar o e-mail, também comentaram de outro bilhete, desta vez anônimo, onde um grupo de mães de uma série que ele também não lecionava, estava incomodadas com "...o professor comunista que tem um adesivo político no carro...e que usava só roupa vermelha...doutrinava alunos na sala de aula...". E que elas iriam fazer um abaixo-assinado exigindo a demissão do profissional.

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Era nítida a perseguição a que estava sofrendo. Um professor gabaritado, querido e reconhecido pelos alunos, que sempre se entregou em sala de aula - e fora dela - para oferecer o melhor para seus alunos, se via agora ameaçado por alguns fazedores de filhos que se achavam nesse direito.

Por mais que a instituição tenha se mostrado ao seu lado, esse professor foi ferido neste dia. Ferido em seus princípios e ideais, sentindo-se intimidado e censurado em pleno ano de 2018. Chegando em casa, atônito pelo que leu e ouviu, pôs-se a chorar. Lágrimas de decepção. Decepção por se sentir um nada, e como se todo seu trabalho tivesse sido ceifado e jogado no lixo. Pouco importava todo esforço que fizera até hoje. De nada valia sua dedicação. Tudo agora se resumia em acatar e se sujeitar a ameaça velada. Ainda com o coração apertado, sabendo que ia contra sua vontade, mas responsável como quem é, rodou com o carro pela cidade naquela tarde. Caminhou sem rumo...

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De noite, antes de tentar dormir, pegou um estilete e direcionou-se até a garagem. Lá desferiu cortes certeiros. Cortes verticais e horizontais. A cada golpe, uma parte dele era arrancada, dilacerando sua pessoa. Pessoa essa representada pelo adesivo. Procurou ser rápido e não pensar muito. Engoliu o orgulho e arrancou o adesivo do vidro traseiro. Mas não todo. Deixou a estrela. A estrela que simboliza sua resistência. A estrela a qual ele olhará todo dia e lembrará de continuar na luta. Luta contra abusos e pela verdadeira justiça. Luta essa que o fez adesivar seu carro. Luta que não morrerá com o abuso sofrido, afinal, como bem lembrou depois, "eles podem até matar uma rosa, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera".

Em tempos de exceção, temos o dever moral de sermos resistência!

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