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Dalí vem vindo aí

E não é fácil ser fiel a você mesmo quando todos que estão a sua volta tentam torná-lo alguém que você não é

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Eu me identifico com Salvador Dalí. Na verdade, me identifico mais com a forma que ele defendia suas ideias do que com suas obras expressivamente paranóicas. O modo com que ele interagia com o mundo foi o que me causou verdadeiro encanto. Não que eu aprecie todo o tom polêmico que o circundava, mas ele era uma pessoa cruamente sincera e sinceridade é algo que eu admiro muito. Salvador Dalí não era apenas um pintor de "telas loucas". Ele pintava e bordava, literalmente. Dalí foi fotógrafo, escultor, escritor de livros e roteiros. Também foi ator e diretor de filmes. Até na indústria da moda ele trabalhou. Enfim, era um artista diferenciado, completo.

Seu bigode fino e pontiagudo, suas roupas extravagantes, suas poses, tudo fazia parte de sua forma surrealista de ser e principalmente de seu marketing pessoal. E ele ganhava muito dinheiro com seu marketing pessoal. Dalí gostava de ganhar dinheiro tanto quanto gostava de ser extravagante, entretanto, não era a fama ou o dinheiro que moviam suas ideias, suas premissas e suas ideologias. Sua sinceridade nua e crua era imperativa, ainda que os deméritos fossem superiores aos méritos. Certa vez, foi expulso de uma Academia de Artes, logo após os exames finais, por declarar que ninguém na Academia era competente o suficiente para avaliá-lo. Algum tempo depois, foi expulso do movimento surrealista, que o acusava de ser reacionário e anti-semitista.

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O grupo surrealista do qual Dalí fazia parte se intitulava "marxista surrealista reprodutor da moral burguesa". Mas essa moral que eles protegiam a ferro e fogo era colocada em xeque cada vez que Dalí surgia com uma nova obra com a temática que eles denominavam "profana". Por fim, mesmo tendo o já famoso Salvador Dalí como o artista mais conceituado e reconhecido do movimento, o expulsaram. Dalí resumiu sua expulsão na célebre frase: "A única diferença entre Eu e os Surrealistas é que Eu sou o Surrealismo". Ele estava certo.

Em seu livro: "As Confissões Inconfessáveis de Salvador Dalí", o pintor demonstra com uma pitada de humor, que suas convicções estão acima de qualquer sentimento de pertencimento e que desafiaria a tudo e a todos se quisesse defender suas ideias. Para ele, a poesia estava acima da política e da economia e essa concepção era algo inaceitável para um grupo marxista de pretensão revolucionária. Imaginem o que pensaram os surrealistas ao ler nas confissões de Dalí ao seguinte trecho:

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"A política –o engajamento, como diziam os surrealistas– nos dividira. Eu me inquietava com o marxismo como com um peido, e ainda um peido me alivia e me inspira." A política me parecia ser um câncer que corrompe a poesia [...] uma armadilha para apanhar cotovias feita para os artistas, os intelectuais, caírem em contradições inextrincáveis, [...] e que se queria mobilizar para defenderem causas que, de qualquer maneira, encontrariam sua solução pelo jogo natural das forças da história e nas quais a inteligência só ocupava um lugar ínfimo.

A expulsão de Salvador Dalí do movimento surrealista nos traz algumas lições importantes. A primeira é que a forma de pensar de alguém que faz parte de um movimento, de um grupo, torna-se o pensamento do grupo. E foi exatamente por isso, por expressar idéias e conceitos que não combinavam com a doutrina do movimento ao qual pertencia, que Salvador Dalí foi expulso. A segunda é que é preciso uma dose grande de coragem e uma pitada de loucura para abandonar tudo o que você construiu ao defender arduamente o que acredita. Dalí foi muito corajoso, e acima de tudo, foi fiel a ele mesmo. E não é fácil ser fiel a você mesmo quando todos que estão a sua volta tentam torná-lo alguém que você não é. Salvador Dalí salvou-se de ocupar um papel medíocre no mundo e um lugar ínfimo no próprio coração.

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Para quem se interessar em conhecer as obras de Salvador Dalí, O Centro Cultural Banco do Brasil iniciará uma exposição no dia 30 de maio que apresentará 150 obras do artista, entre pinturas, gravuras, documentos, fotografias e ilustrações. A entrada é franca e a exposição imperdível!

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