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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Depois de votar em Lula, é preciso sustentar a vitória nas ruas

Iminência de derrota bolsonarista gera episódios preocupantes de violência, típicos da máquina clandestina que sobreviveu à ditadura que lhe deu origem

Lula faz ato de campanha em Porto Alegre (Foto: Ricardo Stuckert)
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Num esforço para examinar a campanha de 2022 com a objetividade possível, é preciso fazer duas observações indispensáveis.

Verdade que sabemos que nunca é demais lembrar que nenhuma eleição será resolvida antes da contagem dos votos.

Mas também sabemos que, poucas horas antes da abertura das urnas, o favoritismo de Lula tem bases reais. No primeiro turno ele cravou uma vantagem de seis milhões de votos sobre Jair Bolsonaro e até agora não ocorreu nenhum fato novo para modificar essa diferença para baixo. Pelo contrário.

Lula recebeu apoios relevantes nas semanas seguintes, de todos os campos políticos. Sua liderança é reconhecida por todos os institutos de pesquisa com credibilidade.

O cidadão que se dispuser a conversar com eleitores nas ruas, no metrô, em estabelecimentos comerciais, terá um retorno semelhante. Os adesivos da campanha de Lula tem sido disputados -- e exibidos -- com a alegria típica dessas situações. Termômetro do comportamento dos pais, as crianças também querem participar da festa.

Em outubro de 2022 Lula enfrenta seu mais difícil adversário após as derrotas para Fernando Henrique Cardoso e o Plano Real em 1994 e 1998.

Para conquistar o primeiro mandato presidencial, em 2002, Lula venceu Serra por 46,32% a 23,2%, consolidando a vitória no segundo turno por 61,% contra 38,7%. Para derrotar Alckmin, fez 48,61% contra 41,64% no primeiro turno, ampliando a vantagem para 68,83% contra 39,17% no segundo turno.

Desta vez, contra Bolsonaro, a vantagem foi clara, mas os números são 48,43% contra 44,43%, uma diferença de 6 milhões de votos. É a menor diferença em pleitos disputados pelo sistema de dois turnos, mas é uma vantagem acima de qualquer dúvida, indicando uma campanha apertada mas com um favorito claro.

A perspectiva real de poder de Lula está na origem das adesões importantes que recebeu no segundo turno, inclusive de lideranças com distâncias ideológicas em relação ao PT, a começar por Simone Tebet e seus 4 milhões de votos.

Esse fator, refletido nas pesquisas eleitorais, também explica a neutralidade de Romeu Zema, que dificultou as esperanças de Bolsonaro para o segundo turno em Minas Gerais.

Bolsonaro e seus aliados levaram para a campanha um traço jamais visto de violência política depois da República Velha. Em agosto, em Foz de Iguaçu, o agente penitenciário Jorge Guaranho, bolsonarista de carteirinha, invadiu uma festa de aniversário enfeitada com bandeiras e símbolos do PT para executar o guarda municipal Marcelo Arruda, aos gritos de "Aqui é Bolsonaro".

Na medida em que os sinais de uma derrota nas urnas tornaram-se mais claros, atos criminosos tornaram-se mais frequentes. Em outubro, quando a maioria dos analistas políticos definiam a vantagem de Lula como irreversível, a violência atingiu um grau impensável num país onde antropólogos costumam louvar os traços pacíficos da cultura.

Demonstrando momentos de perturbação mental que costumam acompanhar crimes de grande apelo midiático, o ex-deputado Roberto Jefferson resistiu com fuzis, metralhadoras e granadas a uma ordem de prisão assinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre Moraes, até que foi conduzido ao presídio de Bangu.

Setenta e duas horas antes da corrida às urnas, a campanha de Tarcísio de Freitas pelo governo de São Paulo produziu um crime que lembra antigas operações promovidas pelo DOI-CODI do regime militar de 64. Um cidadão foi executado e um cinegrafista que havia filmado a cena, gravando imagens que comprometiam um oficial da Agencia Brasileira de Informações, Abin, foi pressionado a apagar os registros que indicavam uma armação para criar um ambiente de violência na campanha.

Na tarde de ontem, sexta-feira, foi executado o vereador Reginaldo Camilo dos Santos, mais conhecido como Zezinho, coordenador da campanha de Lula e Haddad no município de Jandira, 120 000 habitantes, na Grande São Paulo.

"A milícia bolsonarista segue disseminando o terror", disse o deputado federal Alencar Santana (PT-SP). "Mais um crime político", reagiu Guilherme Boulos (PSOL-SP).

Ao mesmo tempo em que a campanha presidencial mostra sinais claros da imensa força política acumulada por Lula, a iminência de uma derrota histórica produz episódios preocupantes de covardia e violência, típicas daquela máquina clandestina que sobreviveu à ditadura que lhe deu origem, que não aceitam a liberdade e a democracia. Não há motivo para surpresa mas será preciso resistir.

Alguma dúvida?

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