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Hélio Doyle

Hélio Doyle é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal

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Desfecho da crise ou é chute ou bola de cristal

"É impossível prever o desfecho do processo de impeachment, tantas são as variáveis envolvidas. Tudo que se escreve ou se diz cravando um final é mera especulação, geralmente motivada pelo desejo", avisa o colunista Hélio Doyle; "Se Dilma se mantiver no Planalto, há uma incógnita: como reorganizará seu governo e com que aliados contará nessa nova fase", afirma; "Se Dilma cair, o país será governado pelo vice Michel Temer e pelo PMDB, que certamente pregarão, como base em sua agenda econômica já divulgada, uma união nacional juntando o PSDB, o DEM e demais partidos conservadores e de tendência neoliberal"

Brasília - DF, 02/12/2015. Presidenta Dilma Rousseff durante pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR (Foto: Hélio Doyle)
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Os que hoje cravam o desfecho do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff estão apenas especulando. Nada além disso. E especulam não com base em fatos, mas em seus desejos políticos e pessoais. Quem quer Dilma fora do governo apresenta inúmeros motivos para mostrar que ela não tem saída. Os que defendem o governo mostram, por a + b, que o impeachment será derrotado. Não porque os dois lados tenham argumentos, mas porque assim querem que seja. É o que na ciência política chamam de wishful thinking.

A verdade é que é impossível prever o que acontecerá, tantas são as variáveis que podem interferir nesse processo que levará um período de tempo provavelmente bastante longo, mesmo que a tramitação seja apressada. A aprovação ou não do impeachment depende, fundamentalmente, de como se posicionará a sociedade. Sabe-se hoje que há algo em torno de 60% da população desejando firmemente o afastamento da presidente, mas esses números são volúveis e também dependem de muitas variáveis.

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Não é apenas uma questão de respostas a questionários de institutos de opinião. É como a sociedade se mobilizará e se manifestará a favor ou contra o impeachment. Ou seja, como se comportarão as ruas. Diferentemente do então presidente Fernando Collor, Dilma tem um partido de militância e o apoio de movimentos sociais de peso, e que sabem fazer muito barulho, nas cidades e nos campos.

Parlamentares têm seus interesses e, principalmente, negócios. Entre os agrupamentos de congressistas que se moverão por razões políticas e ideológicas está um grande contingente de deputados que votarão de acordo com os benefícios que receberão de um lado ou de outro e das perspectivas de poder que lhes forem acenadas. Mas que, de modo geral, são extremamente suscetíveis às pressões de suas bases políticas e dos movimentos de rua. O voto secreto não teria ganhado, nem Delcídio do Amaral teria sido mantido preso, se prevalecessem apenas os desejos íntimos dos senadores. Foi a pressão que receberam que os levou a, majoritariamente, manter o senador na cadeia.

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Há outras variáveis, como as operações do Ministério Público e da Polícia Federal, que podem fazer a opinião pública e os deputados penderem para um lado ou outro. Depende muito de quem for acusado e quem for preso. O Brasil vive uma situação peculiar: a presidente da República, acusada de crime de responsabilidade, terá seu afastamento decidido por uma Câmara presidida por Eduardo Cunha e, se o processo avançar, será julgada por um Senado presidido por Renan Calheiros. Mais ou menos como aqueles julgamentos nos morros cariocas, em que os juízes são os líderes das quadrilhas criminosas.

O comportamento dos chamados formadores de opinião também será uma variável importante. A maneira como se posicionarão, ao longo do processo, empresários, artistas e personalidades mediáticas poderá influir na opinião pública. Não há muita dúvida quanto à posição da grande imprensa, que há tempo já vem hostilizando Dilma e o governo, mas hoje o peso específico desses veículos foi reduzido pela enorme penetração das diversas redes sociais – jornais eletrônicos, portais, blogs, grupos de whatsapp, instagram, facebook, twitter e assemelhados. Nelas se dará a guerra eletrônica.

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A situação econômica do país também influirá. Não que se espere grandes medidas enquanto o impeachment estiver em andamento, mas a paralisação da atividade legislativa e da economia certamente mexerão com os ânimos não só dos empresários e do famoso mercado como da própria população. Que poderão se voltar a favor ou contra o impeachment.

O que virá depois, se o impeachment passar ou não, é outra questão que não pode ser relevada. Se Dilma cair, o país será governado pelo vice Michel Temer e pelo PMDB, que certamente pregarão, como base em sua agenda econômica já divulgada, uma união nacional juntando o PSDB, o DEM e demais partidos conservadores e de tendência neoliberal. Essa fórmula está longe de ser uma unanimidade e assusta os diversos setores da esquerda, o que inclui grande parcela da população que vê no PMDB a quintessência da corrupção e nessa aliança o caminho das privatizações e do alinhamento aos Estados Unidos.

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Se Dilma se mantiver no Planalto, há uma incógnita: como reorganizará seu governo e com que aliados contará nessa nova fase. Diante da perspectiva de poder com Temer, o PMDB tende a se afastar de Dilma, e o pedido de demissão do ministro Eliseu Padilha já dá o tom desse afastamento. Revigorada por uma derrota do impeachment, Dilma poderá recomeçar seu mandato, mas não poderá prescindir do apoio do Congresso. Como fará isso, é difícil prever. Essa dúvida poderá alimentar tendências favoráveis e contrárias ao impeachment.

A maioria da população não está gostando de Dilma, mas também não gosta de Temer. Aliás, não gosta de políticos e sequer do ex-ministro Joaquim Barbosa, talvez por sua verve política explicitada mesmo quando estava no Supremo Tribunal Federal. Os números apontados em pesquisa do Datafolha são interessantes. A personalidade mais confiável é Barbosa, mas com uma mediana nota 5,9, que está um pouco acima da reprovação. Marina Silva, tida como a mais provável personificação da renovação política, tem apenas 5,3. Abaixo da nota 5 de Aécio Neves estão todos os demais, inclusive Lula, José Serra, Alckmin e até mesmo o exibicionista juiz Sérgio Moro, todos com 4,7. Temer recebeu nota 3,2, pouco acima do 2,9 de Dilma. Fechando a lista, claro, Renan Calheiros (2,7) e Eduardo Cunha (2,3).

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Daí vem a questão que não pode ser calada: tirar Dilma para quê? Para colocar Temer, com apoio dos tucanos e do execrado PMDB? Muita coisa ainda vai acontecer até que o processo de impeachment termine. O final é imprevisível. Quem prevê, ou está chutando ou tem bola de cristal que funciona.

     

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