CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Denise Assis avatar

Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

695 artigos

blog

E o Oscar vai para: o colunista em vertigem

"Desta vez ficou flagrante a dificuldade em lidar com uma dura realidade. A história do Brasil vai estar em discussão em todo o mundo. E não na versão que foi distribuída para uso doméstico, a de que um mar de corrupção subiu a rampa, tragou a presidente, que num deslize de pedaladas (farsescas e fabricadas) caiu do cargo", diz a colunista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, sobre a indicação do filme de Petra Costa ao Oscar

(Foto: Divulgação)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - A indicação do filme “Democracia em Vertigem”, da cineasta Petra Costa, para concorrer ao Oscar, marca também o dia em que o colunista/porta-voz assoviou, olhou para cima e deu um salto para além da realidade. Isto, depois de fazer uma verdadeira ginástica mental para falar da honraria, sem passar pelo fosso da história em que o país foi jogado - sem dúvida com uma generosa ajuda da mídia, que tratou de reverberar à estridência, os “vazamentos” daquela dupla (de procurador+juiz), todos politicamente calculados para se chegar ao desfecho demonstrado pelo filme. O impeachment da presidenta Dilma.

Assumindo o papel de narradora e personagem, Petra se coloca como uma expectadora/testemunha de uma história que se desenrola no palco do poder: a capital do país. Ali, penetra por corredores, tem acesso a personalidades e imagens que a outros não foi dado o privilégio de obter. Ao contrário de Maria Augusta Ramos, que no seu brilhante “O Processo” (2018), fez e colocou nas telas um filme no calor da hora, em que o roteiro ia sendo dado pelos acontecimentos, “a quente”, Petra pôde esperar o fogo virar brasas, e assim caminhar sobre os acontecimentos, com a emoção modulada. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A cineasta coloca o espectador como figura privilegiada, na primeira fila de uma tragédia, traduzida nas cenas em que o povo perde. O país perde. O sistema constitucional é corrompido. Inegavelmente estamos falando de 2016, e não tem como, por mais que se distorça a realidade, para haver como falar da indicação do filme em um jornal que nunca, jamais, em tempo algum – quem sabe daqui a mais 40 anos – admitiu que aconteceu o que aconteceu: um golpe. 

Desta forma, beira o ridículo o medo de que o Oscar venha para o Brasil ironicamente a bordo de uma história em que a “mocinha” é a democracia, a luta da esquerda, e Dilma, a quem a direita, também com forte dose de ironia e sadismo, na reta final do julgamento do impeachment, denominou de “Querida”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Tentar trazer a possibilidade da vitória do filme de Petra para o campo da birra que o mundo tem por Bolsonaro, pelo seu desprezo à Amazônia e à sua preservação, é o mesmo que jogar areia nos olhos dos leitores. É pular toda a dor de uma significativa parcela da população que teve a sua vontade expressa, pelo voto, interrompida. Postar-se ao lado do atual secretário de Cultura, Roberto Alvim, é fazer eco com a ignorância. Espumando o seu despeito, o secretário disse que melhor seria que o filme “concorresse à categoria de ficção”. A mesma fala feita pelo PSDB de Fernando Henrique, a quem esta mesma mídia presta vassalagem. 

Desta vez ficou flagrante a dificuldade em lidar com uma dura realidade. A história do Brasil vai estar em discussão em todo o mundo. E não na versão que foi distribuída para uso doméstico, a de que um mar de corrupção subiu a rampa, tragou a presidente, que num deslize de pedaladas (farsescas e fabricadas) caiu do cargo. Desta vez, numa noite em que os olhos da maioria dos países estarão grudados na TV, lá estará estampada – para perder ou para trazer a estatueta para o solo brasileiro – as imagens da desconstrução do Brasil. 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO