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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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Eleitor vai escolher quem souber o que fazer

Benedita da Silva é, disparada, o melhor nome para devolver ao carioca a cidade que ele tanto ama.Tem experiência administrativa, nunca se envolveu em corrupção, tem um olhar humano sobre a sociedade que poucos possuem. Mas é de campanha política que estamos falando

(Foto: Benedita da Silva - artigo Celso Raeder)
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Como profissional de marketing e comunicação, jamais deveria me filiar a qualquer agremiação política, pois isso limita – e muito – o meu campo de trabalho. Mas o fato é que sou filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1987, nunca participei de nenhum governo em qualquer esfera da administração pública, e não pedi nem devo favores a ninguém. Portanto, me sinto legitimado a não dar explicações ideológicas sobre o que fiz nestes mais de 30 anos atuando em campanhas políticas. Mas posso garantir, de antemão, que não me arrependo de nada do que fiz. 

Dada as devidas explicações, o motivo que me traz aqui é o programa de governo da candidata a prefeita da cidade do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, que acabei de receber em PDF via Whatsapp. Meu Deus! É um tal de “vamos criar’, “vamos debater”, “vamos fazer pacto social”, “vamos promover fórum”, “vamos formar conselhos”. “vamos formular planos integrados”, “vamos realizar um diagnóstico socioeconômico”, como se o carioca tivesse tempo para esperar a burocracia petista decidir o que fazer sobre o seu destino. 

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No programa de governo da Bené, cujos marqueteiros da campanha esquecem que a vitória não ocorre segregando a parte da cidade asfaltada, a sensação que se tem é de estarmos diante de uma verdadeira revanche. Chegou a hora da vingança das populações oprimidas, e que os negros, gays e moradores de rua tomem conta da cidade. Me desculpe minha querida deputada, mas com esse discurso você não chega nem no segundo turno. 

Não há nada de prático nem de efeito imediato naquele plano de governo. No item antirracismo, por exemplo, por que não substituir aquela verborragia pelo compromisso de instalar, dentro dos batalhões da PM na capital, um comitê de defesa dos Direitos Humanos para tomar ciência e avalizar as operações policiais nas comunidades, com a devida análise de riscos e eficácia? Os adversários podem até usar essa decisão do PT para dizer que a proposta visa informar aos bandidos sobre as operações policiais. Mas sabemos, historicamente, que quem antecipa essas ações para o crime geralmente veste uma farda. Esse comitê pode, ainda, realizar vistorias periódicas nos pátios dos quartéis, contando com o apoio do Ministério Público, para tentar entender porque cabos e sargentos dirigem, hipoteticamente, carros que custam mais de dez anos dos salários que recebem. 

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O Programa Emergencial de Emprego é outra parolagem inútil. Que gestor público precisa de fóruns, seminários e conferências para descobrir que o comércio de rua faliu por falta de segurança pública? Por que a carta-compromisso da Benedita não decreta o fim da máfia das multas e reboque, redirecionando o contingente da guarda municipal empregada para enriquecer os donos dos pátios, na garantia da segurança dos bares e restaurantes de Vila Isabel, de Copacabana e do Centro da cidade? 

No capítulo dedicado a geração de empregos em caráter emergencial, a futura administração Benedita da Silva propõe o emprego da mão-de-obra local para limpeza de ruas e pequenas obras necessárias no dia a dia. Por que não juntar essa importante iniciativa ao programa social que prevê mais uma bolsa de repasse de recursos para populações carentes, que também está previsto no seu plano de governo? Explicando melhor: que tal formalizar uma parceria, novamente com o Ministério Público, substituindo mandados de prisão por pensão alimentícia não paga, em contrapartida por serviços prestados ao município? 40% do salário do pai inadimplente com suas obrigações seriam pagos diretamente para a manutenção alimentar dos filhos que abandonou. Simples assim. Essa é uma medida central na transformação das políticas sociais do PT, uma vez que a sociedade já não tem mais capacidade de suportar as várias políticas de transferência de renda, onde a classe média paga e os banqueiros continuam imunes em seus ganhos de capital. 

