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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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É muito fácil acabar com a democracia no Brasil

"Tal como Getúlio alegou, em 1937, que a constituição não o deixava colocar o Brasil na rota da prosperidade e simplesmente promulgou outra, Bolsonaro poderá dizer o mesmo: a constituição, o Congresso e o STF não me deixam mudar o país do jeito que é preciso, está me atrapalhando. E quem vai reagir a um governo blindado pelos generais?", questiona o colunista Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

É muito fácil acabar com a democracia no Brasil (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia - Fico com a pulga atrás da orelha ao ler artigos e entrevistas de intelectuais ou empresários bem- sucedidos otimistas com o futuro governo. Muitos não veem ameaça alguma à democracia. Eu vejo. Basta visitar a história do Brasil para ver como foi fácil fazer isso todas as vezes em que aconteceu. Para acabar a democracia, no Brasil, bastam dois elementos: um falso "inimigo interno" ou "ameaça interna" e a aliança com a cúpula das Forças Armadas.

Em 1930, o inimigo interno eram as elites, era a aliança do café com leite. Essa aliança maligna não permitia que o país avançasse. Respaldado pelos generais que traíram o presidente eleito, Getúlio se apossou do poder sem queixas da população. Ao contrário, os cariocas fizeram um carnaval fora de época para saudar sua vitória. Desfilaram em corso exibindo símbolos gaúchos como o chimarrão. O outro era um chato paulista de fraque e cartola. Getúlio era o novo.

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Ninguém chamou aquilo de golpe, nem chama até hoje. Todos os historiadores decidiram batizar o golpe de "Revolução de 30". E ai de quem disser o contrário. Mas a democracia acabou quando Getúlio e os generais afastaram Washington Luís e o prenderam no Forte de Copacabana.

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Getúlio até promulgou uma constituição democrática em 1934, depois de quatro anos como chefe do governo provisório, mas três anos depois decidiu que a constituição não deixava fazer o que ele pretendia e como pretendia. A "ameaça interna" utilizada para golpear a democracia foi o comunismo internacional. Um suposto Plano Cohen, produzido dentro do próprio governo pelos aliados integralistas, no qual o Komintern dava instruções aos comunistas brasileiros de como tomar o poder, ou seja, um pedaço de papel, apócrifo, falso, ridículo, foi suficiente para convencer os brasileiros de que era isso mesmo, estava certo Getúlio fechar o Congresso e todos os partidos, censurar livros, filmes e jornais, prender, deportar e torturar. Afinal, se não o fizesse, cairíamos numa ditadura comunista. Não perceberam que para evitar uma suposta e inexistente ditadura vermelha aderiam a uma ditadura fascista comandada por um civil blindado pela cúpula militar.

Em 1964, o inimigo interno mais uma vez foi pintado de vermelho e de corrupto. Na visão demente ou mal-intencionada de políticos conservadores, era preciso deter o presidente João Goulart antes que proclamasse o comunismo. E mergulhasse o país na corrupção mais desenfreada.

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Os brasileiros mais uma vez caíram na lorota. Um milhão de pessoas foram às ruas de São Paulo achando que estavam defendendo a liberdade quando o que estava em marcha era o fim dela. Os civis chamaram os generais e os encarregaram de fazer o trabalho sujo com a condição de que devolvessem o poder a eles logo a seguir. Esqueceram-se de que o uso do cachimbo faz a boca torta. Os generais já estavam cheios de serem chamados para resolver os problemas para os civis, se retirarem e voltarem a ser chamados. Resolveram ficar. E quem iria encarar os tanques? Goulart nem estava no palácio para defender seu mandato. Nenhum tiro foi disparado. O poder passou aos generais "sem derramamento de sangue". Quando os civis resolveram reagir os militares estavam aboletados na cadeira presidencial.

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O governo Bolsonaro tem as duas condições para acabar com a democracia: a "ameaça interna" e o apoio dos generais. A ameaça, mais uma vez, além da corrupção, é o comunismo representado pela Venezuela e que segundo ele tem que ser banido, além do suposto "marxismo cultural" na educação e até nas relações exteriores.

Ora, ele não poderá derrotar o "marxismo cultural" ou implantar o Escola Sem Partido se cumprir o que diz a constituição. O que pretende fazer, a constituição não permite. O Congresso é outro obstáculo. Os deputados acabaram de rejeitar o Escola sem Partido, uma das vedetes de sua vitrine eleitoral. O relator no STF, Luís Roberto Barroso, disse que isso é coisa de quem vê assombração errada.

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Tal como Getúlio alegou, em 1937, que a constituição não o deixava colocar o Brasil na rota da prosperidade e simplesmente promulgou outra, Bolsonaro poderá dizer o mesmo: a constituição, o Congresso e o STF não me deixam mudar o país do jeito que é preciso, está me atrapalhando. E quem vai reagir a um governo blindado pelos generais?

Não é demais lembrar que além da "ameaça interna" e do apoio fiel das Forças Armadas, Bolsonaro ainda tem o WhatsApp.

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