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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Dani à calabresa e a nossa masculinidade tóxica de cada dia

Se deve haver o cuidado em oferecer o benefício da dúvida a Marcius Melhem, o que é um procedimento de acordo com a lei, é preciso que haja um cuidado ainda maior em não oferecer o malefício do descrédito à acusação feita por Dani Calabresa

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As pedras estão sendo atiradas e vindas de todas as direções. Desde que se tornaram públicam as denúncias de assédio moral e sexual contra o humorista Marcius Melhem, a justiça das redes sociais se antecipou à justiça de direito e decretou a sua sentença. Ele é culpado! A motivação por trás da culpabilização antecipada do acusado, não deixa de ser plausível, uma vez que é comum em nossa sociedade, tais crimes serem relativizados e as vítimas serem culpadas pela violação sexual da qual foram vítimas.

Mulheres são vítimas de assédio masculino todos os dias e a todo instante. É possível que enquanto escrevo este artigo, alguma mulher esteja sendo vítima de alguma situação do tipo. É possível ainda que você homem que esteja lendo este texto, já tenha cometido algum tipo de assédio cultural normalizado em nossa estrutura machista. Isso é preocupante e precisa vir a ser refletido por todos nós, machos alfas criados para sermos os cabeças e termos as fêmeas sob o nosso domínio dentro do patriarcado.

Em entrevista concedida à Mauricio Stycer do site Uol, Melhem soube explorar o machismo cultural à seu favor e se colocou também como vítima da situação, ao dizer que “fui tóxico, mas sou inocente” e que pessoas boas também podem cometer atitudes ruins. Se ele é ou não inocente, cabe a justiça investigar. O certo é que após a entrevista do humorista, onde ele fez um “mea culpa’ e deixou em aberto detalhes sobre o seu relacionamento com a atriz, é Dani Calabresa que passa a ficar sob suspeição. Assim como todas as mulheres que sofreram algum tipo de abuso sexual são colocadas, quando denunciam seus agressores.

A cultura do machismo e do estupro faz com que até mesmo outras mulheres se coloquem contra a vítima, relativizando o abuso por ela sofrido ou tentando medi-lo com uma régua moral, que, quase sempre, responsabiliza a mulher pela a ação do abusador. É a roupa que ela usava, é o lugar onde ela estava, é a situação que ela favoreceu e outros argumentos que normatizam um comportamento inadequado, e, às vezes, criminoso. O exercício do poder através do assédio sexual não é nenhuma novidade. Seja no meio artístico ou em outros ramos de atividade. E ele também pode ocorrer, ainda que em número infinitamente inferior, da mulher para o homem.

As mulheres, assim como os negros, os pobres, os homossexuais e outros grupos representativamente minoritários e historicamente vítimas de preconceito, sempre estarão sob um olhar de desconfiança, ainda que sejam plenamente inocentes. Sempre haverá um “Será que ela não está mentindo?”, “Será que ela não tinha um caso com ele e quer se vingar porque não conseguiu o que queria?”, “Será que não foi ela quem se ofereceu e agora está se fazendo de vítima” Entre tantos “serás” a verdade pode estar sendo encoberta e mais uma mulher vítima de abuso sexual vai ficando desacreditada.

Nós homens, fomos educados a interpretar todos os sinais positivos femininos enviados em nossa direção, como aceitação sexual. Isso passou a fazer parte do imaginário masculino e a ser reproduzido como padrão normativo. O homem que negar isto, está mentindo ou tem outra orientação. O que não é nenhum problema e nem está em discussão aqui. Até porque, orientação sexual não se discute. Respeita-se. A partir disto, e da ideia opaca de que não é possível haver amizade entre um homem e uma mulher, qualquer gesto ou aceno, ainda que por admiração ou apenas simpatia, vira motivo para “fazer o meu papel de homem”, ainda que se esteja colocando o caráter em questionamento.  

Se deve haver o cuidado em oferecer o benefício da dúvida a Marcius Melhem, o que é um procedimento de acordo com a lei, é preciso que haja um cuidado ainda maior em não oferecer o malefício do descrédito à acusação feita por Dani Calabresa. Independentemente do que possa vir a ser apresentado pelo acusado em sua defesa. Muitas mulheres evitam o confronto com os seus assediadores, justamente pelo medo de serem mal interpretadas, julgadas ou ficarem marcadas como a assediada da vez, diante de uma sociedade doente, cujos valores são invertidos e altamente destrutivos à reputação alheia.

Há rumores de que Marcius Melhem possa sair bem dessa história, devido a algumas inconsistências nas acusações.  Sinceramente, por mais que pensasse, não conseguiria enxergar um motivo que levasse Dani Calabresa a inventar uma situação tão grave como esta. A troco de que ela colocaria uma carreira de sucesso como a dela em risco, apenas para prejudicar alguém de forma tão infame? Porém, é preciso lembrar que estamos num país onde o atual presidente da república, já chamou uma colega de parlamento de “vagabunda” e disse que só não a estupraria, porque ela não merecia (não era sexualmente atraente para ele)

Um país onde o crime cometido por Guilherme de Pádua contra uma mulher que era sua colega de trabalho lhe rendeu o cargo de pastor no reino de um “deus” que acolhe machistas covardes e assassinos. Um país onde o ex goleiro Bruno mandou oferecer os restos mortais de uma mulher a cães famintos e depois foi convidado a fazer a campanha publicitária de um canil. O quinto país do mundo onde mais se mata mulheres. É nesse lugar, onde tudo acaba em pizza, que Dani resolver desafiar o sexismo, o machismo e a cultura da violência sexual contra as mulheres.

Tomara que a sua coragem não seja servida à calabresa.

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