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Guilherme Basto Lima

Analista Internacional e Doutorando em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ). Twitter @gbastolima

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Desvendando os falsos sinais da recuperação econômica

Os fundamentos para a verdadeira recuperação econômica não estão sendo buscados pelo atual governo, refém de uma agenda de reversão neocolonial, que aprofunda a subordinação brasileira no sistema mundo quando trabalha decididamente pela entrega do patrimônio nacional

Desvendando os falsos sinais da recuperação econômica
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O espanhol "El País" publicou, em março, reportagem carregada de otimismo sobre a situação econômica brasileira. 
 
Esse é o perigo de consubstanciar as projeções encomendadas pelas consultorias ligadas ao mercado financeiro: elas raramente acertam.
 
Nessa mesma linha, havia sido previsto, pelo FMI, crescimento de 2,3% para o PIB brasileiro em 2018. Mas, conforme o Fundo, com os prejuízos causados pelos locautes e greves que afetaram a cadeia logística de abastecimento de combustível, a previsão de alta para o PIB baixou para 1,8%. A imprevisibilidade no cenário eleitoral - que não é um fato novo - figura como segunda alegação para o rebaixamento da alta projetada. 
 
A ideia de que o Brasil estaria experimentando uma recuperação econômica baseava-se em dez sinais listados pelo "El País". Vamos, ponto a ponto, desvendar seus equívocos.
 
1. Emprego A suposta melhora no mercado de trabalho - o desemprego é calculado em função das pessoas que estão procurando vagas - omite dado fundamental: dobrou o número do que  desistiram de buscar um emprego. O que é chamado "Desalento" pelo IBGE camufla a real dificuldade de achar vagas. Outra omissão importante: as 26,5 milhões de pessoas subempregadas, o que representa 23,8%, praticamente um quarto da força de trabalho nacional.
 
2. Juros Os  juros baixos são mais benéficos para quem precisa de empréstimo - esse sim é um dado a ser comemorado. Mas a baixa na inflação, como reflexo da recessão, quer dizer também diminuição do poder de compra, fato que a reportagem também omite.
 
3. Confiança O índice de confiança dos empresários diz muito sobre nada. Não há um grande empreendimento, gerador de vagas em massa, que não conte com gordos empréstimos, quase sempre via financiamento público. Se o governo não adotar postura ativa no investimento produtivo, não há confiança que faça surgir milagrosamente novas unidades geradoras de emprego.
 
4. Arrecadação Não há, tampouco, relação direta entre aumento de arrecadação tributária e retomada do crescimento econômico. Para que o governo brasileiro arrecada - e para quem? Parte significativa dessa arrecadação alimenta os setores rentistas e parasitários na forma de juros da dívida pública e outros mecanismos financeiros de concentração de riquezas.
 
5. Indústria Depois da queda de quase 10% do PIB era de se esperar que houvéssemos chegado ao pré-sal da recessão. Essa pausa no esfacelamento do parque industrial brasileiro é motivo de confiança para o setor. Mas o governo, via privatizações e concessões, entrega a empresas, muitas delas estrangeiras descompromissadas com o país, as decisões sobre o nível de empregabilidade nacional. Por isso, defender as estatais e subsidiárias é defender mais postos de trabalho digno e regulado pelo setor público. 
 
6. Agronegócio Apresentado como a nova locomotiva brasileira, esse setor gira em torno de terrenos de monocultura agrícola voltados à exportação. Esse modelo neocolonial, ao promover o rebaixamento do Brasil na divisão internacional do trabalho, destrói as bases da economia nacional. O setor industrial, que já representou quase um terço do PIB, esfarela-se na medida em que nos tornamos meros exportadores de produtos de baixo valor agregado. Comemorar o troféu de campeões na exportação de soja é respaldar o subdesenvolvimento do qual estamos nos tornando reféns.
 
7. Poupança Seria fato positivo que os trabalhadores brasileiros conseguissem poupar, pois significa sua dignidade e possibilidade de pensar o futuro. Mas o que é chamado de poupança nacional não se trata disso. E mais: tampouco há quaisquer relações diretas entre poupança e crescimento econômico. Ocorre justamente o contrário. O poupado, quando não investido em produtividade, torna-se juros, beneficiando apenas alguns entes privados.
 
8. Mercado Imobiliário O que chamam de "Expansão do Mercado Imobiliário" na prática significa aumento do preço dos alugueis. Por isso é importante saber qual setor da economia cresce e quem é o beneficiado desse crescimento. Nesse caso, os rentistas são os que mais ganham - como sempre, às custas dos salários dos trabalhadores.
 
9. Comércio A expectativa de abertura de novas lojas como sinal de movimento dinâmico do setor comercial é boa para o conjunto da sociedade. Mas é suficiente? Diante das 350.000 vagas a menos em 2015 e 2016, a reabertura de 26.000 não significa nem 10% de recuperação. 
 
10.Investimento no que? O que é esse Investimento Direto no País (IDP) senão o ingresso de divisias que entram e saem no Brasil sem qualquer tipo de controle? Desses $6,5 Bilhões, quanto foi utilizado para  robustecer a cadeia produtiva nacional? E quanto capital entrou para se beneficiar das altas taxas de juros? Sobre as agências de risco: onde estavam e o que disseram no estouro da Crise Financeira Global em 2007-2008? 
 
Esse conjunto de sinalizações classificadas como positivas não resiste a uma breve análise, ligeiramente criteriosa. Os fundamentos para a verdadeira recuperação econômica não estão sendo buscados pelo atual governo, refém de uma agenda de reversão neocolonial, que aprofunda a subordinação brasileira no sistema mundo quando trabalha decididamente pela entrega do patrimônio nacional. Sem a realização de Reformas de Base que promovam o redirecionamento das prioridades para o desenvolvimento social, o Brasil seguirá confinado no cativeiro do subdesenvolvimento.

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