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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Cuidado com os Jipes!

Marcelo Zero escreve sobre a revelação da presença de Eduardo Bolsonaro na reunião que preparou dia 5 de janeiro, e Washington, a invasão do Capitólio, acontecida no dia seguinte: “se, de fato, Eduardo Bolsonaro participou da fatídica reunião ou de conversas sobre os temas da reunião, ele será investigado a fundo.”

Invasão do Capitólio em Washington em 6 de janeiro de 2021 (Foto: Reprodução)
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Por Marcelo Zero 

A denúncia, veiculada na matéria assinada pelo jornalista Seth Abramson, no site Proof, de jornalismo investigativo dos EUA, de que o Deputado Eduardo Bolsonaro teria participado da reunião que definiu a estratégia para tentar impedir o reconhecimento da vitória de Biden pelo Congresso, a qual resultou na invasão do Capitólio, é muito grave e deve ser levada a sério.

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Em primeiro lugar, é preciso considerar que Seth Abransom não é um jornalista qualquer. Formado no Dartmouth College e em Harvard, duas das melhores universidades dos EUA e do mundo, Abramsom é professor universitário em New Hampshire e tem doutorado em língua inglesa pela Universidade em Madinson-Wisconsin. Possui, portanto, excelente formação. 

Como jornalista, foi colunista da Newsweek e do Huffinton Post, além de ter publicado muitas matérias no Washington Post e no The Guardian, entre vários outros jornais revistas e de prestígio. 

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Em segundo, tudo indica que as informações referidas na matéria, inclusive a relacionada à possível participação de Eduardo Bolsonaro, sejam provenientes das investigações que o FBI vem fazendo sobre a invasão do Capitólio.

Com efeito, a administração Biden e a grande maioria da opinião pública dos EUA exigem que o episódio, o mais grave atentado da História contra a democracia dos EUA, seja investigado a fundo, custe o que custar, doa a quem doer.

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A invasão provocou indignação e fúria, até mesmo em vários membros importantes do Partido Republicano. Investigar tudo e punir todos os envolvidos é ponto de honra não só para o governo Democrata, mas para o establishment jurídico-político dos EUA. Não vai sobrar pedra sobre pedra.

Portanto, se, de fato, Eduardo Bolsonaro participou da fatídica reunião ou de conversas sobre os temas da reunião, ele será investigado a fundo. 

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A participação de estrangeiros numa conspiração desse tipo, visando interferir negativamente nos processos democráticos dos EUA, é considerada algo gravíssimo. Embora os EUA façam isso à larga pelo mundo, eles não admitem que se faça algo remotamente parecido em seu próprio país.

Independentemente do que vão mostrar as investigações, o fato é que Trump estava desesperado e absolutamente empenhado em impedir que o Congresso reconhecesse a vitória legítima de Biden. 

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Sua estratégia consistia em impedir tal reconhecimento e, a partir de aí, desencadear uma campanha para reverter o resultado. Nessa estratégia, a busca de apoios internacionais era essencial. 

É também fato amplamente conhecido que o governo Bolsonaro tinha e ainda tem uma relação de total subalternidade política-ideológica com a extrema direita dos EUA, em especial com Trump. 

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Outro fato conhecido é que o governo Bolsonaro foi um dos últimos governos a reconhecer a vitória de Biden, coisa que só foi feita, a contragosto, em meados de dezembro.

Também é realidade incontestável que Eduardo Bolsonaro estava em Washington na ocasião, com a justificativa de fazer uma “visita surpresa” à Casa Branca, a convite de Ivanka Trump. O timing da visita foi, portanto, impecável. E a surpresa pode não ter sido tão surpreendente.

Outro fato, não desmentido pelos envolvidos, é que o Deputado Eduardo Bolsonaro se reuniu e conversou com Michael Lindell, doador da campanha de Trump e um dos principais artífices da invasão e agressão ao Congresso dos EUA.

Meras coincidências? É possível. Só as investigações vão esclarecer. 

Porém, tantas coincidências levantam muitas e fortes suspeitas, que precisam ser investigadas, não apenas nos EUA, mas no Brasil. 

É do interesse nacional brasileiro que tudo isso seja esclarecido, pois a denúncia atinge em cheio as estratégicas relações bilaterais com os EUA e o papel e a imagem do Brasil no mundo, já muito abalada pelo governo antiambientalista e insalubre do capitão.

Por isso, o senador Jaques Wagner (PT/BA) apresentará Requerimento de Informações, exigindo do Itamaraty todas as informações sobre a viagem do Deputado Eduardo Bolsonaro à Washington. Em caso de omissão de informações ou de envio de informações falsas, o atual ministro das Relações Exteriores poderá ser enquadrado em crime de responsabilidade. 

Bastará, para tal finalidade, cotejar as respostas ao requerimento com os relatórios oficiais que o FBI produzirá.

A possível participação do Deputado Eduardo Bolsonaro e, portanto, indiretamente, do governo Bolsonaro, em atividades consideradas “conspiratórias” contra a democracia nos EUA não chega a surpreender ou a assustar.

Assusta, no entanto, o que poderia acontecer aqui. 

Com o governo cada vez mais acuado internamente por sua própria incompetência e insensibilidade humana e crescentemente isolado no plano mundial, cria-se clima para que haja também uma grande conspiração contra o que restou da democracia brasileira.

Afinal, aqui, além da notável tradição golpista, recentemente renovada em 2016, o governo tem apoio de milícias, de polícias e de muitos militares, que abocanharam boa parte dos cargos governamentais. 

Mesmo alguns que se dizem hoje contra Bolsonaro, mas que nele votaram e que apoiaram o golpe de 2016, poderiam apostar, de novo, uma aventura dessas, para impedir a ascensão de forças que possam prejudicar a agenda neoliberal, que une nossas oligarquias. 

O que eles mais temem é que aconteça aqui algo semelhante ao que aconteceu no Chile. E o ‘inimigo principal’, para parte dessas oligarquias, é o PT (e o que ele representa), não Bolsonaro. 

O próprio Deputado Eduardo Bolsonaro afirmou candidamente, em outubro de 2018, que, para fechar o STF, bastariam um jipe, um cabo e um soldado. Jipes, lembre-se, tiveram papel de relevo no cerco e fechamento do Congresso, em outubro de 1966.

Cuidado com os jipes!

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