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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Daqui pra frente... Salve-se quem puder

"Esses generais não veem nada além de um carregamento de uísque 12 anos, churrascos com picanhas de R$ 1.800,00 o quilo e polpudos salários de R$ 63 mil. Abra um prostíbulo, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Talvez o senhor tenha melhor talento e mais alegria com esse tipo de negócio do que à frente de uma tropa desordeira.", escreve a jornalista Denise Assis

Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno (ministro do GSI) e militares (Foto: Fernando Frazão - Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

O Exército Brasileiro - uma instituição de Estado - acaba de se colocar de joelhos diante de Bolsonaro, um ex-tenente, que só não foi expulso de suas fileiras por ter feito um acordo, pedindo, ele mesmo, a reforma, depois de ter mentido para o seu superior, o general Leônidas Pires Gonçalves, e enfrentado um processo no Supremo Tribunal Militar. Na ocasião (1987), ele negou ter sido o autor dos croquis de uma bomba que mandaria pelos ares o gasômetro no Centro do Rio, em represália aos baixos salários que recebia. Ao final do processo ele, com a reforma, atingiu a patente de capitão, de que se jacta, hoje. 

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Com a mesma desenvoltura com que ludibriou o seu superior, tudo leva a crer, instruiu e acobertou o general de três estrelas, Eduardo Pazuello, colocando-o sob sua proteção, na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada diretamente à presidência da República. Isto, depois de Pazuello ter comparecido, à paisano em “motomício” promovido por Bolsonaro no Aterro do Flamengo, (ZS-RJ), no dia 23 de maio , subir num carro de som e discursar, em ato público tipicamente de cunho eleitoral, visando a reeleição do presidente. 

Ao fazê-lo sem a permissão do seu superior, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, não só quebrou a hierarquia da Força, como desrespeitou o Regulamento Disciplinar do Exército, em seu Capítulo II - “Das Transgressões Disciplinares”. No item 31, está descrito que é falta grave: “representar a organização militar ou a corporação, em qualquer ato, sem estar devidamente autorizado”. 

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Pazuello rompeu com esta e outras regras da disciplina militar, mas depois de ter deposto na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, na condição de ex-ministro da Saúde, em que protegeu como pôde a Bolsonaro, reforçou o apelido como é chamado pelo presidente:  “o meu gordinho preferido”. E ainda conseguiu o arquivamento do processo disciplinar que respondia, por conta da sua aparição no “motomício”.

A notícia chegou ao 247, enquanto o ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, era entrevistado, por conta do lançamento do seu livro, “O Quinto Movimento”. Instado a falar sobre o episódio, Rebelo classificou a participação de Pazuello no ato como uma “manifestação muito grave de indisciplina, liderada pelo presidente da República” e citou o artigo 142 da Constituição*, comentando: “as Forças Armadas são subordinadas à disciplina e à hierarquia. Esses princípios não admitem relativismos. Ou eles valem para todos ou para ninguém. Não pode haver disciplina para o cabo e o soldado, se não há para o general”, disse.

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Também o historiador e professor titular da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira, especializado em temas militares, reagiu mal à providência tomada pelo Alto Comando do Exército: “Perdi a fé e a esperança nas instituições brasileiras. Penso que a parte pensante da Nação, também. Abriu-se uma brecha que vai corroer por dentro a República, começando pelo artigo 142 da Constituição Federal. O sentido maior de “Gravitas” da República foi manchado irrecuperavelmente”, lamentou.

Aos olhos do público, Pazuello fraquejou diante dos senadores que comandam a CPI, durante o seu depoimento. Mesmo após uma semana de um intenso “mídia training”, desmaiou e precisou dos cuidados do senador Otto Alencar (PSB-BA), que é médico cardiologista. Mas para o governo e o Exército, segue sendo um “bravo general”, capaz de mobilizar todo o Alto Comando, mas sair ileso, depois de apresentar um arrazoado de desculpas esfarrapadas, que faria corar qualquer garoto de colégio pego colando na prova.

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Enquanto para o cargo de ministro da Saúde, Pazuello usou da sua fama de expert em “logística” , para a SAE está levando a sua capacidade de subverter a hierarquia, esgueirar-se junto ao poder e ser dócil aos poderosos. Entrou para a história da submissão e da adulação a sua frase: “ele manda e eu obedeço. Simples assim”.

Esperava-se que, depois de cometer grave ato de indisciplina e matar - eu disse matar - 260 mil patriotas (número de vítimas acrescido à estatística da Covid-19, desde o dia em que tomou posse como ministro da Saúde, até o dia em que deixou o cargo), esperava-se que Eduardo  Pazuello recebesse algum tipo de punição por indisciplina. Não por clamor “punitivista”, mas para que à população fosse passado um recado claro de que poderia ir dormir em paz, sabendo que as Forças Armadas cumprem o seu papel de guardiã da sociedade brasileira, como uma instituição de Estado, e não de um braço armado pronto a baixar sobre os cidadãos, em defesa de um governo que deu as costas para a sua população no momento mais dramático de sua história recente: a pandemia. 

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Temos, hoje, 470 mil mortos pela Covid-19. O número não espanta mais. Naturalizamos o luto, mas visto de perto, em cada casa onde a doença ceifou vidas, há dor e desalento. E daí? Perguntava Bolsonaro? E daí? Passou a perguntar Pazuello, quando encampou a política de contágio por imunidade de rebanho, articulada pelo gabinete paralelo que serviu de guia ao morticínio. E daí? Pergunta agora o Exército Brasileiro, que acaba de confessar em praça pública, que sempre esteve do lado da política genocida do seu “comandante em chefe”, como gosta de bradar aquele que está sentado na cadeira de presidente, depois de levar uma eleição fraudada, sob o respaldo escandaloso e golpista do tuíte do antigo comandante do Exército Brasileiro – sempre ele –, o general Villas Boas. 

Mais uma vez fomos esmagados sob os coturnos dos militares, que até agora protagonizaram a “pantomima” de dizer que são uma Força de Estado. Mentira!!! Curvam-se aos ditames de um ditador, para quem não há lei, não há regras, não há limites. Nivelam-se ao exército de milicianos, seguidores do “mito”. São cãezinhos amestrados a serviço de um projeto entreguista de país. 

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Adeus soberania! Adeus decência! Adeus ordem! Progresso, então, nem pensar. O que esperar de 2022?... Esses generais não veem nada além de um carregamento de uísque 12 anos, churrascos com picanhas de R$ 1.800,00 o quilo e polpudos salários de R$ 63 mil. Abra um prostíbulo, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Talvez o senhor tenha melhor talento e mais alegria com esse tipo de negócio do que à frente de uma tropa desordeira. Ou então, engraxe as suas botas, tranque o seu escaninho e peça pra sair. Este Exército sob o seu comando não me representa.

* Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

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