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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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De volta para o futuro

A jornalista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, apresenta um cenário da grande sombra do autoritarismo e do nazifascismo que não deixa o país

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Denises Assis, para o Jornalistas pela Democracia - 

Num dia qualquer de agosto do ano de 2014, em trabalho de campo para a Comissão da Verdade do Rio – que culminou na elucidação do episódio da ditadura conhecido como: “Chacina de Quintino” -,  entrevistava vizinhos da casa onde se dera a tragédia, há 41 anos, numa vila típica de subúrbio carioca (com todas as suas características intactas). Em uma delas, com simpático jardim na frente, havia um homem muito alto, que atendeu a mim e à colega com quem dividia a tarefa, com cara de poucos amigos. Não, não falaria nada. Sim, morava ali desde o episódio. Usava uma dessas meias ortopédicas, elásticas e apontou para ela, dizendo:

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- Não fosse isto e eu ainda estaria na ativa. Melhor assim. Estou reformado e passo a dia neste computador, articulando com os colegas a nossa volta. E aí eu pergunto a vocês: o que vão fazer das suas vidas? Porque tudo aquilo vai voltar. Eu quero saber o que vocês, que estão remexendo nisto, vão fazer.

Com a calma aparente que aqueles tempos ainda permitiam, respondi: 

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- Fique tranquilo. Não há clima para vocês voltarem e fazer aquilo tudo de novo, não. 

- Muito bem. Veremos. Mas estou trabalhando para isto. Não vou falar nada sobre aquilo e, com licença.

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Apontou a porta da rua, para onde eu já me dirigia, porque as pernas já não tinham a mesma convicção da língua. E eu queria respirar ar puro.

Num dia qualquer do mês de maio de 2018, na sala de trabalho de uma amiga poderosa, enquanto eu aguardava que ela terminasse de ler uns documentos, ela olhou o vazio e disse, muito séria. Tão séria quanto triste: 

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- O pior é que eles agora vão voltar. E pelo voto. Com aparência de legalidade (referindo-se aos militares).

No dia 21 de outubro de 2018, entre um turno e outro das eleições presidenciais, camisa verde, cabelo desgrenhado e ar de dono absoluto da situação, Jair Bolsonaro gravava mensagem aos milhares de seguidores comprimidos na Avenida Paulista:

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- Nós somos o Brasil de verdade. Junto com este povo construiremos uma nova nação. (...) A próxima faxina agora será muito mais ampla. (Obviamente referindo-se ao “trabalho” feito pela repressão durante a ditadura). Esta turma agora, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. (Claramente falando da submissão ao seu governo). Ou vão para fora, ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria.

Brasília, 18 de janeiro de 2020. No contexto da aprovação do orçamento para 2020, em fala com os repórteres. (o 247 reproduziu e comentou).— O Brasil tem tudo para dar certo. Ninguém tem o que nós temos. Demos um grande passo no ano passado, com muita dificuldade. A economia vem reagindo. Os números estão aí. Logicamente, vem com uma parcela de sacrifício. Não é uma lua de mel. É um casamento de quatro ou oito anos. Ou, quem sabe, por mais tempo, lá na frente. (...).

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São quatro os momentos, mas todos apontam na mesma direção. Jair Bolsonaro tem planos de permanecer no poder, com discurso e governo autoritários, de inspiração nazista. A sua fala é inequívoca, assim como o foi, no discurso de vitória – sim, aquele foi o discurso da vitória – para a Avenida Paulista. 

Permitindo-se um momento de hipocrisia explícita, o general Augusto Heleno apareceu nas redes sociais repudiando o discurso nazista do secretário de Cultura, Roberto Alvim. Tenta ignorar que este foi o tom e é a natureza do homem que acompanhou durante toda a campanha e conhece há 40 anos. Joga para a platéia, procurando amenizar o estrago causado pelo exagero do secretário, demitido por pressão da embaixada de Israel, e o clamor de uma mídia que, depois de uma boa espreguiçada, acordou do sono profundo em que esteve mergulhada. 

Desculpe, general. Embora grosseiro e agressivo, burro o senhor não deve ser, para chegar onde chegou. Então, em nome da clareza. Vá plantar batatas com o seu “alívio” pela demissão de um “nazista”, quando o senhor ajudou a colocar na presidência outro. E de estimação.

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