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Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

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Dilma: a América Latina precisa atuar integrada

"Esta integração, no entendimento da ex-presidente, deve buscar a reindustrialização dos países latino-americanos", escreve o jornalista

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“A América Latina não pode se condenar, como está sendo condenada nesta terceira fase de onda neoliberal, a ser uma produtora de commodities. Não superaremos a desigualdade se não nos reindustrializarmos. Não há a menor hipótese.” O alerta foi dado, sob aplausos, pela ex-presidente Dilma Rousseff, na manhã de terça-feira (29/03), durante o Encontro Internacional Democracia e Igualdade que o Grupo de Puebla e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) promovem. Para ela, está no momento de os países da America Latina voltarem a atua junto, de forma integrada para fazer frente à necessidade de superar os entraves que geram a desigualdade.

Nos dois dias do encontro (29 e 30 de março) políticos de diversos países, como Ernesto Samper (ex-presidente da Colômbia), Fernando Lugo (ex-presidente do Paraguai) e José Luis Zapateiro (ex-presidente da Espanha) e Mário Delgado Carrillo (presidente do Morena – Movimento Nacional de Regeneração, que elegeu o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador) debatem um novo modelo de desenvolvimento comprometido com a justiça social, a democracia participativa e a solidariedade entre os povos. Na tarde desta quarta-feira o encerramento ocorrerá com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Na sua fala para um auditório lotado, a ex-presidente também deixou claro que os países latino-americanos não podem aceitar serem apenas “depositários, simplesmente de plataformas. Nós não podemos nos contentar com Uber, com iFood, com Airbnb. Não é essa a possibilidade que pode transformar esse continente.”

Diante das previsões, como a do mega investidor Larry Fink, CEO do BlackRock (fundo de investimento que controla trilhões de dólares), de que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia coloca em risco a globalização – o que ela, pessoalmente, considera que será um retrocesso – Dilma defendeu que os países América Latina atuem em conjunto, buscando a integração regional.

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“Não somos um continente qualquer”

Segundo sua análise, as sanções que os Estados Unidos e países europeus estão impondo à Rússia poderá sim acelerar o processo de desglobalização, com a perda do poder do dólar. Por isso sustenta a necessidade de a América Latina reagir em bloco, integrada.

“A América Latina, hoje, tem quase um bilhão de consumidores. Não somos um continente qualquer. Nós temos algumas vantagens. Primeiro nós temos quase um bilhão de consumidores. Não somos um mercado qualquer. Além disso, nós temos alimentos, petróleo e minérios. Temos petróleo desde o México, passando pelo Brasil, Argentina, Colômbia, e outros países. Temos também terras raras. Por que eu estou dizendo isso? Porque acho que esse poder da América Latina potencial tem de ser fortalecido, tem de ser centralizado na nossa integração regional.”

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Esta integração, no entendimento da ex-presidente, deve buscar a reindustrialização dos países latino-americanos, para que consigam gerar oportunidade a seus povos o que provocará a melhora das condições de vida, ajudando a superar a injustiça social existente:

“A América Latina não pode se condenar, como está sendo condenada nesta terceira fase de onda neoliberal a ser uma produtora de commodities. Não superaremos a desigualdade se não nos reindustrializarmos. Não há a menor hipótese.” Em seguida, detalha:

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“Com quase um bilhão de mercado consumidor você precisa da qualidade, da agregação de valor para produzir primeiro empregos descentes. Para dar emprego para os universitários. Para dar emprego para a nossa população que se formará em profissões técnicas. Mais do que isso, não podemos nos condenar, diante da quarta revolução industrial, a sermos depositários, simplesmente, de plataformas. Nós não podemos nos contentar com Uber, com iFood, com Airbnb. Não é essa a possibilidade que pode transformar esse continente. Quem se contentar em ser somente importador de tecnologia, será submetido de uma forma mais perversa do que hoje. E nós veremos uma população imensa de jovens não ter emprego, nem estudo.”

