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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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Datafolha só consolidou em "fotomontagem" registros produzidos a intervalos menos espaçados por outras empresas de pesquisa

"Lula precisa intensificar percepção de que colocar Alckmin como vice não é mero movimento figurativo e dar contornos reais à prioridade", diz Luís Costa Pinto

Lula e Bolsonaro (Foto: Ricardo Stuckert | REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Por Luís Costa Pinto 

Divulgado no fim da tarde da última quinta-feira 24 de março, o mais recente resultado das pesquisas DataFolha que medem as intenções de voto e os ânimos pré-eleitorais dos brasileiros deixou claro que a disputa presidencial de 2022 está polarizada entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). E disso não sairá: nenhum dos nomes elencados por forças diversas -- partidos políticos, mídia tradicional e seus pretensiosos "formadores de opinião" e dealers do mercado financeiro e do setor industrial -- revelou ter energia capaz para se converter em tertius no processo eleitoral deste ano.

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Quando são chamados a explicar números desfavoráveis às forças políticas que os apoiam, algumas lideranças agarram-se à boia metafórica por meio da qual se compara pesquisa de opinião ou de intenção de voto com fotografias. Pois, se é o caso de seguir neste campo semântico, é possível então dizer que os números do DataFolha compõem uma imagem (uma espécie de bricolagem) que na verdade é fotomontagem a partir dos levantamentos diversos institutos e empresas de pesquisa que vêm divulgando resultados menos espaçados do que a divisão de dados da Folha da Manhã e do Uol. O levantamento anterior deles datava de dezembro de 2021, enquanto que o PoderData (empresa ligada ao site Poder360) fez pesquisas telefônicas quinzenais nos últimos três meses, o Quaest (empresa independente neste mercado, contratada por instituições financeiras) promoveu pesquisas mensais, o Ipespe (tradicional empresas de pesquisas pernambucana) segue os levantamentos quinzenais do PoderData, o IPEC, empresa montada por remanescentes do extinto Ibope fez duas pesquisas no período, o Vox Populi, de não menor tradição que o DataFolha fez outras duas e até o FSBPesquisa, divisão de levantamento de dados da empresa de consultoria de comunicação FSB realizou seus levantamentos. É preciso imbuir-se de um estoicismo filosófico, distanciamento científico e projetar o conjunto de pesquisas em agregadores como o disponibilizado gratuitamente pelo site Poder360 (ao qual você tem acesso clicando neste link aqui: agregador Poder360) para ler de forma panorâmica o resultado da bricolagem de pesquisas. E o que ela nos revela?

  • O ex-presidente Lula é favorito, até aqui, porque saltou para um patamar de 40% a 45% de intenções de votos, no qual se mantém há mais de seis meses, e tem rejeição consolidada declinante e sempre em torno de 20 pontos percentuais menor que a rejeição do que a de Jair Bolsonaro.
  • O presidente Bolsonaro, há três meses, desde dezembro de 2021, iniciou um processo de recuperação da avaliação de governo em razão da melhora dos indicadores econômicos verificados com o arrefecimento dos efeitos devastadores dos dois anos de pandemia. Porém esta recuperação está ameaçada pela conjuntura econômica formada na esteira da guerra detonada com a invasão da Ucrânia pela Rússia e os efeitos dos boicotes internacionais contra os russos e a debacle da produção agrícola ucraniana. O resultado do último PoderData, divulgado há dez dias começava a mostrar isso -- a alta dos preços dos combustíveis e o repique inflacionário que advirá daí (o Banco Central ajustou a previsão de inflação de 2022 de 4,7% para 7,1%, com tendência de alta) impactaram os números promovendo um freio na leve e paulatina escalada ascendente do presidente. Na próxima quarta-feira, 30 de março, será divulgado novo levantamento quinzenal da empresa ligada ao site Poder360 e o movimento deverá ser confirmado, ou não.
  • Não há "terceira via" ou qualquer outro nome viável para tirar Lula ou Bolsonaro do eventual 2º turno em outubro de 2022.Entretando, a esqualidez política dos adversários que se aventuraram até aqui como "3ª via" é tamanha que o risco é surgirem tão deprimidos do ponto de vista de intenções de voto nos próximos levantamentos que acentuem as chances de o pleito se resolver em turno único no dia 2 de outubro. Nem Ciro Gomes , do PDT, nem Sérgio Moro, do Podemos, muito menos João Doria, do PSDB, ou Simone Tebet, do MDB, conseguem marcar dois dígitos em intenções de voto. Doria e Tebet empatam ou perdem de nulidades eleitorais como o deputado André Janones, do obscuro Avante.
  • Está claro que o grande "erro" da parcela de brasileiros que diz não querer votar "nem em Lula, nem em Bolsonaro", calculada em torno de 18% a 20% do total de eleitores a partir das inferências especulativas dessas pesquisas, foi não ter abraçado com destemor as possibilidades surgidas desde 2020 de promover o impeachment de Jair Bolsonaro a tempo de apresentar ao País um perfil diverso de liderança. A polarização entre o ex-presidente Lula e o atual, Bolsonaro, está dada e consolidada e dela não se fugirá.

