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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Doria é um stalinista enrustido

(Foto: Alex Solnik)
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Minha mãe contava que, nos tempos de Stalin, quando saía para trabalhar (sim, as mulheres trabalhavam no comunismo) e via paredes e fachadas sendo pintadas de branco e ruas sendo furiosamente varridas em Drogobytch, a pequena cidade da Ucrânia onde morávamos era sinal de que logo mais viria uma visita importante de Moscou. A cidade precisava ficar bonita, pelo menos por uns dias.

Era isso que importava e não fazer alguma coisa para evitar que a população morresse de fome por causa da desastrosa e assassina política agrícola de Stalin. Hoje se sabe que ele matou muito mais gente de fome do que em fuzilamentos.

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Não é muito diferente do que o prefeito Dória fez em São Paulo. Ele mandou limpar os muros da Avenida 23 de Maio, trajeto obrigatório dos visitantes que desembarcam no aeroporto de Congonhas para chegarem ao centro da cidade. É preciso dar uma aparência de que São Paulo é uma "cidade linda".

Não é novidade, nem no interior da Ucrânia nem na maior cidade do Brasil, que já passou pela "Operação Belezura", da prefeita Marta Suplicy, e pela "Operação Cidade Limpa", que destruiu os outdoors pintados ou luminosos sob pretexto de que provocavam poluição visual e cuja proibição tornou a cidade mais escura, como está até hoje e expôs as paredes cinzentas dos arranha-céus.

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Não importa se, a alguns quilômetros da 23 de Maio estende-se uma imensa região periférica, a Norte, Sul, Leste e Oeste, onde o esgoto corre a céu aberto e não só enfeia aquela parte miserável da cidade como expõe a sua população a doenças letais. Dória dá prioridade à eliminação de grafites e pichações, os quais, até onde se sabe, não provocam doenças nem mortes.

Não importa se, em pleno século 21 a maior, mais rica e mais orgulhosa metrópole do Brasil convive com a fiação elétrica também a céu aberto, o que não só a enfeia como expõe as pessoas a notáveis riscos em dias de tempestade (como nessa época do ano).

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Quem visita a cidade não vai à periferia e não dá bola se os fios elétricos estão expostos ou não, então Dória não está nem aí com isso.

Como homem de comunicação que é, a sua maior preocupação é fazer o que "dá ibope". O que dá mais ibope? Acabar com o esgoto malcheiroso (mas muito longe da sua casa) ou criar uma "Operação Corujão" que dá direito a exames na calada da noite em hospitais de gente fina aos moradores da periferia? Argumentar que, se houvesse saneamento básico a maioria daqueles exames seria dispensável é dar murro em ponta de faca, porque ele já deixou clara, em 25 dias de mandato, a sua opção pelo espetáculo e não pelo que acontece nos bastidores.

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A única diferença entre Drogobytch e São Paulo é que, nos tempos de Stalin, quem contestasse a fúria aparente de limpeza, mesmo em conversas com vizinhos, corria o risco de ser denunciado e deportado para a Sibéria (não estou brincando) e a gente ainda tem o direito de criticar as atitudes inócuas, espetaculosas e propagandísticas do pequeno déspota que a cidade elegeu sem temer deportação para Alcaçuz.

E ainda por cima conceber e publicar a ironia de que ele é, no fundo da alma, um stalinista enrustido.

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