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Dilma e sua recente (e demagógica) paixão pelos taxistas

A presidente transformou uma concessão pública, como a de motorista de praça, em hereditária. E fez isso camuflado num contrabando dentro de uma medida provisória

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Se tem um assunto que eu entendo é táxi. Ou melhor, motorista de táxi. Algumas pessoas ainda se surpreendem quando eu digo que não sei dirigir. Em geral perguntam: Desde o AVC?

Eu respondo: Não, eu nunca dirigi, nunca tive carta de motorista. É curioso, mas existe toda uma geração de jornalistas que não dirige, ou que tentaram aprender e não conseguiram.

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Só pra início de conversa, que eu me lembro, assim, de relance, tem o Mauro Ribeiro, o Renato Pompeu, o Mino Carta e mais um punhado que não me vêm no momento.

Outras pessoas se intrigam. Seu pai não tinha carro? Tinha, eu respondo. Era funcionário do Banco do Brasil num tempo em que era uma profissão invejada por muita gente. Como a diplomacia.

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No Banco do Brasil sua caminhada o levou a se aposentar com o honroso cargo de procurador do BB, e falecer 15 depois. Dizem que não é rara essa coincidência entre a aposentadoria e a morte.

Papai, ao longo da vida, enquanto subia na carreira, foi também aumentando o nível de exigência automobilística. Começou com um Prefect, um carrinho desajeitado, mas muito econômico, fabricado na Inglaterra ainda sob os efeitos da guerra. Depois um DKW nacional, aqueles que a porta da frente abre em sentido contrário. Ou seja, para a frente.

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Com o tempo trocou o DKW por um automóvel dos seus sonhos: um De Soto. Não um De Soto comum, de seis cilindros, como existiam vários em São Paulo. Um De Soto oito cilindros, identificado internamente pelos assentos de couro, e externamente pelos oito dentes reluzentes da grade frontal.

E aí, você nunca teve vontade de dirigir um desses carros de seu pai? Se eu disser "nunca", vocês não vão acreditar.

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Eu sempre dependi do táxi. Ou melhor. Dos taxistas. Alguns marcaram minha vida. Como o João Carlos, do "táxi especial", o vermelho e branco, que eu chamava sempre nos tempos dourados em que ganhava bem como editor de revista.

Eu tenho comigo que o João Carlos devia ter alguma ligação com SNI (Serviço Nacional de Informações) na época da "durindana". Ele me perguntava coisas de um jeito muito estranho, como se estivesse registrando algo importante. E era muito bem informado. Eu tomava alguns cuidados, mas nosso relacionamento sempre foi muito amistoso.

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Anos depois, morando na Granja Viana, perto de Cotia, eu tive o prazer de compartilhar da amizade do "seu Oripes", codinome de Eurípedes. Com o Oripes eu ficava sabendo do que estava acontecendo no São Paulo F.C, detalhes do treino de ontem, fofocas dos bastidores etc.

"Seu Oripes" era simplesmente o tio mais chegado do Julio Baptista, hoje no Cruzeiro, depois de ter passado um tempão nas Europas. Quando o Julio Baptista vinha ao Brasil, de férias, "seu" Oripes me avisava: "Olha, esta semana não posso atender o senhor, vou ficar por conta do meu sobrinho.".

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Claro que eu entendia. Afinal, não é pra qualquer um ter o privilégio de ter como motorista de táxi o tio preferido do Julio Baptista.

Mais marcante na minha vida foi – e será para sempre – foi "seu Edmilson", nos quase 11 anos que passei em Brasília.

Edmilson tinha dois clientes preferenciais. Um era eu. Outro era um procurador da Justiça Militar, que ele atendia quando essa autoridade transitava por Brasília.

Claro, o Edmilson tinha formação militar. Sabia guardar segredos, tanto que, anos se passaram e eu nunca soube de qual procurador da Justiça Militar se tratava.

Assim como ele jamais passaria adiante as informações sobre as "mumunhas" do Senado Federal, onde eu trabalhei esse tempo todo. Em boca fechada, não entra e não sai mosca, era o lema do Edmilson, que me recebia no seu táxi com a porta aberta e batendo continência.

O Edmilson inclusive viajava comigo. Veio de Brasília até Indaiatuba mais de uma vez. Quando precisei ir a Sergipe de carro para passar uns dias (claro, eu não permitiria jamais que o Johnnie Walker viajasse numa gaiola no porão de um jato), não tive dúvidas.

Liguei para Brasília, combinei com o Edmilson, ele veio até Indaiatuba e no dia seguinte partimos para Aracaju.

Foram mais de 2 mil quilômetros de estrada, nem sempre, ou quase nunca, de pista dupla (ah... esse PAC que não anda...).

Eu cochilava e de repente ouvia o vozeirão trovejante do Edmilson: "Seu Sebastião, não está na hora do Johnnie Walker beber água?". Eu saía da minha sonolência e parávamos então no primeiro posto para o Johnnie refrescar-se e fazer outras necessidades.

Um dia, o Edmilson, no trajeto para o aeroporto de Brasília, me disse, com ar solene: "Seu Sebastião, eu não vou mais poder atender o senhor". Espantado, perguntei: "Por que Edmilson?". Ele sempre com aquele vozeirão: " É que eu estou me aposentando."

Foi um choque para mim... Meio balbuciante, só tive ânimo de perguntar: Você vai deixar o táxi? "Sim, senhor" , trovejou a voz.

Essa relação de intimidade com os taxistas, uma categoria profissional que eu admiro profundamente (e que em São Paulo, 80% dela ainda se lembra com saudade dos tempos do Maluf) é que me autoriza a lamentar, como brasileiro e cidadão que depende dos táxis para sobreviver (mal e mal) e a protestar, e de forma veemente, contra a demagogia deslavada da presidente (a) Dilma Rousseff, transformando uma concessão pública como a de motorista de praça, em hereditária.

E fazendo isso camuflado num contrabando dentro de uma medida provisória.

E mais, a fazer um discurso tão canhestro quanto ridículo a um grupo de taxistas, arrebanhados às pressas pelos asseclas do Planalto, lembrando, com lágrimas falsas como notas de 3 reais, que "muitos bebês já nasceram nos seus táxis".

É uma vergonha essa atitude puramente eleitoral de uma senhora que se diz presidente (a). Concessão de serviço de táxi, agora, passa de pai para filho...Vejam se tem cabimento !?!?

E eu, como é que fico. Se não for com a cara do filho do "seu Oripes"? Ou com o sobrinho do Edmilson? Como é que eu fico?

Dona Dilma, eu também quero uma mamata dessas. Eu quero de volta, como uma concessão de pai para filho, o emprego do meu pai no Banco do Brasil.

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