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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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É hora do Brasil mirar a Argentina para não ser colônia dos EUA

Ao reatar a relação política com Alberto Fernández e importantes setores peronistas, Cristina promoveu um amplo diálogo com os setores políticos e sociais progressistas e da esquerda argentina. Sua obra consistiu numa ampla frente programática anti-neoliberal do peronismo para interromper o maior saqueio e roubo das finanças da história do vizinho país.

Alberto Fernandez e Cristina Kirchner tomam posse como presidente e vice na Argentina (Foto: Agustin Marcarian/Reuters)
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Enquanto escrevo essas palavras, 94.702 irmãos e irmãs brasileiros já morreram por COVID-19. No país vizinho Argentina, o número de mortes computado até hoje é de 3.813 pessoas. Embora as populações tenham uma pequena diferença, morre muito mais gente proporcionalmente no nosso país. A Argentina tem 44,49 milhões de habitantes. O estado de São Paulo tem 46 milhões de habitantes, ou seja, praticamente o mesmo contingente populacional argentino. Somente nesse estado, com quase a mesma quantidade de pessoas que a Argentina, já morreram por COVID-19 até hoje 23.365 pessoas, o que é um pouco mais de seis vezes o número de mortes.  É o preço que todos pagamos pela derrota em 2018.

Argentina e Brasil tiveram dois caminhos opostos nas suas eleições presidenciais. Alberto Fernandéz e Cristina Kirschner são do campo popular e progressista como Fernando Haddad e Manuela D'Ávilla, chapa derrotada no Brasil por Bolsonaro e Mourão. Cristina Kirshner é a líder do maior partido de esquerda da Argentina, e tomou uma decisão que surpreendeu o mundo inteiro. Decidiu ser candidata a vice-presidente de Alberto Fernandéz, mesmo já tendo sido presidenta da Argentina, tendo um partido maior do que este e sendo apontada como líder nas pesquisas de intenção de voto. O que motivou sua decisão? 

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Apesar de sua grande popularidade, sabia que tinha uma rejeição parecida com o PT no Brasil e enfrentava uma guerra jurídico-político-midiática muito semelhante, e que teria muitos adversários dentro do campo progressista, a começar pelo próprio Fernandéz. As semelhanças não são meras coincidências. O aparato que derrubou Dilma também se voltava contra Cristina, era coordenado e monitorado pelos Estados Unidos. Cristina sabia que o jogo era pesado, e aprendeu com a lição brasileira. A decisão dela foi um ato de grandeza, pois lá também havia uma necessidade de unir com amplitude um campo que se fragmentava em disputas menores do que os severos ataques aos direitos sociais e às condições de vida de uma sociedade arrasada por quatro anos do neoliberalismo de Macri.

Ao reatar a relação política com Alberto Fernández e importantes setores peronistas, Cristina promoveu um amplo diálogo com os setores políticos e sociais progressistas e da esquerda argentina. Sua obra consistiu numa ampla frente programática anti-neoliberal do peronismo para interromper o maior saqueio e roubo das finanças da história do vizinho país. A vitória elegeu o governo que hoje é muitas vezes mais eficiente que o brasileiro em salvar vidas. Ou seja, mais uma vez demonstrado que a amplitude pode salvar vidas. 

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O Brasil foi vitimado por um golpe orquestrado pelos interesses do império estadunidense. O mesmo roteiro aplicado no Brasil estava destinado a Argentina. O judiciário argentino tinha até um Sérgio Moro, o juiz Claudio Bonadio, que comandava uma espécie de lava jato argentina, que emitiu nove ordens de prisão preventiva contra atual vice-presidente. O resultado dessa batalha foi diferente. Enquanto o Brasil tem um governo capacho do imperialismo e que despreza a vida, a Argentina não. 

No discurso de posse,  Alberto Fernandéz e Cristina Kirchner prometeram criar mecanismos para evitar que o judiciário agisse como fantoche do imperialismo. Finalmente iniciam a cumprir sua promessa. Na sexta passada dia 30 de julho, o presidente argentino anunciou o Projeto de Lei de Organização e Competência da Justiça Federal e do Conselho Consultivo. Em suma, se trata de uma reforma judicial no país. Esse projeto é uma tentativa de blindar o Judiciário argentino de ser usado como fantoche do imperialismo, ou nas palavras do chefe do executivo "só busco fazer a República que todos declamam, mas que alguns humilharam".

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Nossa República, humilhada por um governo marionete dos EUA, vai pagando o preço, entre outras coisas, da desunião da esquerda, dos progressistas. Enquanto choramos a morte de nossos concidadãos, seguimos tendo nossa riqueza drenada em tenebrosas transações, para alimentar os interesses geopolíticos de um império decadente que tenta desesperadamente manter influência diante do vigoroso crescimento chinês e russo. O que mais terá que ocorrer antes das mágoas serem esquecidas? Não está descartado, segundo analistas como Pepe Escobar e outros, que os Estados Unidos planeje uma guerra na América do Sul contra a Venezuela, usando o Brasil e a Colômbia, a depender do resultado das eleições presidenciais nos EUA. Não vamos esquecer que Mourão está comandando operações na Amazônia. Alguém ousaria descartar essa possibilidade?

Que a lição de Cristina e da Argentina seja estudada com mais interesse. Não se trata de copiar, pois cada país tem sua especificidade. Mas a preferência por se referenciar em países próximos e que dividem posições semelhantes na realidade global é sempre mais soberana do que aceitar passivamente ser uma peça nas mãos de um Império decadente.

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