Precisamos construir um polo de negociação na AL

Ela diz que é preciso buscar a inserção e isto, segundo seu entendimento, tem que ser feito de forma autônoma e soberana, de maneira integrada:

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“Se não podemos nos contentar na quarta revolução industrial em sermos só depositários de plataformas e importadores de tecnologia… só se nós conseguirmos uma inserção. Nós temos que buscar essa inserção de forma autônoma, soberana e com a nossa força de integração. Temos que saber como se dá – eu conheço muito bem, como muitos de nós que tivemos no governo sabem disso – como se dá a negociação de transferência de tecnologia. Com o “nosso” Estados Unidos não há essa transferência. Simplesmente não há. Com alguns países da Europa é possível. Nós, inclusive, fizemos o modelo do jato com a Suécia. Por quê? Porque a Suécia transferia no Gripen a tecnologia e compartilhava a tecnologia. Não é transferir só, é compartilhar. Além disso, nós conseguimos a transferência de tecnologia com a China, a transferência para satélite”

Prosseguindo, previu: “Nós vamos ter que construir na America Latina um pólo de negociação, porque ninguém dá nada a ninguém de graça. Construir um pólo e uma força de negociação é a nossa nova forma de integração, para que nós possamos da fato almejar a redução da desigualdade. Porque você precisa de dinheiro e você precisa que seu orçamento seja sustentável.”

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Neste ponto ela concordou com Samper, que na sua fala defendeu como uma das necessidades à busca do desenvolvimento a reforma tributária. Dilma associou-se à idéia:

“É obvio que o Samper tocou em um ponto central, reforma tributária. O (Thomas) Piketty dizia que um dos grandes avanços tinha sido o imposto progressivo. Aqui nesse país não se tributa ganho de capital, dividendos. Somos nós e um país das nações do Báltico. Nós temos que tributar receitas financeiras. Temos que tributar sim, receitas digitais. Isto não tem evasão fiscal possível. No resto tem uma coisa que se chama evasão fiscal.”

Dilma ainda criticou o neoliberalismo por ele, no Brasil, ter criado o teto de gastos:

“O que verificamos é que o neoliberalismo aqui no Brasil criou uma coisa que se chama teto dos gastos. O neoliberalismo transfere a política fiscal, então, para o teto. Ou seja, anula a política fiscal. E o neoliberalismo transfere (a política) monetária para quem? Transfere a monetária para o mercado: a independência do Banco Central.”

Prevendo que as sanções econômicas imposta à Rússia gerarão “descasamento e dissociações”, principalmente quando se percebe que agora os russos exigem o pagamento de suas exportações com a sua moeda: “a Rússia exigiu dos chamados países hostis o pagamento em rublo (…). Ao fazer isso ela obriga os países europeus a comprarem rublo no mercado aberto e isso valoriza o próprio rublo. Esse processo de sanção pela primeira vez mostrará as conseqüências porque se dá em um momento em que há multilateralismo no mundo. E aí é um processo de secção que implicará em descasamento e dissociações.”

Não se pode investir mais na Defesa do que na Educação

Diante desta perspectiva, ela insistiu:

“Eu acho que mesmo que se resolva essa guerra agora, acho que traços disso vão permanecer. A América Latina tem que estar atenta, porque nós vamos ter que agir nessas circunstâncias. Todos os países da América Latina, hoje mais do que nunca – como dizia o Lula, nunca dantes da história desse país, é nunca dantes da história desse continente – precisamos tanto de integração. Então, Unasu (União de Nações Sul-Americanas) e Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) são instituições que foram muito importantes. Criadas na outra onde progressista, que terão que ser retomadas com uma força imensa agora.”

Apegando-se ao tema do encontro – o modelo solidário de desenvolvimento – Dilma acrescentou:

“Este modelo solidário dá a base para esta conformação. Nós queremos tudo isso para que o nosso povo latino-americano tenha outra condição de vida. O Brasil não pode ter 19 milhões de pessoas passando fome outra vez. Gente na fila do açougue querendo osso, o que em Minas Gerais chama muxiba.

Em cima da dura realidade brasileira, prosseguiu no alerta a todos:

“A gente não pode aceitar isso e a gente não pode aceitar essa desqualificação feita com as universidades desse país. Não é possível investir mais no ministério da Defesa do que no ministério da Educação e da Saúde. Não é possível que o nosso passaporte para o futuro, que foi a descoberta do pré-sal, não seja utilizado para pagar a melhor educação possível para nós. Não é possível que a gente não negocie com nossos parceiros – a gente tem que negociar commodities – mas não é possível que a gente não negocie educação, ciência e tecnologia. Não há, na história, ninguém que acendeu a ser desenvolvido, a melhorar a situação de vida do seu povo sem se apropriar dos ganhos da humanidade com a questão da ciência e da tecnologia e ao mesmo tempo investir domesticamente. A América Latina terá que fazer isso e, acredito, pode levar a cada rincão da América Latina o desenvolvimento. Eu encerro dizendo como disse o Samper, nós necessitamos de uma nova cidadania Latino-america, mas solidária no social, mais produtiva no econômico, mas participativa no político, mais comprometida com o meio ambiente e mais orgulhosa cada dia com a sua identidade. Eu acrescento: mais soberana e autônoma na sua geopolítica”.

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