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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Edital do Programa Nacional do Livro e do Material Didático prevê alterações em obras literárias

"A cara feia de Roberto Alvim, numa versão de “Goebbels patropi” foi extirpada do governo Bolsonaro, ainda que depois de muita pressão da comunidade judaica. Os princípios contidos na sua mensagem e nos editais das áreas de Cultura e Educação, porém, não são passíveis de demissão", escreve a jornalista Denise Assis

(Foto: Alan Santos - PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

A cara feia de Roberto Alvim, numa versão de “Goebbels patropi” foi extirpada do governo Bolsonaro, ainda que depois de muita pressão da comunidade judaica. Os princípios contidos na sua mensagem e nos editais das áreas de Cultura e Educação, porém, não são passíveis de demissão. São política de estado, praticadas nas falas truculentas do presidente, nos arroubos fascistas do filho Eduardo, e nas ameaças do general Heleno, que como um inspetor de escola passeando pelos corredores do estabelecimento de ensino, brande a todo momento a vara de marmelo, ameaçando: “um dia vocês podem perder a liberdade”. Que medo!

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E, até lá, para manter “a linha” anticomunista - diretriz do governo a que servem - não faltam burocratas. Ainda que de forma dissimulada. Cabe a eles colocar entraves às leituras “pouco recomendadas”. Basta uma passada d’olhos às primeiras páginas do edital do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), para detectar na página 8 do calhamaço de 80, as armadilhas onde podem ser pegos os autores “inconvenientes” e suas mensagens “perigosas”. No item: “Das condições de participação”, estão descritas as seguintes recomendações, aos que querem submeter obras literárias ao escrutínio dos burocratas responsáveis pela avaliação do PNLD.  

5.5. A partir de notificação ou convocação específica do Ministério da Educação, o editor se compromete a alterar a obra aprovada em caso de identificação de correções ou atualizações necessárias.  

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5.6. O editor poderá propor alteração e aprimoramento de conteúdos durante o ciclo de atendimento, caso em que o Ministério da Educação avaliará a pertinência da alteração do conteúdo proposto.  

5.7. As alterações de que tratam o subitem 5.5 serão submetidas à aprovação ou avaliação de profissionais ou equipes designadas pelo MEC. 5.8. Se as notificações e convocações de que tratam o subitem 5.5 não forem atendidas ou se os respectivos objetos não forem aprovados, o MEC e o FNDE poderão suspender a compra e a distribuição das obras escolhidas, caso em que serão distribuídas às escolas as obras em outra opção, conforme estabelecido na legislação vigente.

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Estamos falando de “o editor se compromete a alterar a obra aprovada em caso de identificação de correções ou atualizações necessárias”. Mas o que seriam “correções”, em uma obra de ficção? Uma obra literária? O edital trata a questão de forma ambígua, deixando margem a que o autor tenha que alterar ou subtrair trechos do conteúdo de sua obra, a fim de, sob pena de deixá-la capenga, ou desvirtuar a história contada, agradar ao MEC. É disto que se trata. Eis aí um precedente perigoso, quando falamos de obra literária ou de ficção.  

Certo é que extirpar do currículo dos alunos do Ensino Médio – jovens em formação e, portanto, na visão do governo, influenciáveis – toda e qualquer mensagem com proximidade com a esquerda, tornou-se uma obsessão. É perseguida desde o ainda ministro da Educação, Abraham Weintraub, até a gerente de Educação Básica de Rondônia, Rosane Seitz Magalhães, nomeada sob a indicação do secretário Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu no começo da gestão Coronel Marcos Rocha (PSL), fervoroso discípulo do “mito”, já de malas prontas para se bandear para o “Aliança” de Bolsonaro.

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Talvez por ter que “correr” de 43 livros fundamentais para a formação intelectual, Rosane tropeça no português, ao dirigir-se aos subordinados, numa mensagem aflita para que providenciem logo a retirada de circulação das “obras perniciosas” – (destaque meu).  

O secretário apressou-se em desmentir a ordem, mas dois áudios obtidos pelo jornal “Rondônia Dinâmica”, deixam ver que concordância verbal – que ela por certo aprenderia lendo mais - não são o forte de Rosane, e que o memorando-circular onde havia anexo a lista de livros a serem recolhidos pela Educação, existiu. Nas gravações é possível ouvir nitidamente, Rosane Seitz Magalhães dizer que a intenção do recolhimento dos livros era evitar "uma turbulência”.

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E se evitar turbulência era a ideia, o efeito foi o de gasolina nas labaredas. Se antes o assunto estaria restrito ao estado de Rondônia, com o seu português claudicante e os títulos de peso retirados de circulação, Rosane o transformou em tema nacional. Agora, resta-nos ficar atentos sobre as perseguições e “alterações” a obras, alvo do edital do PNLD, conforme trecho demonstrado acima. A propósito, antes que eu me esqueça, o nome disto é “censura”!

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