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O Rio de Janeiro, que sempre foi vanguarda política no Brasil, não poderia cobrar das Forças Armadas a obrigatoriedade de dar uma profissão aos jovens que são recrutados compulsoriamente para o serviço militar? Capinar quintal de tenente, e pintar de cal o muro do quartel é uma perda de tempo para quem precisa estar preparado para sobreviver. Se durante o ano em que lá estão, esses rapazes aprenderem mecânica de automóveis e motocicletas, por exemplo, terão como se sustentar pelo resto da vida. 

Sobre as políticas de acessibilidade de pessoas deficientes, só o que encontro é a responsabilização ao falido sistema de transporte público. De acordo com o programa de governo apresentado aos eleitores da capital fluminense, temos hoje 18 mil alunos com necessidades especiais que precisam de meios de locomoção para suas atividades físicas e educacionais. Não é um número tão grande assim, que possa onerar substancialmente os cofres públicos, se a prefeita Benedita da Silva firmar um convênio com a Uber, que abrirá mão da taxa de serviços que cobra para atender a este transporte específico. Vai resolver o problema rápido, sem precisar beijar a mão do Jacob Barata, o todo poderoso da Fetranspor. 

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Ainda sobre políticas públicas para a pessoa com deficiência, não há no plano de governo da Bené uma única linha sobre ações específicas para a cirurgia de catarata, doença que o bispo Marcelo Crivella entregou aos cuidados da sua diligente colaboradora Márcia, aquela que resolve tudo num telefonema. Amiga Benedita, não adianta rebuscar na linguagem, quando o povo quer saber é se não vai mais rolar sacanagem na fila do Sisreg. 

Na saúde, pouco se fala sobre o câncer em metástase chamado “organizações sociais”, entidades muitas vezes criadas por políticos e empresários pilantras, com sedes em fundos de quintal, que recebem milhões de reais para a prestação de péssimos serviços hospitalares para a população. Senhor marqueteiro da Bené, pode incluir na sua pauta a volta dos cubanos para os postos e clínicas da família no Rio de Janeiro, que você vai angariar muito mais votos. E se quer mais uma deixa, proponha a criação do Hospital do Trânsito, exclusivo para atendimento às vítimas de acidentes de carros, motos, coletivos e caminhões, financiado com recursos que a prefeitura vai cobrar do Detran, órgão do governo do estado que recebe muito dinheiro sem qualquer contrapartida. 

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Na mesma linha do “vamos fazer um diagnóstico” estão vários outros setores que precisam de decisões já no primeiro dia de governo Benedita no Rio de Janeiro. Precisa de estudo para saber que milhares de crianças no município só se alimentam com o prato de comida que recebem na escola? Por que, depois da aula, esse aluno não vai para casa levando o seu jantar numa quentinha? Precisa de fórum envolvendo especialistas em intermináveis debates para entender isso? 

Um dos meus maiores prazeres é a pescaria. E fiquei muito animado quando vi no programa da Benedita um capítulo inteiro dedicado ao setor, envolvendo ainda políticas de preservação ambiental e segurança alimentar. Li, reli, não me conformei e passei os olhos mais uma vez, e não encontrei nada relacionado à Baía de Guanabara e às lagoa da Barra da Tijuca, Recreio e Vargens. Como assim? Não tem nada planejado para punir as grandes corporações imobiliárias que transformaram estes cartões postais em esgoto a céu aberto? E eu cheio de esperança de ver um porto pesqueiro saindo do Complexo da Maré, rumo a recifes artificiais construídos na Baía de Guanabara, trazendo o pescado que vai matar a fome de milhares de alunos das escolas públicas municipais. Vocês acham, sinceramente, que o eleitor vai votar num governo de plenárias regadas a cafezinho e biscoito? Dá logo a vara e ensina a pescar, pô!

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Apesar de tudo, Benedita da Silva é, disparada, o melhor nome para devolver ao carioca a cidade que ele tanto ama. Tem experiência administrativa, nunca se envolveu em corrupção, tem um olhar humano sobre a sociedade que poucos possuem. Mas é de campanha política que estamos falando. E, nesse quesito, os adversários têm muito mais a oferecer em matéria de projetos de curto prazo. Se levar o debate para o proselitismo das assembleias de classe, como pressupõe seu programa de governo, vai continuar deputada. 

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