 

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Se a foto panorâmica dos levantamentos pré-eleitorais feitos até agora é esta definida acima com a alta fidelidade dos números das empresas e pesquisa, o que esperar da cena de campanha daqui para a frente? Um breve roteiro:

  1. O ex-presidente Lula, que havia recuperado a capacidade de pautar o debate político nacional desde sua bem sucedida viagem à Europa em novembro de 2021, quando foi recebido como Chefe de Estado no Parlamento Europeu, no Palácio do Eliseu e no Bundestag, e depois de ter convertido sua campanha em um movimento de restauração da democracia, da liberdade e da busca de esperança pelos brasileiros, precisa intensificar a percepção de que colocar o ex-governador Geraldo Alckmin na chapa como candidato a vice-presidente não é mero movimento figurativo (Alckmin precisa demonstrar destreza nos movimentos de costura política, ou seja, não pode ser um "vice figurativo") e dar contornos reais à prioridade que já estabeleceu para a eleição de uma bancada de pelos 180 a 200 deputados federais alinhados com suas ideias.
  2. A Federação que será formada por PT-PCdoB-PV terá de buscar uma construção midiática forte para vender como movimento nacional a aliança eleitoral que está selando com a Federação PSol-Rede, com o PSB, com o Solidariedade e, possivelmente, com o PSD.
  3. Lula, o PT e a esquerda como um todo precisam encontrar uma forma de saída para a armadilha que lhes foi montada -- e na qual caíram -- pelo governo e pelas lideranças de denominações evangélicas pentecostais e neopentecostais. Hoje, o ex-presidente, em cujos mandatos não houve quaisquer perseguições a alas religiosas ou a credos, não reproduz de forma linear, entre os evangélicos, a preferência média que colhe na população ou a frente que abre para Bolsonaro entre as mulheres. A campanha de oposição a Bolsonaro tem de focar em ganhos reais de intenções de voto entre os evangélicos, e isso se refletirá em ampliação da vantagem que já tem sobre as eleitoras brasileiras.
  4. Jair Bolsonaro, por sua vez, perseguirá a ampliação em até 10 pontos percentuais a vantagem eleitoral que colhe nas regiões Norte e Centro Oeste ante o ex-presidente Lula. Vem daí a explicação para a radicalização dos discursos em torno do agronegócio e da busca de precarização ainda maior de exploração econômica de áreas protegidas -- venha essa proteção e questões ambientais ou indígenas e de povos remanescentes.
  5. Bolsonaro também precisa reduzir a desvantagem que tem no Nordeste e no Sudeste. A candidatura do ministro Tarcísio Freitas, em São Paulo, e o apoio à tentativa de reeleição de Cláudio Castro, no Rio, são chaves nessa estratégia no Sudeste. No Nordeste, o presidente precisará abraçar a campanha eleitoral de seu ministro da Cidadania, João Roma, que tenta se eleger governador da Bahia (4º maior colégio eleitoral do País) e do deputado Capitão Wagner, que tenta o governo do Ceará (6º colégio eleitoral brasileiro). Em Pernambuco, 5º maior colégio eleitoral do País, não há nome bolsonarista viável e, fora Roma e Wagner, apenas no Piauí, estado com um dos menores eleitorados entre as unidades federadas brasileiras, há um candidato com chances de eleição que apoia Jair Bolsonaro: Sílvio Mendes, do PSDB, mas, próximo de migrar para o PP ou o PL.
  6. Para neutralizar movimentos bolsonaristas, o ex-presidente Lula intensificará o fechamento das alianças estaduais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. No Rio, em torno do deputado Marcelo Freixo (PSB) e em Minas, em torno de Alexandre Kalil (PSD). A ideia de Lula e do PT é levar a um arco suprapartidário de alianças de esquerda no 2º e no 3º maiores colégios eleitorais estaduais. No maior deles, em São Paulo, a estratégia está bem definida na formatação do palanque do ex-ministro da Educação e ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), que contará com o empenho e a habilidade política de Geraldo Alckmin a favor dele no interior do estado (mesmo que Márcio França, do mesmo PSB de Alckmin, mantenha até o fim sua candidatura a governador). Independente de uma relação formal com a campanha de Haddad, o ex-governador Alckmin chancela no interior o diapasão amplo do ex-ministro da Educação -- e isso vem sendo compreendido por forças políticas paulistas com as quais Alckmin tem conversado.

 

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Eis aí para você, caro leitor, um panorama geral que deve ajudá-lo a ler a cena eleitoral a partir da verdadeira "instalação pós-moderna" que são os números variados e diversos das pesquisas pré-eleitorais presidenciais.

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